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O Brinco não é elefante branco

Levamos uma coça lá em Aracaju! Dois a um para o Confiança neste domingo, 19 de outubro de 2008. Pelo que pude ler e ouvir no dia seguinte, o Guarani jogou bem. Não pude formar opinião durante o jogo, pois a conexão com as rádios pela internet estava um horror. Eu tenderia a dizer que os dois gols marcados pelo Confiança de bola parada foram apenas dois momentos de bobeira da nossa defesa e não tanto de méritos do adversário. Calo-me, porém, diante das imagens editadas pelo site Planeta Guarani, ao ver que o segundo gol sergipano foi um golaço. De bicicleta!

Levamos uma coça lá em Aracaju! Dois a um para o Confiança neste domingo, 19 de outubro de 2008. Pelo que pude ler e ouvir no dia seguinte, o Guarani jogou bem. Não pude formar opinião durante o jogo, pois a conexão com as rádios pela internet estava um horror. Eu tenderia a dizer que os dois gols marcados pelo Confiança de bola parada foram apenas dois momentos de bobeira da nossa defesa e não tanto de méritos do adversário. Calo-me, porém, diante das imagens editadas pelo site Planeta Guarani, ao ver que o segundo gol sergipano foi um golaço. De bicicleta!

Eu tenho o maior respeito por gols de bicicleta. Acho, inclusive, que time que marca gol de bicicleta deve ser declarado vencedor independentemente do placar. Pode ser dez a um. Se esse unzinho for de bicicleta, deve-se dar os três pontos para o time que fez a façanha. No mínimo, gol de bicicleta deveria ser como caçapa de três pontos no basquete. Não há gol mais bonito do que gol de bicicleta e talvez não haja mais difícil.

Desde moleque eu acho gol de bicicleta coisa de mágico, de malabarista, de trapezista, de supercraque, de gênio. Tentei milhares de vezes marcar um gol de bicicleta em jogadas ensaiadas em peladas com amigos de rua. Nunca consegui acertar na meta! O mais comum era espirrar o taco voador. É certo que nunca fui bom de bola, mas tantas foram as tentativas ensaiadas que ao menos a estatística teria de se manisfestar uma vez em meu favor. Coisa nenhuma!

Então, tiro o chapéu para o Confiança, apesar da expulsão espírita de Juari, que não fez nada para merecer sequer cartão transparente, quiçá o vermelho. Ele fez muita falta e acho que aquele árbitro duma figa sabia muito bem porque tinha de expulsar um bugrino naquele momento do jogo. Mas deixemos isso pra lá.

Temos de nos entender com o Atlético de Goiânia neste sábado, 25 de outubro, no Brinco. Isso é o que importa agora e é sobre o papel da torcida que quero falar.

Vocês viram como estava abarrotado o estádio de Aracaju? Oficialmente, havia ali mais de 14 mil pessoas. Oficialmente. É o dobro do recorde de público no Brinco nesta série C de 2008, na casa de 7 mil pessoas, também oficialmente. Li no Planeta que a imprensa de Aracaju calculou em cerca de 20 mil pessoas o público do jogo. Ora, bolas!

De acordo com o IBGE, a população estimada de Aracaju em 2007 era de 461 mil habitantes. É uma cidade menor do que Sorocaba, portanto. Campinas teria naquele mesmo ano 1 milhão e 39 mil habitantes. Ou seja, Campinas é do tamanho de duas Aracajus! Nem levo em conta a Região Metropolitana de Campinas!

Como se explica aquele estádio abarrotado? Uma parte desse fenômeno se deve certamente ao prestígio do Bugre, talvez mais alto por lá do que cá. Afinal, não é toda hora que um campeão brasileiro aparece para jogar em Aracaju.

Vocês sabem quantos times tem a primeira divisão profissional do campeonato sergipano? Só quatro: Sergipe (campeão de 2008), Confiança (vice), São Cristovão (3º) e Itabaiana (4º). Apenas Sergipe e Confiança entraram na disputa da série C. O Sergipe caiu fora na primeira fase. Sobrou o Confiança. É possível que parte da torcida do Sergipe agora também vá ao estádio em apoio ao Confiança, pois geralmente no Nordeste prevalece o espírito de corpo em favor dos times regionais. Rivalidade como se vê entre Guarani e Ponte Preta é coisa rara. A exceção está em Salvador, onde as paixões por Vitória e Bahia abafam os amores regionais.

Do Recife, por exemplo, lembro-me daquele antológico jogo pela série B do Brasileiro, em 26 de novembro de 2005, em que o Náutico, com 11 jogadores, foi derrotado pelo Grêmio, com sete, que assim subiu para a série A. No mesmo dia e hora, na mesma cidade, realizava-se outro jogo decisivo, em que o Santa Cruz carimbava seu acesso à série A derrotando por dois a um a Portuguesa de Desportos. Pois enquanto o Náutico ainda segurava o empate no campo dos Aflitos – o que lhe valeria o acesso –, lá no Arruda, a torcida do Santa Cruz gritava: “Só dá Per-nam-buco! Só dá Per-nam-buco!” Era uma alusão ao duplo acesso pernambucano que se vislumbrava.

Coisa desse tipo jamais aconteceria em São Paulo, no Rio, em Goiás ou no Rio Grande do Sul. Em Campinas, nem pensar! Alguém poderia imaginar um pontepretano gritando “vamo subi Bugrêêê!”? Aqui entre nós, temos de contar somente com nossos próprios pulmões se quisermos empurrar o Guarani. Aliás, de resto, só tem vento contrário.

Mas digamos que Sergipe em peso agora só torce pelo Confiança e que aquelas 14 mil ou 20 mil pessoas que estavam no jogo do Bugre são a somatória de todas as energias do Estado em favor de seu único represente na série C. Mesmo assim, é muita gente no campo se comparado com o recorde pífio de 7 mil bugrinos no Brinco. Sete mil bugrinos no Brinco é de doer! É muito pouco!

Há muita gente à espera de tempos mais gordos para voltar ao Brinco. Isso é inadmissível! Ou os bugrinos reticentes saem de casa agora ou será melhor que arrumem outro time para torcer. Aliás, tem um Guarany lá em Sergipe, na cidade de Porto da Folha.

É agora ou nunca! O jogo com o Atlético GO é decisivo neste campeonato. Acho que cada bugrino disposto a ir ao Brinco neste sábado deve assumir o compromisso de arrastar mais três ou quatro. Todos os bugrinos que batem no peito de orgulho por fazer parte da "maior torcida do Interior" têm de mostrar agora que isso é verdade! Somos ou não somos a maior torcida do Interior?

Sete mil é muito pouco. É nada! Não enche nem metade daquele estádio de Aracaju. O Brinco nunca foi elefante branco. Cabe a nós impedir que venha a ser. (23/10/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso