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Deus é bugrino e pontepretano

Por que é descabida a reivindicação do setor da torcida que pede as cabeças do diretor de Futebol do Bugre, José Carlos Hernandes, e do técnico Roberval Davino.

Já expressei neste fórum minha opinião a respeito do modo como o técnico Roberval Davino vinha se esquivando da responsabilidade sobre as más atuações do time ao atribuir o problema tão somente às limitações do elenco. Afirmei também que essa postura parece ter tido o apoio da direção. Hernandes também chora demais as limitações do elenco.

Eu disse, inclusive, que de minha parte já perdi a confiança no técnico. Mas daí a exigir a sua demissão e/ou a do diretor de Futebol vai uma distância enorme.

Não sou eu quem contrata e/ou demite gente no Departamento de Futebol Profissional do Guarani.

Hernandes foi escolhido pelo Conselho. Eu não faço parte do Conselho. Aliás, sequer sou sócio do Bugre com direito a voto. Sou apenas sócio-torcedor. Davino foi contratado por Hernandes. Nem um, nem outro está ao alcance da minha espada.

Na condição de sócio-torcedor – ou de torcedor apenas – tenho, sim, o direito de reclamar.

Entretanto, na realidade atual do Guarani, não me sinto à vontade para pedir a cabeça de alguém que se dispõe a trabalhar pelo clube, principalmente quando se trata de trabalho voluntário, sem ganho algum. Hernandes não ganha um tostão no Guarani.

Minha contribuição para a solução da crise bugrina é uma mixaria. Pago apenas R$ 30,00 por mês, que não deixa de ser muito pouco mesmo sem usufruir do direito de ver os jogos no Brinco (não moro em Campinas).

Se minha contribuição fosse de R$ 30 milhões por mês – ou mesmo R$ 30 mil – eu pensaria na hipótese de querer ter influência e poder para contratar e demitir gente no Guarani.

Duvido que o dinheiro que o Bugre tem hoje – ou melhor, que não tem – permitiria contratar jogadores mais capazes do que os que temos hoje. Não é o futebol que vai salvar o clube. Não é o clube que vai salvar o futebol. Uma mão lava a outra.

Não é o dinheiro que agrega valor aos atletas. É a confiança que se tem neles e o modo como se os coloca para trabalhar.

Mas a falta de dinheiro no Guarani é tamanha que isso tende a deteriorar o ambiente. Os profissionais precisam de alguma tranqüilidade para render o máximo que podem. Quem ganha salário, tem de receber no dia certo.

Sem um mínimo de dinheiro é mais difícil sair do lugar.

O setor da torcida que tem se mobilizado para pedir as cabeças do técnico e do diretor de Futebol faz muito barulho por nada. Não põe dinheiro no clube. Só tumultua. Joga contra o Guarani.

Essa mesma energia seria mais bem aproveitada se despendida em campanha para trazer mais sócios-torcedores.

Não adianta rosnar. Ou a torcida mobilizada ajuda a colocar dinheiro no clube ou é melhor torcer para algum time de futebol americano. Lá não falta dinheiro.

Quem tem de se esforçar para sair do buraco somos nós mesmos.

Se a torcida não empurrar para frente, o carro vai andar só para trás. Não tem futuro time com média de dois mil ou três mil torcedores por jogo em casa. Não sobe rampa time com só 1.500 ou 2.000 sócios-torcedores. Não vai a lugar nenhum clube com menos de 1.000 sócios-proprietários.

Não adianta rezar a Deus pela salvação do Bugre. Deus deve estar sempre muito ocupado com todos os times de futebol de todos os países do mundo, quiçá de todos os planetas do universo. Deus não vai ajudar o Guarani sem dar uma mãozinha também para todos os outros times. Deus é tão bugrino quanto pontepretano. (28/01/2008)

O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso