Transformar assunto em fato
Uma boa notícia: Leonel diz que o Bugre vai gerar suas próprias notícias e que o time para a série C terá de ser montado com alguma dose de ousadia e risco.
Quanto mais eu ouço as entrevistas do presidente Leonel Martins de Oliveira, mais gosto dele no comando do Bugre nas circunstâncias atuais. Leonel é o próprio anti-climax da mídia, que o sempre aguarda ansiosa por bombas, mas recebe declarações serenas sobre o óbvio. Óbvio, aliás, que a mídia não se compromete a verificar nem a explicar, pois lhe faz mais bem à saúde o ambiente de boataria e confusão.
Nesta segunda-feira, 28 de abril de 2008, depois de cerca de 15 dias longe fisicamente de Campinas, Leonel deu entrevista coletiva em que, mais uma vez, despejou um iceberg nos que esperam do Guarani “providências já” a respeito do time para a série C do Brasileiro, da formação da nova direção de Futebol, da negociação sobre a venda do Brindo de Ouro e dos trâmites com a Prefeitura sobre a possível participação do clube na construção de uma certa “Arena Multiuso” – ou “multivoto” em favor das forças políticas ao redor de um certo “Dr.” Hélio, ao que parece prefeito da terra.
Na conversa, o presidente bugrino não fez mais do que o possível: anunciou o nome do novo diretor de Futebol, ou melhor, confirmou no cargo João Roberto Secco, quadro do próprio clube nessa função desde meados do Campeonato Paulista. A demora para esse anúncio não se justifica, com o que Leonel parece agora concordar, a julgar pelo conjunto das suas afirmações.
O presidente bugrino disse o que é preciso dizer: o dia-a-dia financeiro do Bugre continua barra pesada; as negociações sobre a venda do patrimônio são complexas e têm muito chão pela frente; a proposta do prefeito foi feita, mas depende de variáveis sobre as quais o Guarani não tem influência; e a venda do patrimônio só será costurada quando e se as condições forem tais que resolvam definitivamente todos – eu repito, todos – os problemas que mantêm o clube submerso em crise.
O mais importante para os ouvidos da torcida, contudo, é que Leonel disse que o time para a série C terá de ser montado com alguma dose de ousadia e risco e que, neste momento, a prioridade está na contração de um técnico que concorde em trabalhar nas condições que o Bugre pode oferecer. E ponto. Deixemos, então, que Leonel e seus pares cuidem do caso e cobremos deles daqui para frente informações mais constantes e precisas sobre o andar da carruagem.
Pois foi nesse sentido a declaração de Leonel que julgo mais importante naquela entrevista, a respeito dos novos moldes para o funcionamento do sistema de comunicação do Guarani, que tem navegado a reboque da boataria. Disse o presidente que, doravante, as informações sobre o Bugre chegarão ao público por um único caminho: serão geradas no âmbito do clube e divulgadas pela assessoria de imprensa. Assim, sabe-se desde já que João Roberto Secco não terá nada a dizer ao pé-do-ouvido de nenhum repórter neste período de muita especulação sobre contratações e dispensas de jogadores. Em outras palavras, se não houver novidades, não haverá notícia. Correto. Isso, no entanto, não pode ser confundido com silêncio.
As rotinas de um clube em crise como o Guarani mantêm a direção com as mãos mais tempo atadas do que livres para se trabalhar. Resulta daí uma escassez de notícias que, na maioria das vezes, é interpretada como prova de inércia e inaptidão administrativa. Esse tipo de conclusão simplista é moda na imprensa hoje em dia, época em que a apuração está em desuso e se publica qualquer bobagem com cara de senso comum. Para que essa aridez do ambiente não gere mal-entendidos em prejuízo dos interesses do Bugre é necessário abastecer continuamente o público com fatos. E fatos, no contexto atual do clube, são principalmente explicações. Apenas dois exemplos:
• É justo que o Guarani mantenha o compromisso de não citar, por enquanto, os interlocutores da negociação sobre a venda do patrimônio, mas fará bem ao ânimo da comunidade bugrina saber que tipo de empresas e/ou pessoas são essas e quantas propostas estão, de fato, sobre a mesa com algum desenho mais ou menos traçado. É possível expor alguns desses traços? Não é necessário entrar em detalhes. O mais importante é retirar desse assunto a cina de segredo, admitindo-se o básico para que o rumo dos acontecimentos seja minimamente percebido.
• Idem para o caso da proposta da Prefeitura: qual seu desenho geral, o que ela tem de interessante para o Bugre e onde a roda pega? Talvez neste caso baste uma reafirmação formal de que não há absolutamente nada de concreto, exceto a disposição do clube em ouvir qualquer coisa capaz de transformar o assunto em fato.
O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso