Crise



“Toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança.” (Espírito Emmanuel)

1. Introdução

O que significa crise? Qual a sua etimologia? Há diferença entre crise e crítica? Como explicar a crise econômica? Como analisar a crise diante do Espiritismo?  

2. Conceito  

Crise. Do grego krisis, do mesmo étimo do verbo krino, separar, depurar, como se faz com o ouro. O Dicionário Etimológico de Antenor Nascentes dá também os significados de momento decisivo, separação e julgamento.

3. Considerações Iniciais 

Falamos de “crise” em relação a sujeitos, a formas de vida e, também, a um sistema ou “esfera” de ação.  

Na antiguidade, crise tinha o sentido de julgamento.  

A palavra crise era usada na medicina para expressar um limite entre a vida e a morte. Diz-se da fase decisiva de uma doença. Mais especificamente, um momento de desequilíbrio sensível.  

Passou para o direito, a economia, a filosofia e, inclusive, para a religião.

Entre os pesquisadores, há consenso de que a crise leva à ruptura com o estado anterior. O novo rumo pode ser de melhora ou de piora.  

Tanto na medicina como na ciência militar, crise exprime o momento de viragem, dificilmente situável, em que se tem lugar a decisão sobre a vida ou a morte, sobre a vitória ou sobre a derrota.  

4. Crise: Medicina, Economia e  Política 

4.1. Crise na Medicina 

Nome com que se designa qualquer fenômeno nitidamente brusco que se dá no organismo. A mudança brusca pode ser de melhora ou de piora. A pneumonia, por exemplo, é uma das afecções que terminam por crise. A crise pneumônica consiste numa queda rápida da temperatura, pondo fim à curva final da doença, acompanhada em regra de sudação abundante e grande emissão de urina.  

4.2. Crise Econômica  

Em economia, a crise está ligada aos ciclos econômicos, repentinas perturbações da vida econômica, que se fundamentam na insuficiência de produção ou na superprodução, como a que ocorreu em 1929. Há as crises gerais e as crises locais. As crises gerais são devidas ao excesso de produção em relação ao consumo. As crises locais podem resultar de um déficit na colheita ou de especuladores na bolsa.  

4.3. Crise na Política  

Segundo Aristóteles, as atividades de julgar (krisis) e governar (kratein) transformam o indivíduo em cidadão. Nesse sentido, a lei é produto da crise e da divisão da vida ética. O fim da divisão ou conflito se dá pelo julgamento. Nesse caso,  julgamento legal dá o fundamento do status do cidadão político, que é ele mesmo a separação entre o oikos (família) e a polis (cidade).  

4. Aspectos Filosóficos  

5.1. Crise e Crítica  

Na antiguidade, a palavra grega krisis não distingue entre crise e crítica. Os gregos viam o sentido filosófico da crise como juízo de valor. Hoje, poderia se encaixar no campo da esfera crítica.  

Na Idade Média, esses dois termos divergem.  

No iluminismo esses dois usos divergem ao mesmo tempo em que continuam sobrepostos.  

5.2. Épocas Orgânicas e Épocas Críticas

As épocas orgânicas repousam em crenças bem estabelecidas; as épocas críticas dão início à ruptura das crenças estabelecidas. Exemplo: a crise renascentista é a passagem da época medieval para a época moderna.  

Problema: a época orgânica pode se transformar em utopia. Pressupõe-se que, como um passe de mágica, as incertezas, as tensões e as injustiças se dissiparão e se transformarão no mito da Idade de Ouro.  

5.3. Crises de Maturidade 

As crises de maturidade são deflagradas por razões externas e internas. Elas se exprsssam inter alia, que são as tentativas de reconciliação com a imagem do mundo. Quando o sujeito entra em conflito com as imagens que tem do mundo, ele é obrigado a propor mudanças em suas atitudes. O caos não se sustenta por muito tempo. Por isso, o sujeito busca incessantemente soluções novas e radicais da imagem do mundo de nível mais elevado.  

6. Consolo Espírita 

6.1. Crise Familiar

Numa crise familiar, o princípio da reencarnação assume papel fundamental. Ele convoca os interessados a refletirem sobre um novo campo de observações, impelindo-os à tolerância, sem a qual não conseguirão o entendimento para cumprir a missão pela qual se propuseram a realizar neste planeta de provas e expiações. 

5.2. Paciência diante das Crises  

Contradições, crises e incertezas surgem em nossa existência, abalando as estruturas de nossa defesa. A recomendação evangélica é para que tenhamos paciência, se quisermos possuir nossa alma. 

No âmago da crise, da confusão mental, a tentativa de suicídio se nos apresenta com facilidade, em virtude do monoideísmo criado pelos nossos pensamentos negativos. Temos de parar e refletir: 1º) Deus não coloca fardos pesados em ombros frágeis; 2º) não há, no mundo, duas pessoas iguais; 3º) somos postos no devido lugar para a construção de nosso destino; 4º) o sofrimento é inerente à imperfeição. 

5.3. Crises, pelo Espírito Emmanuel

Na lição 58 “Crises” do livro Vinha de Luz, o Espírito Emmanuel comenta o trecho evangélico “Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora.” – Jesus. (JOÃO. 12:27.)

Lembra-nos de que o Mestre ia provar o abandono dos entes amados, o apodo na via pública, o suplício e a cruz, mas sabia que ali se encontrava para isto, consoante os desígnios do Eterno.

Pede a proteção do Pai e submete-se na condição do filho fiel aos sofrimentos que lhe foram assinalados.

“Quando pois te encontrares em luta imensa, recorda que o Senhor te conduziu a semelhante posição de sacrifício, considerando a probabilidade de tua exaltação, e não te esqueças de que toda crise é fonte sublime de espírito renovador para os que sabem ter esperança”. 

7. Conclusão 

A crise é a época de exame para verificar o proveito no trato da experiência. É ela que nos faz transcender o estado atual de evolução. Sem ela permaneceríamos chafurdados no pântano dos pensamentos retrógrados.   

8. Bibliografia Consultada 

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]. 

LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Rio de Janeiro: Verbo, 1990. 

OUTHWAITE. W. e BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1996. 

XAVIER, F. C. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel. Brasília: FEB, 2012.

São Paulo, abril de 2015.