tobogã,aquivoueu!

Tobogã, aqui vou eu!

A partir do tobogã do Brinco de Ouro, não se vê mais a fachada do estádio da Ponte Petra. Agora, prédios tapam a visão. Os portais do inimigo não fazem falta, mas sua ausência na paisagem é mais uma espetada do tempo a indicar que estou ficando irremediavelmente velho.

Fazia tempo que eu não ia ao Brinco. Na última vez em que fui ainda era possível ver, a partir do Tobogã, a fachada do estádio da Ponte Preta lá na outra ponta da avenida. Agora, um ou dois novos (novos?) prédios tapam a visão. "Graças a Deus não se vê mais aquele chiqueiro", disse o amigo de meu filho entre uma mordida e outra no picolé. Por mim, os portais do inimigo não fazem falta, mas sua ausência na paisagem é mais uma espetada do tempo a indicar que estou ficando irremediavelmente velho.

Observei atentamente os aspectos geográficos do Brinco. Como bugrino no exílio tomo conhecimento dos fatos pelas rádios e pela Internet. Falta a percepção in loco, o "ver para crer". No caminho para Campinas eu dirigia o carro com o coração a trepidar de medo. Imagens aterradoras esmerilhavam o cérebro. Via o Brinco caído aos pedaços em reflexo da crise que nos colocou não apenas na Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol, mas na série C da vida, numa espécie de indigência para pessoa jurídica. Vidros quebrados, lixo e entulho acumulados nas calçadas, banheiros imundos, sem água, fedidos, rachaduras nos degraus do Tobogã, setores interditados na iminência de desabar. Um caos. Era um pesadelo que se agravava com a passagem das placas de quilometragem da estrada. O suor frio tomou conta do corpo quando desemboquei na frente do estádio e constatei que a nossa taba carece, de fato, de uma boa demão de tinta, pelo menos. Mas – que alívio! – lembrei-me de que o problema da pintura já foi resolvido em convênio com uma empresa do setor.

Deixei o carro no estacionamento e caminhei lentamente até o portão principal. Eram 15h30m, mais ou menos. Pouca gente de verde e branco na entrada. Isso é mau. As imagens do terror ainda persistem quando me encosto no balcão de atendimento aos sócios torcedores. Uma garota trata do meu caso. “Ah! Sim! O sr. é de fora. Trouxe os comprovantes?”, perguntou-me. “Sim, sim! Estão aqui”. Na verdade, nem era preciso. Um rapaz lembra que meus dados estão no computador. Ele os confere e entrega-me o ingresso amarelo junto com o bilhete para concorrer aos sorteios no intervalo do jogo. O atendimento não durou mais do que um minuto. “Que beleza! A coisa funciona!” Mas o capeta faz traquinagens no meu cérebro e diz que pode parar por aí minha boa impressão deste Bugre em tempos de cólera. Vamos ver lá dentro.

Começo por uma visita à loja oficial da grife guerreira. Impecável! Tudo muito organizado, com variedade de produtos, brindes criativos, bem feitos e, principalmente, com muita gente fazendo compras. Noto uma atendente aflita por não dar conta de processar tantos cartões de crédito em tão pouco tempo. “É o paraíso!” Há bugrinos em profusão a comprar camisas, enfeites, lembranças, um punhado de coisas verdes e brancas. Na porta, um rapaz vende o vídeo “A Reconquista da Honra”. Acho que reconheço seu rosto de uma foto na Internet. Está sereno. Ele vende um bem precioso no momento e há quem queira comprá-lo. “Ufa! Estou acordado. Tobogã, aqui vou eu!” (16/07/2007)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso