Bugrino das Antigas
Bugrino das Antigas é o pseudônimo de um torcedor sempre muito zangado que freqüentava o fórum do Planetaguarani.com.br. Um dia, ele escreveu:
"COLOCAR O FUTURO DO CLUBE NAS MÃOS DOS SÓCIOS-TROCEDORES É NO MINIMO UMA GRANDE IMBECILIDADE. EU ERA SÓCIO-TORCEDOR, DEIXEI DE PAGAR HÁ 2 MESES POR NÃO ACREDITAR NESSA ATUAL DIRETORIA... ESTOU VENDO OUTROS AMIGOS MEUS FAZENDO O MESMO. ELES NÃO ACREDITAM QUE O GUARANI TENHA FUTURO. TUDO O QUE PODIA SER FEITO FOI (feito). EU ERA SÓCIO DO CLUBE, NÃO SOU MAIS; EU ERA SÓCIO-TORCEDOR, NÃO SOU MAIS..."
Grande Bugrino das Antigas!
Dá para entender seu desânimo, mas não entregue os pontos, por favor!
Se gente como você nos deixar, tudo vai ficar ainda mais difícil! E já não está nada fácil.
Entre os clubes brasileiros de grande relevo não conheço nenhum em situação tão complicada como a do Guarani. O clube foi vitima de uma operação de desmonte sem precedentes na história do futebol brasileiro. O que mais me espanta é que isso durou anos. Parece que não havia ninguém prestando atenção ao que se passava. Mesmo longe de Campinas dava para perceber que o clube estava sendo roído por dentro de modo pavoroso. Desavergonhado mesmo. A imagem que vinha à cabeça era a de uma multidão de ratos se atirando num prato de queijo podre. Dava nojo!
Nunca vi um time de primeira divisão passar por tantas ameaças de queda sem fazer nada para reverter o rumo. Passava ano, entrava ano e parecia que não havia ninguém preocupado com o clube. Eu me perguntava: “E a torcida? Onde está a torcida?”
Quando o Bugre desabou de vez para a série C é que eu soube haver atualmente pouco mais de mil sócios, dos quais apenas cerca de 800 pagantes. E aqueles mais de 20 mil sócios lá do final dos anos 70 que orgulhosamente diziam que o Guarani não precisava da renda dos jogos para manter um timaço de futebol profissional? Onde foram parar? Será que deixaram de ser sócios apenas ou deixaram também de torcer pelo Bugre?
Senti calafrios no dia em que um velho amigo, morando no Rio desde os anos 80, disse-me que agora torce somente pelo Botafogo. “Que Guarani, que nada!”, disse-me ele. “Estou de saco cheio de só ver o Bugre ladeira abaixo!”
Foi como uma facada no peito! Ele era um torcedor que não pensava duas vezes para pegar um avião no Rio e vir ao Brinco ver um grande jogo. Ele estava junto comigo naquela final espetacular com o São Paulo, no campeonato de 1986/87 – os dois espremidos na arquibancada como sardinhas em lata. Perdemos aquele jogo, como todo mundo sabe, mas saímos de lá com a mais absoluta certeza de não teríamos de esperar muito para ver o time bugrino em outra final. O Paulista de 88 parecia ser a prova definitiva de que estávamos, de fato e de direito, no rol das potências do futebol brasileiro.
Mas nossa trajetória de desmanche foi nítida já ao longo dos anos 90, de tal modo que entramos no século 21 com a certeza cruel de que escorregávamos por uma rampa sem volta. Acho que o Guarani brilhou demais e atraiu abutres demais.
Os vinte e tantos mil sócios evadiram-se por razões que ainda não fui capaz de compreender. O clube perdeu sua capacidade de autofiscalização. Ficou a deriva. Transformou-se em mero balcão de negócios de passes de jogadores. Nem tiveram o cuidado de preservar a vitrine. Foi um ataque predatório em todos os sentidos. Eu diria que, de caso pensado, colocou-se em vigor uma espécie de “Projeto Pequeno Guarani”, sem um corpo de associados e sem torcida para pegar no pé.
A perda de gente dedicada como o amigo Bugrino das Antigas e outros que poderiam segui-lo seria um golpe fatal. Aí sim, não haveria saída, pois não haveria quem lutasse para encontrá-la. (20/09/2007)
O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso