sealguémpudessedizeraeles...

Se alguém pudesse dizer a eles...

Peço licença para usar esta coluna hoje de um modo meio atabalhoado. Quero dizer algo que está engasgado na garganta e, por isso, vai sair de supetão: Concordo com a avaliação inicial do técnico Jair Picerni a respeito do nosso time. O principal problema do elenco do Guarani é psicológico. Não é a qualidade em si de cada um dos jogadores que lá estão, sejam os prata-da-casa, sejam os recém-chegados.

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O jogo com o Sertãozinho no domingo, 17 de fevereiro de 2008, provou isso. Pelo menos para mim. Aquela fome de bola depois do apagão; aquela vontade de provar que é bom do Juliano, com aquela maldita pedalada que o fez perder o pique e a bola; o destempero do jogador ao ser abordado por um repórter; todo aquele clima de fim de jogo que não acabava nunca mostraram que o nosso problema não era tanto o futebol jogado, mas a psique do time.

O problema é o modo como conjunto de pessoas que trabalham no time estava a ser tratado e trabalhado pelo técnico anterior e – é bom que se diga – também pelo diretor Hernandes. Tanto um como outro sempre se referiam a esse conjunto de pessoas como pífio, fraco – um grupo de medíocres à altura da mediocridade salarial do Guarani; um bando de pés-de-chinelo, tão incapazes que só conseguiram lugar no time de um clube falido, caloteiro e sem futuro.

Cacilda! Desse jeito não tem santo que se anime! O papo de Roberval Davino, corroborado por Hernandes, foi altamente destrutivo. Já escrevi sobre isso no Fórum deste Planeta – o qual está fora do ar, infelizmente.

Acho que a derrota – sim, foi uma derrota! – no jogo com o Sertãozinho foi a última conseqüência desse modo idiota de se trabalhar. Não sei se o estrago psicológico no grupo tem remédio, mas acho que uma boa chacoalhada vai ajudar bastante.

Jair Picerni sabe disso. Ouçam novamente sua entrevista de chegada. Esse é o foco principal na avaliação dele, mais importante, inclusive, do que a contratação de reforços. Se vierem reforços, ótimo. Mas aposto que Picerni é capaz de trabalhar com esse time. Mesmo sem nenhum reforço, tenho certeza de que o Guarani não cai e se classifica para a série C, no mínimo! Se todo mundo empurrar para frente, o time vai para frente!

Repito o que também já escrevi no Fórum: não é o dinheiro que agrega valor a um time de futebol. É o modo como são postos a trabalhar os homens que fazem parte dele.

Ora! Cada jogador é capaz de olhar para si próprio e ver que é um ser humano no auge da maturidade e igualmente no auge da juventude, dotado de um físico privilegiado e com uma experiência que custou anos de aprendizado; que é dono de um cérebro apto a trabalhar com coisas sofisticadas como as regras do futebol, a interpretar essas regras, a compreender esquemas táticos tão complicados quanto a matemática que se ensina na universidade, a prever situações difíceis, a imaginar saídas, a executar jogadas, a respirar, arrancar, passar a bola, driblar, defender e atacar. São todos seres humanos altamente requintados e capazes de fazer uma bola passar por debaixo dos paus pelos menos uma, duas ou três vezes em 90 minutos... desde que treinem com esse objetivo.

Boto fé nesse time, com ou sem reforços. Ponho minha mão no fogo. Se alguém pudesse dizer aos jogadores... (20/02/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso