danecessidadedo"seispormeiadúzia"

Da necessidade do "seis por meia dúzia"

Bilhete para Marcos Ortiz, editor do Planeta Guarani, após a vitória do Bugre no jogo com o Ituano, por dois a um, na casa do adversário, na quarta-feira, 6 de agosto de 2008, em que comento e discordo das críticas ao técnico Luciano Dias.

Caro Marcos Ortiz,

Se neste mundo há um bugrino com moral para criticar o clube e o time esse cara é você. Suas opiniões devem ser respeitadas não apenas pelo que elas dizem, mas pelo peso da sua dedicação às coisas e causas do Guarani. É com muito respeito, portanto, que venho discordar de você em suas críticas ao técnico Luciano Dias. Eu também gostaria de ver no time alguns jogadores que aprendi a gostar. Lucas é o principal deles. Mas como quem escala é o técnico e apenas onze entram em campo, é natural que o time dele não seja igual ao meu.

Os resultados ruins dentro de casa refletem, de fato, uma opção clara pela marcação pesada e o jogo no contra-ataque. Essa é a tática mais adequada para um torneio de muitas etapas curtas, quase um mata-mata. Essa maneira de jogar, contudo, ainda não estava perfeitamente assimilada pelo elenco, pelo menos até o último jogo no Brinco, na variante em que o adversário joga no mesmo esquema: parede contra parede, com os dois times a dar marretadas para ver quem erra primeiro. Marcar pesado jogando contra adversário fechado requer muito mais dos treinamentos do que o jogo aberto, franco em direção ao gol. Daí a insistência de Luciano nas famosas substituições de “seis por meia dúzia”, tão criticadas por você e pela imprensa em geral.

Luciano está certo em insistir no “seis por meia dúzia”. É a única maneira de consolidar um esquema com alguma chance de chegar perto das fases derradeiras de um campeonato como o da série C. Os dois gols de Marcinho, ontem, contra o Ituano são uma prova de que a coisa funciona. Quem esperava que os gols saíssem de um meio-campista? Todos nós gostamos quando a bola entra chutada por atacantes, mas nesse esquema os jogadores da frente têm maior responsabilidade na abertura de espaços, não apenas na finalização. Cobramos de Henrique fazer os gols sem dar muita bola para o que ele vinha fazendo ao se movimentar lá na frente e, também, na marcação da saída de bola do adversário. Mas cobramos e cobramos e cobramos. E queimamos e queimamos e queimamos. Assim, foi certo colocar Henrique no banco. Luciano sabe que o atacante executava seu papel.

Do mesmo modo se explica a opção por levar só volantes para o meio de campo no jogo com o Ituano. É o “seis por meia dúzia” necessário em uma partida em que o adversário obrigatoriamente teria de jogar mais aberto, mais ao ataque. Esse “seis por meia dúzia” bem azeitado é o que nos permitirá ganhar de times de mais qualidade, como os que estão por vir nas próximas fases. Note que de nada adiantará fazer as duas primeiras fases brilhantemente se tropeçarmos na terceira ou na quarta. O Bugre continuará na série C do mesmo jeito. Esse é o risco escolhido: insistir agora no ensaio pesado de um esquema vigoroso o suficiente para superar os mais fortes que estão por vir. Esse é o truque do mata-mata. Esse é pulo do gato que nem todos os técnicos sabem dar (é cedo ainda para dizer que Luciano sabe como fazer isso, mas é certo que ele sabe que tem de fazer isso...)

Esse é também o risco maior sobre o qual o presidente Leonel falou antes mesmo da contratação do técnico. Saber jogar fora de casa é essencial. A quase completa nulidade bugrina nos jogos fora de casa tem sido a tônica nos últimos anos. Ou superamos essa “síndrome da casa alheia” ou ficamos eternamente na mesma lenga-lenga. Afinal, em casa, mais dia, menos dia, todo santo ajuda. Por isso, me atrevo a dizer que o Bugre não perde mais no Brinco neste ano de 2008.

Caro Marcos, sua energia bugrina é o que mais nos ajuda a manter de pé o ânimo, mas por vezes eu fico meio zangado com o excesso na corneta.

Abração amigo e, mais uma vez, muito obrigado pelo excelente trabalho no Planeta Guarani.

____________________________

Obs.: Deixo este bilhete primeiro aqui, no Guarani.futuro, porque não tenho conseguido postar textos no Mural do Planeta, talvez por alguma limitação no tamanho.

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso