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Psicologia do bicho-papão

Sou bugrino e não abro. Entretanto, acho uma idiotice esse hábito que vem desde não sei quando de as direções do Guarani e parte da torcida só se referirem à Ponte Preta pela sigla AAPP, seja nos informes de imprensa, seja no site do clube ou outros documentos.

Igual bobagem está na “tradição” de se colocar apenas AAPP no placar do Brinco de Ouro em dias de derby. Isso tem um significado oposto àquele que os patronos da idéia pensam fazer transparecer. Em vez de expressar desprezo pelo nosso mais temido – sim, mais temido – adversário, ocultar-lhe o nome denota apenas o nosso medo. Não qualquer medo, mas o medo de avestruz com a cabeça afundada na areia. Medo tão profundo e terrível que preferimos fazer de conta que não vemos à nossa frente a poderosa Ponte Preta – sim, poderosa Ponte Preta. Medo de buscar forças dentro de nós mesmos para encarar as batalhas mais duras e vencê-las. Medo covarde, oposto ao medo valente, aquele que liberta energias para a consciência de que, sem enfrentamento, não há vitória.

A grandeza de um guerreiro se mede pela grandeza dos seus adversários. Tenho a impressão de que foi justamente o medo covarde – essa tremedeira crônica que tomou conta do Guarani na última década – que nos empurrou ano a ano para os porões do futebol brasileiro. Para sair dessa, temos de trocar de medo. Temos de estar dispostos a sentir calafrios diante de adversários realmente tenebrosos. Temos de entrar em campo para encarar o bicho-papão tal como ele é, de carne e osso – com nome completo, dentes e garras a um milímetro do nosso nariz –, não uma versão atenuada pela nossa imaginação. Temos de ser capazes de superar a Ponte Preta, não a AAPP.

Só assim haverá mais graça em entrar em campo e pôr para correr a verdadeira Ponte Preta. Ressalto que refiro-me aos times de futebol dentro de campo, não às torcidas na arquibancada ou nas ruas.

Claro, este comentário se aplica também ao costume igualmente medroso de os pontepretanos se referirem ao bugre como mero “visitante” no placar do seu estádio quando dos derbies. Mas lá isso não é problema nosso. (15/07/2007)

JOÃO ME XINGOU DE PONTEPRETANO POR CAUSA DISSO

Amigo João,

Não vou brigar com quem está do mesmo lado que eu. O Guarani é um problema grande demais para me dar a esse luxo, como fizeram, aliás, dois torcedores inteligentíssimos que estavam no Tobogã menos de quatro metros acima do meu chapéu durante o segundo tempo daquele horroroso 0 x 0 com o América.

Vou repetir só mais uma vez: A grandeza de um guerreiro se mede pela grandeza dos seus adversários. Só guerreiros medíocres aceitam combater adversários medíocres. É básico. Não há registro na história de nenhum grande general que tenha perdido uma guerra por respeitar esse princípio que nem é de minha autoria. Tem pelo menos dois criadores. Um deles é de Carl Von Clausewitz, general prussiano e filósofo da guerra do século 19, lido e debatido até hoje nas academias militares de todo o mundo. Sua obra-prima, "Da Guerra" (Vom Kriege), é publicada e republicada até hoje. Antes de Clausewitz, no século 4 AC, o estrategista chinês Sun Tzu já havia escrito algo mais ou menos no mesmo sentido no clássico “A Arte da Guerra” (hoje livro muito famoso entre empresários que tentam aprender como enfrentar e vencer seus concorrentes mais duros).

Quanto ao "mascar milho" – ou mandioca, dá no mesmo –, aprendi na escola que as culturas nativas do Brasil usavam desse método para preparar suas bebidas festivas (mascavam, cuspiam num tacho e deixavam fermentar o álcool). Assim, convido mais uma vez a bugrada a mascar milho ou mandioca para a próxima festa, que há de acontecer no jogo com o Tupi de Minas, literalmente uma peleja tupi-guarani como lembrou ontem o comentarista de uma rádio de Campinas.

Quanto a ser pontepretano, que bobagem! Tenho dessa gente na família – nos damos bem, inclusive –, mas só a ala bugrina teve estômago para ir comigo ao Brinco ver aquele deprimente jogo com o América. Por falar nisso, guardei de lembrança o meu primeiro ingresso como Sócio Torcedor (nº 1411) e o bilhete para concorrer aos sorteios do intervalo (não ganhei nadinha...). Escaneei os papeluchos para economizar espaço na gaveta e aproveito a ocasião para mostrar a quem possa interessar:

João, vamos empurrar o Bugre ladeira acima, pois para baixo todo santo ajuda. E é isso que o capeta quer. (15/07/2007)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso