oquefazercomzini&lourencetti

O que fazer com Zini & Lourencetti

O papel de dois ex-presidentes e do conjunto dos sócios na construção lenta e gradual de uma crise anunciada.

Quem está longe de Campinas e, além disso, não é sócio do Guarani, não pode avaliar com precisão certos episódios da vida do clube, como é o meu caso. Contudo, às vezes a distância traz algumas vantagens. Uma delas é a neutralidade do observador. Nessa condição, interpreto a débâcle do Bugre como conseqüência, principalmente, do abandono do clube por parte dos sócios – ou melhor, da imensa maioria deles, pois há um núcleo combativo que ainda tenta segurar o rojão.

É claro que, em primeira instância, as gestões medíocres dos últimos anos são as responsáveis pela destruição do clube, mas em última instância isso só foi possível por que ninguém deu bola para o desastre que acontecia debaixo do nariz de todo mundo. De longe era perfeitamente possível observar isso. Os que estavam perto não viam o que se passava? Por que não faziam nada?

O conjunto dos associados deixou a coisa rolar. Isso é fato. Por isso, por vezes me pergunto se o Guarani F.C. ainda tem sócios e torcida em quantidade e qualidade suficientes para dar a volta por cima. Afinal, foram anos de mediocridade. Anos e anos!

As eleições deste ano de 2007 serão decisivas para o futuro do clube. Pode-se dizer que o pleito decidirá se o Guarani F. C. continuará a existir como clube ou se vai referendar sua condição atual, qual seja, a de ser nada mais do que um conjunto de 11 camisas de aluguel a serviço de um ou outro grupo de empresários do business da compra e venda de jogadores.

Assim, estabeleço para meu próprio consumo os seguintes referenciais:

1 – A transformação do Guarani em apenas um conjunto de 11 camisas de aluguel se deu principalmente ao longo da gestão de Beto Zini, negociante de jogadores que notoriamente lucrou na condição de dirigente do clube. Não entro no mérito da lisura das transações que ele fez. Creio, sim, que ele deve ter agido geralmente dentro da lei. Ocorre, entretanto, que a lei de então destinava ao clube parte dos lucros da compra e venda de passes de atletas, posto que os negócios deveriam ser obrigatoriamente feitos em nome de agremiações esportivas (a detentora do passe e a interessada em adquiri-lo). Assim, por mais que se pudesse suspeitar de negociatas em “caixa dois” ou “por fora”, o clube/vitrine sempre ganhava alguma coisa com as transações – o que deu certa sobrevida ao Guarani F. C. Pode-se dizer, então, que aquele período marcou o início da fase em que ter um time de futebol profissional de alto gabarito deixou de ser uma prioridade. Bastava que o Guarani se mantivesse nas divisões principais e, se possível, com alguma fleuma de “time grande” para dar mais valor às mercadorias em seu balcão.

2 – Beto Zini deixou a direção do clube no momento da transição para uma nova legislação, desfavorável aos clubes e demasiado bondosa para o empresário desgarrado de qualquer agremiação ou dono de fato e de direito dos chamados “clubes-empresa”. Nesse contexto, ser dirigente de um clube de tradição não é conveniente para um negociante de atletas. E o Guarani foi deixado às moscas, ou melhor, para o que viria em seguida:

3 – A gestão de José Luis Lourencetti sintetizou no Guarani, de modo trágico, o aspecto predatório da “Lei Pelé”. Toda infra-estrutura do clube passou a ter apenas e tão somente o papel de vitrine de jogadores, sem que se tomasse sequer o cuidado de preservá-la para a simples manutenção desse mesmo papel. Chegou-se ao absurdo, inclusive, de o clube consumir não apenas todos os recursos que obtinha na condição de membro das divisões principais (Clube dos 13 incluído) como também os créditos a que tinha direito. Viveu-se, portanto, apostando que seria sempre possível rolar o “cheque especial”. O resultado é o que se vê hoje: Serie B e depois C no Brasileiro e série B no Paulista.

4 – A modestíssima reorganização que permitiu ao Guarani recuperar no âmbito paulista sua histórica condição de elite é uma prova de que, tivesse prevalecido ao longo dos anos a defesa dos interesses do clube – e não de alguns de seus dirigentes – o Bugre estaria ainda, bem ou mal, na elite do futebol brasileiro.

5 – Esse processo de desabamento não foi resultado inconsciente de gestões ruins. Ao contrário, foi resultado consciente de gestões extremamente hábeis e capazes de executar um planejamento muito bem pensado: o de predar o clube até a última gota de sangue na esperança de que a pouca memória da torcida e o decrescimento do quadro de associados pudesse deixar passar batido o desastre.

6 – Não será possível reerguer o Guarani F. C. sem que esse período de sua história seja passado a limpo em todos os termos, sem que os prejuízos materiais sejam computados e ressarcidos e os, responsáveis, punidos.

7 – É preciso desde já reorganizar o plantel profissional do próprio clube ainda que com o objetivo modesto de apenas sustentar com dignidade a bandeira bugrina nas divisões inferiores do futebol brasileiro.

8 – Se não houver força política capaz de peitar e vencer essa parada, só nos restará torcer por outro Guarani dentre os muitos clubes com esse nome no País, pois o nosso Guarani de Campinas continuará a ser nada mais do que o mero balcão de negócios que hoje se apresenta na Copa FPF.

9 – Para dar início a um processo sério e consistente de reerguimento pelo menos uma coisa deve ser feita, sem qualquer ressentimento, tão logo sejam abertas as urnas nas próximas eleições: A expulsão de Beto Zini, J. L. Lourencetti e seus auxiliares diretos do quadro de associados. Eles jamais expressaram a vontade coletiva bugrina. Isso evitará que, um dia, se volte a fita do velho filme. (01/10/2007)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso