trêsmilemaisninguém

Três mil e mais ninguém

É ruim viver no exílio. Pior ainda nesta cidade imbecil em que se transformou São Paulo. Também vou a Campinas para ver o Bugre no Brinco, domingo, na estréia da série C de 2008. Há bugrinos que moram muito mais longe, mas quem puder, deve ir. Esse primeiro jogo vale muito.

Li não me lembro onde que o Madureira é o azarão do grupo, com Guarani e Ituano os favoritos.

Que o Bugre é favorito, não tenho dúvida. Mas o Madureira não é, nem de longe, o azarão. É time entrosado, que vem jogando bem há bom tempo. Está melhor hoje do que no último Campeonato Carioca. Vencê-lo aqui é vital.

O último jogo do Bugre na primeira fase será com o mesmo Madureira, lá no Rio. Dá para perceber o tamanho do risco se dependermos desse último resultado para seguir em frente...

Semana passada estourou a notícia de que os salários no clube estão dois meses atrasados.

Insisto: é ilusão imaginar que basta a iniciativa da direção para manter todos os compromissos em dia.

É ingenuidade supor que os salários estão atrasados porque a diretoria não foi atenta ao problema. É óbvio que a direção deve ter dado nó em pingo d'água para não deixar isso acontecer. Óbvio! Mas aconteceu. Por quê?

Simples e cru: porque o Bugre, além de não ter receitas suficientes, também não tem crédito.

E não tem crédito porque é um clube em processo de desgaste crescente. Está queimado na praça. Sozinho, enfim.

E daí? O que fazer?

O que se deve fazer é exatamente o que se está fazendo: tocar o bonde como for possível, com todos os desconfortos da falta de dinheiro e, ainda, fazer o milagre de montar uma equipe profissional de boa qualidade disposta a dar o sangue mesmo com salários baixos e atrasados.

Jogador ou funcionário do Bugre que não estiver disposto a enfrentar essa realidade deve ir embora. Um deles já foi. Nem deveria ter vindo. Não serve para o Guarani real.

O Guarani real não pode temer sequer a derradeira hipótese para sair da crise: fechar o departamento de futebol profissional para não gerar novos encargos.

Parar de gerar encargos pode vir a ser a única saída, mesmo após a venda do patrimônio. E começar tudo outra vez.

Começar do começo. De bem mais abaixo do que hoje.

Mas isso se a torcida deixar.

Que torcida?

Os três mil abnegados que sempre vão aos jogos no Brinco.

Alguém pergunta: E aquelas 30 mil pessoas que lotaram o Brinco pela última vez, na série B de 2005?

Estão por aí. Elas não fazem a diferença. Só entrarão na dança se os três mil abnegados forem buscá-las a laço.

Três mil pessoas. Esse é o tamanho da força do Bugre.

Se o Guarani tiver futuro, sua história será a escrita por essas três mil pessoas. E por mais ninguém. (03/07/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso