Ponto zero da retomada
Apenas para marcar posição sobre a venda do Brinco de Ouro.
xxxxxxxxxxxxxxxx
Ninguém poderá acusar a atual diretoria do Guarani de responsável por qualquer problema na execução do projeto de permuta do patrimônio para a construção do novo estádio, novo centro de treinamento, novo clube social, reestruturação do futebol profissional e amador e pagamento de dívidas. Doravante, o futuro do Guarani Futebol Clube está exclusivamente nas mãos dos seus associados. A responsabilidade coletiva pelo projeto não pode se resumir à sua aprovação em Assembléia Geral prevista para o dia 31 de março de 2008.
Uma vez aprovado o projeto pela Assembléia, caberá ainda aos sócios a vigilância draconiana das contas do Bugre, bem como do calendário das obras. Igualmente, compromissos com a Prefeitura de Campinas deverão ser vigiados e cobrados antes de qualquer falha. Por ser óbvio, nem seria preciso dizer que o dinheiro envolvido na transação não será pago de uma só vez. Virá dentro de algum parcelamento já acertado ou por acertar com a parte compradora do Brinco, conforme um calendário que deverá estar sincronizado com os planos de obras que cabem à Prefeitura e ao Bugre. Isso quer dizer que o Guarani estará amarrado e dependente do correto cumprimento de muitos outros compromissos além dos seus próprios. Fazer as partes funcionarem em sintonia será a tarefa mais difícil e isso não dependerá só da diretoria executiva.
Mecanismos de acompanhamento e controle deverão ser formalizados para que a coletividade possa antever embaraços com a máxima antecedência. Especial atenção deverá ser dedicada à detecção e ao afastamento das aves de rapina naturalmente atraídas pelo cheiro dos grandes negócios.
Daqui para frente, o Conselho e o conjunto dos associados deverão estar ligados o tempo todo em 100% das questões a respeito do assunto para monitorar milimetricamente essa complexa transição.
Que ninguém se iluda. Não será fácil a vida do Guarani nos próximos anos. Além da monumental quantidade de trabalho, haverá também conflitos. À diretoria executiva deverá ter paciência e habilidade política para combinar transparência, abertura às críticas e, principalmente, firmeza de propósitos e autoridade de comando.
Além disso, não custa lembrar que a torcida quererá ver em campo equipes boas e bem treinadas para, no mínimo, deixar de roer os dentes com essa eterna – sim, já é eterna – expectativa de um rebaixamento a cada campeonato. Contudo, os milhões de reais que parecem estar em vias de regar o clube não serão suficientes para uma vida farta de vitórias.
Que ninguém se iluda, repito. A reconstrução do clube dependerá cada vez mais da reaproximação da torcida, de sua ampliação e capacidade de gerar receitas, seja com a presença no estádio, seja por meio das contribuições de campanhas como a de sócio-torcedor. Isso depende exclusivamente do orgulho pelo que se verá em campo com a camisa do Guarani. Por enquanto, o Bugre está apenas chegando perto do ponto zero da retomada.
EM TEMPO:
Diante do formidável espetáculo de ignorância que acabo de ouvir na Rádio Bandeirantes a respeito do projeto bugrino, recoloco abaixo as questões que levantei em post anterior. Pensei que a imprensa campineira fosse esperta o suficiente e se desse ao trabalho de colocar um repórter em campo para apurar certas questões óbvias em uma pauta como essa. Afinal, o projeto foi apresentado ontem à noite e qualquer órgão de informação teria pelo menos toda a manhã de hoje para apaurar alguma coisa. Eis aqui as questões, que não esgotam o assunto:
1 – Qual o valor total do patrimônio (do Bugre) no estado em que se encontra?
2 – Quanto pode render esse patrimônio ao ser invertido sob a forma de empreendimentos imobiliários? Em outras palavras, qual a diferença entre o valor atual e o valor esperado do empreendimento a ser executado pelos compradores?
3 – O valor a ser pago ao Guarani no fechamento do negócio é compatível com essa diferença? É pouco? É razoável?
4 – Que rendas serão geradas pelo empreendimento quando pronto e qual será a participação do Guarani? Alguma? Nenhuma?
5 – Que proporção do valor da venda será destinada ao pagamento de dívidas?
6 – Que proporção do valor da venda será destinada ao fortalecimento do trabalho de base?
7 – O trabalho de base terá o duplo papel de formar atletas e também gerar receitas?
8 – Que proporção do valor da venda será destinada à construção da nova “arena”?
9 – Que rendas o Guarani terá com a nova “arena”? Elas serão suficientes para garantir pelo menos em boa parte a vida de um clube de futebol com as pretensões do Bugre?
10 – Há intermediários no negócio? Que proporção do valor da venda lhes cabe em comissão?
11 – Quais os mecanismos de controle para que os associados do Guarani possam acompanhar passo a passo a execução do negócio?
O SILÊNCIO ALIMENTA O LIXÃO
As duas rádios que pude ouvir pela internet hoje, no meio do dia, simplesmente não acrescentaram uma linha ao que já se sabia desde há semanas. Parecia, inclusive, que nada aconteceu ontem à noite; que não houve reunião alguma; que nada foi apresentado.
Liguei na assessoria de imprensa do Guarani e fui informado de que, após a reunião do Conselho, apenas uma equipe de TV esteve lá para ouvir os dirigentes bugrinos e produzir uma entrevista. Não havia ninguém de rádio, nem de jornais. Também hoje pela manhã ninguém procurou por mais informações no clube. Daí a aridez dos noticiários, com o predomínio do achismo e do chutômetro sobre as reais características do projeto em questão.
Espero que os noticiários da noite tragam alguma coisa. Sugeri que, enquanto isso, a assessoria bugrina transcrevesse a tal entrevista para a TV ou colocasse o vídeo no site. Sei que há muito trabalho e pouca gente, mas o Bugre está demasiado a reboque dos fatos em um momento muito delicado. Qualquer coisa, vira boato. Pior, qualquer boato referenda falsidades gigantescas, como a de que a direção do Guarani finalmente colocou em marcha seu projeto de liquidação do patrimônio na bacia das almas. É o que se lê, por exemplo, naquele site supostamente dedicado a cobrir o futebol do interior. Com demasiado silêncio, o Bugre só alimenta esse tipo de lixão. (28/03/2008)
O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso