Formas de Caridade

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Aspectos Gerais da Caridade: 4.1. A Família Universal; 4.2. Origens da Caridade; 4.3. A Caridade Complementa a Justiça. 5. A Caridade Material: 5.1. Esmola; 5.2. Doação de Roupas e Alimentos; 5.3. Doação de Recursos Financeiros. 6. Caridade Moral e Espiritual: 6.1. Doar Tempo com o Esquecimento do "Eu"; 6.2. Sacrifício Total da Liberdade Humana; 6.3. Caridade Desconhecida, um Exemplo. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

A caridade é muito falada e discutida não só no meio espírita como também em todas as religiões. Procuramos anotar algumas formas materiais e espirituais de caridade. É possível, contudo, distinguir uma forma da outra? Onde está posta a verdadeira caridade?

2. CONCEITO

Formas. Aspectos de uma coisa abstrata; modos de apresentar um objeto.

Caridade. Amor a Deus e ao próximo é uma virtude que, com a justiça, regula o procedimento moral do homem para com os outros seres e, especialmente, para com os outros homens.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A palavra caridade é muito ventilada no meio religioso. O Espiritismo, no seu tríplice aspecto de ciência, filosofia e religião, não foge à regra. Convém, contudo, prestarmos atenção ao seu uso, para que não caia no lugar-comum como sói acontecer com o termo Evangelho que, de tanto ser usado, acabou perdendo o seu sentido original de boa nova trazida por Jesus Cristo. O Espiritismo, como libertador de consciências, traz-nos sempre novas interpretações de temas antigos e atuais. Isto é feito pela comunicação dos Espíritos superiores, que não medem esforços para descortinar novos horizontes aos habitantes deste planeta de provas e expiações. O incentivo à prática das virtudes evangélicas é para que os seres humanos se libertem do mal. Sem esses avisos salutares, a humanidade levaria muito mais tempo para conquistar novos postos de evolução moral e espiritual.

4. ASPECTOS GERAIS DA CARIDADE

4.1. A FAMÍLIA UNIVERSAL

De acordo com o cristianismo, Deus é o pai, o Criador do universo. Em seguida, temos Jesus como o filho predileto e irmão maior. Posteriormente, estão alinhados todos os outros seres humanos. Como cada um de nós faz parte desta família universal, amar a Deus não pode ser feito sem que amemos o nosso próximo. Observe que a definição de caridade diz exatamente isso, ou seja, "amar a Deus e ao próximo". Por essa razão, percebemos que somente fazendo bem ao próximo é que podemos dizer que amamos a Deus. Expressar simplesmente as palavras "eu amo a Deus" não necessariamente retrata o amor verdadeiro a Deus. É preciso ratificá-lo em pensamentos, palavras e atos.

4.2. ORIGENS DA CARIDADE

As origens da caridade estão assentadas nos costumes e nos atos de Jesus Cristo. Antes de sua vinda, as mães vendiam os seus filhos, os velhos eram abandonados em praça pública, a mulher tratada como escrava. Com a sua presença, um novo clarão apareceu, pois os seus exemplos de obediência ao Pai mudaram a mentalidade da humanidade e fizeram com que cada pessoa pensasse em auxiliar o seu próximo, porque também poderia estar nesta situação num futuro próximo. "O Mestre não se limita a ensinar o bem. Desce ao convívio da multidão e materializa-o com o próprio esforço. Cura os doentes na via pública, sem cerimônia, e ajuda a milhares de ouvintes, amparando-os na solução dos mais complicados problemas de natureza moral, sem valer-se das etiquetas de culto externo". (Xavier, 1980, p. 72)

4.3. A CARIDADE COMPLEMENTA A JUSTIÇA

A caridade, embora possa ser estudada isoladamente, ela aparece ligada à justiça. E há necessidade de estarem juntas, porque a caridade complementa a justiça. Como se explica? A justiça é racional e fria; na caridade, há o exercício do sentimento do coração. Allan Kardec diz que "o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: "Amai-vos uns aos outros, como irmãos"". (Kardec, 1995, pergunta 886)

5. A CARIDADE MATERIAL

5.1. ESMOLA

A esmola faz parte da tradição cristã. Vendo uma pessoa estendendo a sua mão, tiramos uma moeda do bolso e damos ao nosso próximo. Este dinheiro é útil porque pode aliviar a sua fome. Francisco de Vitória diz que "Quando alguém está morrendo de fome, a esmola física é superior à esmola espiritual". É preciso verificar, entretanto, se a doação do dinheiro não está queimando a mão de quem o recebe. Jacques Delille, por outro lado, lembra-nos de que "A caridade que se faz apenas por meio da esmola é um meio de conservar a miséria".

5.2. DOAÇÃO DE ROUPAS E ALIMENTOS

Os Centros Espíritas, de uma maneira geral, oferecem uma oportunidade de praticarmos a caridade material, pois têm um departamento, denominado de Assistência Social, que fornece roupas e alimentos aos mais necessitados. Para suprirmos o estoque, pegamos algumas peças de roupas que não usamos mais, compramos alguns quilos de alimentos e levamos ao Centro Espírita que freqüentamos. Neste quesito, cabe a lembrança de que "a mão esquerda não deve saber o que a direita fez".

5.3. DOAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS

Muitos chefes de família bancam a faculdade de um parente, de um vizinho. Esta bolsa de estudo tira o seu próximo da ociosidade e o prepara para uma profissão. É uma ação meritória. Contudo, para evitar a intromissão do orgulho e da presunção, reflitamos com Thomas A. Kempis: "Muitas vezes parece caridade o que não passa de amor-próprio, porque a inclinação da natureza, a vontade própria, a esperança da recompensa, o gosto da comodidade, rara vez nos abandonam. Quem possui caridade verdadeira e perfeita, em nada busca a si próprio, pelo contrário, o que deseja apenas é que Deus seja glorificado em todas as coisas". 

6. CARIDADE ESPIRITUAL

6.1. DOAR TEMPO COM O ESQUECIMENTO DO EU

Doar dinheiro, roupas e alimentos não é tarefa complicada; basta que tenhamos de sobra. Geralmente, não representa sacrifício algum. Doar tempo em beneficio do próximo, com o esquecimento do eu já exige abnegação. Quantas não são as vezes que nos requisitam para uma atividade caritativa e alegamos que temos outra coisa para fazer? Quantas não são as vezes que nos escondemos com medo que descubram o nosso eu? "Amemo-nos uns aos outros e façamos a outrem o que quereríamos que nos fosse feito", eis o fundamento de toda a religião, de toda a moral.

6.2. SACRIFÍCIO TOTAL DA LIBERDADE HUMANA

A verdadeira caridade implica o sacrifício total da liberdade humana. Tal qual Jesus se sacrificou na cruz, o mesmo deveríamos fazer em nossos dias. É o sacrifício de uma indolência, de uma má recepção, de uma reprimenda. Há um grande mérito em saber calar para deixar falar um mais tolo; saber ser surdo quando uma palavra de zombaria escapa da boca escarnecedora; saber obedecer aos imperativos da vontade de Deus, quando nos obrigam a fazer algo despropositado.

6.3. CARIDADE DESCONHECIDA, UM EXEMPLO

O Espírito Néio Lúcio, no capitulo 20, de Jesus no Lar, dá-nos um exemplo vivo de como se pode fazer caridade sem ter dinheiro. Conta a história de um indivíduo, pai de família, que tencionava praticar caridade, mas não tinha dinheiro. Dava, contudo de si mesmo, quanto possível em boas palavras, gestos pessoais e estímulo a quantos se achavam em sofrimento e dificuldade. Extinguia pensamentos inferiores, refreava a cólera, fazia silêncio diante de uma ofensa; chegava, inclusive, a retirar detritos e pedras das ruas que porventura oferecem perigo para os transeuntes. Temia o julgamento das autoridades celestes, mas quando desencarna é aureolado por brilhante diadema, que representava a guerra contra o mal em que se fizera valoroso empreiteiro.

7. CONCLUSÃO

Recordando os avisos espirituais, podemos dizer que a caridade se faz de diversas maneiras, ou seja, por pensamentos, palavras e atos. Saibamos, assim, pensar bem para que as nossas palavras sejam sãs, a fim de que possam ser transformadas em atos puros de bondade na sociedade.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

XAVIER, F. C. Jesus no Lar, pelo Espírito Néio Lúcio. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1966.

XAVIER, F. C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.

São Paulo, setembro de 2009