bugreestábemnafoto

Bugre está bem na foto

Foi um chute no cérebro a derrota do Bugre, por 3 a zero, no jogo com o Atlético goiano em pleno Brindo de Ouro, sábado, 25 de outubro de 2008. Que o Guarani tem sido instável nos jogos em casa todos já sabiam. Uma derrota ou um empate diante do adversário mais forte da competição não seria surpresa. Mas por esse placar e jogando tão timidamente, a julgar pelos comentários no rádio, ninguém esperava.

Sim, pois parecia que o Bugre já havia superado a “síndrome do Brinco”, fator psicológico da instabilidade. O curioso é que o Guarani encontra mais dificuldades justamente ao enfrentar adversários que o respeitam. Até agora, o Bugre se deu bem principalmente com times que o enfrentaram de nariz empinado, dispostos a dele fazer gato e sapato. Jogam abertos, portanto. O que significa jogar com respeito? Significa forte marcação, da saída da bola ao meio de campo. Ou seja, o Bugre ainda não aprendeu a mandar no ritmo do jogo. Diante de um adversário duro, parte para cima com muita vontade, mas não se cuida; não sabe roubar a bola; precipita-se e erra passes em demasia e arremata afoitamente. Por quê?

Porque – e isso é apenas uma teoria a ser confrontada com a de outros bugrinos – até agora Luciano Dias trabalhou bem para superar a clássica inapetência do Bugre pelo jogo no ataque – coisa dos anos recentes na história do clube –, pelo chute de dentro, de perto e de longe da área. Luciano teve êxito nesse aspecto, o que não é pouco! Mas faltou – e falta – o sentido da “adrenalina sob controle”. Marcinho faz muita falta, se poderia dizer. De fato, mas não se pode criticar a conduta do time, por exemplo, nos jogos com o Brasil, em casa, e com o Confiança, lá fora. E não se diga que o nosso goleiro falhou de novo, pois goleiro só falha quando a bola está onde não deve estar, ou seja, dentro de sua área. O buraco é mais na frente, portanto.

Nos vídeos do jogo apresentados pelo site Planeta Guarani, de diferentes ângulos, não vi nenhuma falha de Márcio. Vi três gols que começaram em falhas de marcação e uma saída de bola aparvalhada. O terceiro gol, quando visto pela câmera postada na cabeceira de entrada do Brinco, dá a impressão de que o goleiro estava mal posicionado. Não é o que se vê, contudo, pela imagem da câmera posicionada nas vitalícias. O goleiro foi pego de surpresa por um chute despretensioso após uma bola perdida na saída do Bugre. Mérito do goleiro houve, sim, mas para o do Atlético, salvo por mero acaso de tomar dois gols quando a partida ainda estava absolutamente igual.

Nosso problema está no modo como se joga no meio de campo. É preciso aumentar o vigor, o fôlego e, principalmente, a atenção. Esta última deficiência, aliás, é consequência direta das duas primeiras. Nada irremediável, mas de algum modo o técnico deverá incutir nos jogadores a percepção de que jogo no Brinco também é jogo fora de casa. Sim, pois a cornetagem que toma conta das vitalícias e da cabeceira, somadas, fazem com que as críticas, os xingamentos e o desincentivo que chegam aos ouvidos dos atletas e da comissão técnica sejam mais intensos no Brinco do que fora de casa.

Os setores que invariavelmente emitem as energias mais positivas – o tobogã e o subtobogã – são aqueles em que a massa se coloca de forma mais diluída. Isso me faz ponderar, à revelia da minha própria opinião e vontade, que tem razão a diretoria do clube em manter o subtobogã vedado às torcidas ditas organizadas. Talvez ali, onde a proximidade com os atletas em campo é maior, seriam também maiores os eflúvios negativos para dentro do campo despejados pela cornetagem crônica. É algo se pensar...

Porém, time bom também é aquele que consegue ter sorte. E isso não é o que falta ao Guarani. Os três empates nos outros jogos da rodada mantiveram a classificação embolada, a despeito de o Bugre ter caído para o sexto lugar, a um ponto do segundo, do terceiro e do quarto colocados, e com melhor saldo de gols do que eles. Na prática, estão todos no mesmo lugar, exceto o Atlético, o grande vencedor do sábado, que ficou quatro pontos na frente do segundo colocado. Em termos de classificação para a série B, isso é quase um passaporte carimbado, mas para a conquista do título é uma vantagem circunstancial. Excluído o Rio Branco, que além do ponto obtido pelo empate com o Brasil ganhou mais dois em razão da punição imposta ao Duque de Caxias pela justiça desportiva, todos os demais estão no páreo. O Bugre ainda está bem na foto. (26/10/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso