sériearitmética

Série aritmética

Uma entrevista do diretor de Futebol José Carlos Hernandes revela as dimensões da crise bugrina.

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O futuro do Guarani pode ser em série aritmética: 1 + 1 = 2 + 2 = 4 + 4 = 8...

Deve-se ler e ouvir mais de uma vez a recente entrevista do diretor de Futebol do Guarani, José Carlos Hernandes, à Radio Bandeirantes (a disposição dos leitores no Planeta Guarani). Creio ser o documento mais revelador até agora divulgado sobre as dimensões da crise bugrina. A conversa está dividida em duas partes, basicamente.

Na primeira, Hernandes explica com clareza o que o clube pretendia e pretende com o atleta Lê, mas os radialistas insistem em cutucá-lo à procura de alguma contradição. A justa irritação de Hernandez em torno da banalidade do caso, entretanto, engatilha seu estado de espírito para a segunda parte da entrevista, em que ele diz com todas as letras que já se fez o máximo possível pelo Guarani nas condições atuais, isto é, sem dinheiro. Por aqui não vão sair os coelhos da cartola, diz Hernandes, ao anunciar que:

1 – Ele não tem a fórmula para a obtenção de recursos suficientes para a montagem de uma equipe realmente vencedora;

2 – Que essa fórmula só pode encontrada por meio de esforço coletivo da comunidade bugrina e,

3 – Se essa fórmula não for encontrada em tempo para o Campeonato Paulista de 2008, ele e a diretoria estão fora. E deixa nas entrelinhas que não haverá futuro para o Guarani.

Hernandes não poderia ser mais claro. A crise bugrina não é uma crise para salvadores da pátria. Não haverá um Messias a descer dos Céus com sacos de dinheiro para zerar as dívidas e investir em uma grande equipe de futebol profissional.

Toda a estrutura do clube – não coloco na boca de Hernandes o que direi a seguir – está de tal modo debilitada que não se pode esperar dela capacidade e competência para a busca de recursos nos montantes requeridos para o Grande Bugre sonhado pela torcida.

Não se pode cobrar de um Departamento de Marketing que venda publicidade em grandes volumes porque tanto o clube quanto sua ferramenta de juntar dinheiro estão fracos demais. Tal como no exemplo citado por Hernandes para o perfil do técnico (jovem, estudioso, tático etc.) que ele considera necessário, não há dinheiro para se contratar esse profissional e nem qualquer técnico com esse perfil trabalhará no Guarani nas condições atuais.

Interpreto as palavras de Hernandes da seguinte maneira:

Só temos uma saída: aglutinar a torcida em um Coletivo de Trabalho com o propósito fundamental de juntar dinheiro por meio de uma ação do tipo “formiguinha” que gere os recursos minimamente necessários para que a direção possa manter-se articulada e o clube em funcionamento.

Em outras palavras, para que uma diretoria – qualquer diretoria, não apenas essa que aí está – possa trabalhar com tranqüilidade e eficiência a torcida terá de, antes de cobrar resultados dela, mostrar que realmente existe tirando dinheiro do próprio bolso para financiar a recuperação do clube.

Uma forma de se fazer isso consiste em transformar cada um de nós em algo como Agente do Projeto Sócio-torcedor do Guarani sem qualquer privilégio além da honra de ajudar o clube. Grupos podem ser montados sob a coordenação e o controle da Direção Executiva para levar a campanha de bairro em bairro, de rua em rua. É trabalho miúdo e árduo, mas de resultados potencialmente muito mais concretos do que ficar a espera de um milagre.

"Cada um traz mais um" pode ser a consigna da campanha, de modo que dobremos ou tripliquemos em pouco tempo o número de sócios-torcedores – repito, sócios-torcedores sem qualquer privilégio além da honra de ajudar o clube, sem brindes, sem descontos nos ingressos etc. Nada impede que façamos isso se tivermos vontade e se a atual direção do clube estiver disposta a assumir os mecanismos controle da campanha a serem criados. Detalhes poderão ser discutidos ao se deflagrar o movimento.

Esta proposta não retira da atual ou da próxima diretoria a responsabilidade de perseverar em busca de mais recursos pela vias tradicionais e, ademais, cria condições para sedimentar entre o comando do clube e a torcida o clima de cooperação e transparência que reerguerá o Guarani de Campinas. (09/09/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso