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Roberval não gosta do Guarani

Por que perdi a confiança no técnico bugrino.

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A entrevista do técnico Roberval Davino ao site oficial do Guarani talvez tenha tido o objetivo de fortalecê-lo, o que é justo e quase sempre necessário quando um time vai mal das pernas. Afinal, ele está sob fogo cerrado da torcida após duas derrotas ridículas nesta abertura do Campeonato Paulista e algo deve ser feito já para que o fracasso inicial não se transforme numa tragédia irreversível. Para mim, contudo, a entrevista foi uma espécie de gota d'água. Perdi a confiança no técnico bugrino.

Para montar um time é preciso, entre outras coisas, perceber o estado psicológico dos atletas. É justamente aí que corda pega quando leio ou ouço as entrevistas de Roberval. Eu não gosto do jeito com que ele se refere ao time e a certos jogadores individualmente. Não vou entrar no mérito da qualidade da equipe, mas não tem cabimento um técnico referir-se aos seus atletas de modo tão humilhante. Por isso, faço esta intervenção em defesa dos profissionais que vestem a camisa do Bugre.

Roberval empurra a culpa do mau desempenho só sobre os jogadores, como se ele não tivesse nada a ver com isso. Técnico de time de futebol não pode agir assim. Isso denota uma debilidade incompatível com uma função de comando.

Nenhum general diz que perdeu a guerra porque seus soldados são fracotes ou não são os super-guerreiros de Napoleão Bonaparte que inexoravelmente dão uma sova em qualquer inimigo que apareça. General que é general tem de reconhecer os limites da tropa, mas tem a obrigação de fazer com ela o melhor trabalho possível. A começar pela defesa da honra e da vida dos seus comandados. General que é general deve saber manter a tropa motivada para a luta, ainda que o máximo que se possa fazer seja uma retirada estratégica, tão valiosa quanto uma vitória retumbante quando se consegue escapar de um extermínio. Roberval não sabe fazer isso. Ao contrário. Ele é o primeiro a jogar seus soldados no moedor de carne quando se trata de explicar as agruras do combate.

Ele não diz uma palavra em defesa dos seus pares! Ao contrário, tira sempre o corpo da trajetória do chumbo e usa como escudo o argumento da fraqueza individual do elenco. Roberval deprecia o time inteiro, inclusive os jogadores que ele mesmo se encarregou de trazer. Assim não há santo que faça milagre.

A citação dos nomes dos jogadores que ele teria sugerido trazer, mas não vieram por causa de grana, é um iceberg jogado na cara dos atletas que aceitaram assumir as posições recusadas pelos convidados. São citações humilhantes inclusive para os jogadores que compunham o elenco do Bugre antes da vinda de Roberval. Ele parece fazer questão de dizer que todos devem ter a consciência de que só estão no Guarani porque são jogadores medíocres.

A entrevista ao site oficial do Guarani bem poderia ter sido uma ocasião para se desfazer esse mal-estar. Mas o nosso general aproveitou a deixa para repetir de modo ainda mais eloqüente as desculpas que está a desfiar por aí: nossos jogadores são uns bananas; não valem meia pataca; com esses caras não dá para fazer nada; não são os super-guerreiros de Napoleão Bonaparte com quais qualquer técnico vence qualquer campeonato.

Mas o manifesto de isenção de responsabilidade de Roberval divulgado no site oficial bugrino tem um agravante: por ter sido feito na mídia do clube, tem o aval da direção. Não acredito que esse general seja capaz de colocar seus homens em marcha, exceto em direção ao abismo. A direção bugrina parece ter convicção oposta e não vê nenhum inconveniente nessa postura, no mínimo, covarde.

É bom que se diga que a própria direção de futebol do Guarani também está a exagerar nas declarações de impotência frente à falta de dinheiro. Ela alimenta e incentiva as esquivas de Roberval.

A clareza com o que o técnico espinafra a qualidade da equipe tem o efeito de vinte derrotas por goleada, jogando em casa. Assim, ninguém jamais fará esse time ficar com raiva do fracasso. No máximo, vai se disseminar o desânimo. O meu já está estabelecido. Espero que os nossos jogadores tenham firmeza emocional para mostrar em campo que eles não são medíocres como seu comandante quer nos fazer pensar. Esse moço não gosta do time. (24/01/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso