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Planetas do Guarani

O trabalho realizado pelo site Planeta Guarani tem sido fundamental na dura caminhada para o reerguimento do Bugre. O Planeta é ainda mais importante para os bugrinos no exílio, que vemos de longe o dia-a-dia do clube. Tem sido também importante por suprir as deficiências do sistema oficial de comunicação do Bugre, fraco, lento, sempre atrás dos fatos e, por vezes, omisso. Citarei um exemplo do marasmo comunicativo do clube para, em seguida, explicitar também uma crítica ao Planeta Guarani e, ao fim, propor alguma coisa.

PRIMEIRO – A comunicação oficial do Bugre

Moro em São Paulo. Fui ao jogo com o Madureira na estréia da série C. Peguei metrô, peguei um Cometão na rodoviária do Tietê e, finalmente, peguei um taxi na tal rodoviária nova de Campinas – não entendi como aquilo funciona... – e finalmente cheguei ao Brinco. Mas cheguei cedo demais. Para passar o tempo, perambulei por ali, a bisbilhotar os bares em busca de algum papo com os poucos bugrinos que já circulavam pelas redondezas. Lá pelas tantas, resolvi dar uma olha na portaria do Tobogã. Tomei um susto!

Vi ali na esquina das avenidas Guarani com a Imperatriz Leopoldina uma faixa divulgando uma feira de artes e produtos do Rio Grande do Sul que se realizava naquele momento dentro do Ginásio do Bugre.

Perguntei-me: “Caramba! Que raio de feira é essa dentro do ginásio do Guarani e sobre a qual eu não li sequer uma única linha no site oficial bugrino?”

Como eu adoro o Rio Grande do Sul – é o único Estado do Brasil que eu conheço mais do que São Paulo – resolvi ir até lá. Paguei 5 pilas pelo ingresso. Para minha sorte, entrei poucos minutos depois de começar um formidável show de danças gaúchas, com boleadeiras, lutas simuladas, lanças, sapateados e canções sertanejas sulinas. Uma beleza!

Tudo isso num ambiente impregnado pelo estonteante aroma de churrasco de costela “no buraco”, doces de virar a cabeça, sucos de uva puríssimos e, claro, vinhos de todo tipo. Arrependi-me dos dois super-sanduíches de mortadela que comi à guisa de almoço antes de sair de casa. Nem falo das roupas e balangandãs que chamavam mais a atenção das gurias e chinocas, embora eu tenha me detido alguns minutos diante das bombachas de gala que enchiam de orgulho os olhos do manequim que a trajava.

Foi ótimo! O tempo passou rapidíssimo e, de quebra, fiquei arrepiado com a vigorosa arte da dança gaúcha. Ela induz um misto de patriotismo sincero e vontade de chorar de orgulho pela diversidade deste Brasil. Aliás, as danças representavam não apenas o território gaúcho brasileiro, mas traziam também amostras da arte gaúcha do Uruguai, da Argentina e do Paraguai. Sim! Pois gaúcha é uma gente e uma cultura que vai dos pampas do sul do Brasil até quase o sopé da Cordilheira dos Antes.

Esse agradável encontro deixou-me feliz inclusive pelo fato de acontecer no âmbito do nosso clube. Deu-me a sensação de que o Guarani de Campinas poderia ali estar querendo receber os eflúvios da civilização Guarani que vicejou no amplo território supranacional gaúcho. “O clube não está morto”, pensei. “Coisas boas acontecem no dia-a-dia.” Mas perguntei-me: “Por que raios eu não vi nada sobre isso divulgado no site oficial do Bugre?” Preferi deixar a dúvida de lado para voltar à rua em busca dos meus filhos, Camilo e Caio, que prometeram ir ao jogo. Eu tentaria convencê-los a dar uma olhada naquela feira antes entrarmos juntos do Brinco.

Ao sair da feira, contudo, perguntei na portaria se poderia reingressar com o mesmo ticket de 5 pilas. Desabou, então, a maior de todas as surpresas. E bem desagradável:

“O senhor é sócio do Guarani?”, perguntou a moça que controlava a entrada do público.

“Sou apenas sócio-torcedor”, respondi.

“Trouxe a carteirinha?”, completou a menina.

“Sim!”, confirmei.

“Sócios e sócios-torcedores do Guarani não precisam pagar para ingressar na feira”, revelou a anfitriã.

Sinceramente! Isso me irritou demais! Não pelos 5 pilas que paguei sem ser preciso, mas pela absurda, inexplicável, ridícula e vergonhosa falta de percepção do óbvio por parte do sistema de comunicação do Bugre. Não havia uma vírgula sequer sobre a feira no site oficial do clube e, por conseqüência, nada sobre a promoção em favor daqueles que pagam para manter o clube de pé.

Naquele momento, minha indignação levou-me a estranhar, intempestiva e indevidamente, o fato de não ter lido nada sobre isso inclusive no Planeta Guarani. Mas de imediato perdoei este site. Afinal, já é grande demais o esforço voluntário e abnegado de um ou dois caras para manter a comunidade bugrina informada sobre questões mais centrais e decisivas da vida do clube. Não! Não cabe ao Planeta Guarani fazer 100% do papel cuja responsabilidade primeira é do sistema oficial bugrino de comunicação.

Entretanto, esse episódio oferece a oportunidade para eu faça uma crítica construtiva ao também Planeta, diante do que vislumbro no futuro.

SEGUNDO – O Planeta Guarani

Não é fácil acompanhar o dia-a-dia de um clube grande e complexo em todas as suas nuances e detalhes, por vezes a pisar em campo minado por armadilhas bem camufladas.

Mas o problema é que o Planeta Guarani tem assumido em demasia ares de sucursal da rádio e TV Bandeirantes de Campinas. Inclusive, li recentemente nesse site a expressão “parceria” numa referência ao relacionamento com a Bandeirantes.

Pergunto por que essa exclusiva confiança em um único órgão. Afinal, há em Campinas outras rádios e TVs, além de dois importantes jornais diários. Sei que é impossível acompanhar o noticiário de todos eles, mas o exclusivismo impõe monovisão e vicia a opinião. Ademais, a Bandeirantes de Campinas tem interesses no médio e longo prazos afinados com os interesses de sua matriz, que não são em favor do futebol de Campinas – repito, de Campinas, não apenas do Guarani.

Daqui do meu exílio paulistano eu posso acompanhar pouca coisa pela internet, mas é o suficiente para perceber com clareza que essa emissora afiliada de uma rede nacional trabalha bastante afinada com sua matriz. A despeito de a Bandeirantes ser uma concorrente menor da gigantesca e diabólica Globo, os interesses de ambas são os mesmos. Elas concorrem em busca dos mesmos objetivos. Não antagonizam nas questões essenciais. Uma quer o lugar da outra no mesmo cenário, no mesmo enredo, com os mesmos objetivos: audiência e faturamento publicitário em escala nacional.

De modo geral, estão as redes nacionais de comunicação – todas elas – a apostar numa pasteurização do futebol brasileiro, já em curso, que precede a uma filtragem cujo produto final esperado é um conjunto de talvez 16 clubes de futebol, no máximo 20, de alguns Estados onde há torcidas – entenda-se mercados de audiência e grandes clientes de publicidade – em volume já bem consolidado. E por quê?

Porque assim se reduz drasticamente o custo das coberturas, com a vantagem adicional, e ainda mais importante, de oferecer a uma reduzida clientela de empresas anunciantes de grande calado abrangência nacional para suas ações de marketing.

Macroscopicamente, ocorre na indústria da mídia o mesmo processo de oligopolização que se verifica nos outros setores importantes da economia. Veja-se o caso da cerveja: semana passada foi dado mais um passo para que, em breve, haja só uma megacorporação cervejeira, ainda que sejam diversas as logomarcas estampadas nos rótulos. A tal Ambev, antes a junção da Brahma e da Antarctica, foi engolida por uma multinacional Belga que acaba de engolir também nada mais, nada menos do a americana Budweiser. O futebol caminha por aí.

Não me surpreenderei o dia em que houver briga entre torcidas organizadas do Real Madri e do Manchester United em pleno largo Rosário. Gente andando pelas ruas do Brasil trajando as camisas desses e outros times alienígenas é coisa comum faz algum tempo. Na grande mídia já há profissionais que não se avexam ao confessar que torcem pelo Milan, pelo Barcelona etc. etc.

Não coloco em dúvida a honestidade e a honra desses profissionais. A maioria deles, contudo, parece não perceber o fenômeno maior que está a dirigir suas carreiras. Anunciam com a mesma naturalidade de sempre que, agora, a Copa Libertadores da América tem na frente do seu nome histórico e tradicional o nome de um banco ou de uma montadora de automóveis, não por acaso duas megacorporações que sintetizam a oligopolização em escala planetária.

Nesse jogo em que o poder econômico não se comove com tradições, glórias passadas ou camisas que um dia foram de dar medo em gente grande, o Guarani teve a desventura de se transformar em peixe miúdo, por demais insignificante. Por isso, o site Planeta Guarani não pode fechar os olhos para as mídias exclusivamente regionais de Campinas, que objetivamente navegam contra a maré e são, sim, intrinsecamente interessadas na reascensão do Bugre. Mais do que isso, são interessadas na reascensão do futebol de Campinas, ou seja, inclusive na do time da beira dos trilhos. É uma questão de sobrevivência para a mídia estritamente regional apostar em Guarani e Ponte Petra para, numa legítima carona, crescer na praça local e sonhar com horizontes mais largos.

Acresce, ainda, que o Planeta Guarani está a se tornar também fonte para essa única mídia, o que reforça a tese do desinteresse por parte da emissora em investimentos significativos no jornalismo dedicado ao futebol campineiro. Exemplo disso é o samba do crioulo doido em torno da questão das negociações para a venda ou permuta do patrimônio do Bugre. Foi irritante acompanhar o festival de boatos desavergonhadamente atribuídos a “ouvintes” anônimos, espalhados pelos microfones em tom de notícias. Luz verdadeira sobre esse assunto, com nítido tom de credibilidade, veio ao público apenas quando o Planeta Guarani foi a campo em busca de informações. Não há registrado na mídia campineira nada que dê conta com objetividade do complexo negócio sobre a venda do Brinco além da série de artigos assinados pelo incansável Marcos Ortiz. Com exceção do trabalho deste grande bugrino, o que houve apenas futricas de um jornalismo que, se não é preguiçoso nem incompetente, trabalha bem e muito na direção de interesses que não estão em nenhum dos dois extremos da avenida Ayrton Senna da Silva.

Resta ao Planeta Guarani não cair no canto da sereia e, ao sistema de comunicação oficial do clube, a humildade de reconhecer suas limitações abrindo as portas para quem se dispõe a fazer o que deve ser feito para informar e, principalmente, mobilizar a teimosa comunidade bugrina. Em outras palavras, já passou da hora de o Planeta Guarani ser o Planeta do Guarani.

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Nota: Espero ter sido cuidadoso o suficiente para deixar claro meu respeito pelos bugrinos que se dedicam ao clube e aos órgãos citados e deixo deste já este espaço aberto às críticas e observações que julgarem procedentes. O material deve ser enviado para alvaro.caropreso@gmail.com

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Caro Álvaro

Estava lendo sua crítica ao site oficial do Guarani sobre a ausência de notícia sobre a "Feira Gaúcha". Sou um dos maiores críticos do nosso site, mas desta vez você não tem razão. A notícia saiu antes do início da feira, inclusive com erro, pois dizia ser no Ginásio, quando na verdade seria nas quadras cobertas. Mandei um e-mail para a Assessora de Imprensa e no dia seguinte ela corrigiu. E lá dizia que sócios-torcedores e sócios do clube nada pagariam. Com certeza essa notícia está lá nas "páginas arquivadas" do site. Que o site é péssimo, não há dúvida, mas desta vez...

Fernando Pereira (associado do GFC)

Grato, Fernando

A notícia foi publicada no dia 3 de julho, uma quinta-feira. A Feira funcionou entre os dias 4 e 13 de julho. Ficou sabendo do evento quem abriu o site no primeiro dia de divulgação ou, no máximo, no dia seguinte. Depois disso a nota escorregou automaticamente para a página de links "Mais Notícias". Ou seja, sumiu. Foi colocada burocraticamente no site e só. Eu não recebi, por exemplo, nenhum boletim com notícias sobre o Bugre – como, aliás, está prometido aos sócios-torcedores. Sua observação é importante, mas não muda o preço do dólar. A comunicação do Bugre é pífia.

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso