A quem dar ouvidos
Quanto mais eu ouço as entrevistas do presidente Leonel, mais tenho a certeza de que ele é um dos poucos bugrinos que não vivem de ilusões.
Tenho a impressão de que a maioria dos bugrinos e a totalidade da mídia acreditam que há um salvador da pátria ou um grande negócio envolvendo o Brinco no bolso do colete de Leonel, à espera do momento oportuno para o anúncio da redenção final do Guarani. Quando Leonel vem a público e diz que o buraco é mais em baixo, todos ficam decepcionados e o acusam de “não ter planos”. Ora, o único plano possível para o Guarani no curto prazo é o da sobrevivência pura e simples. Nem a venda do Brinco será a salvação, posto que pode apenas servir para pagar dívidas, sem conferir ao clube nenhuma nova condição de decolagem firme.
Do mesmo modo, quanto mais eu ouço as entrevistas de Michel Robin, mais me convenço de que ele é um criador de caso contumaz. Está na cara que ele é o principal responsável pelas restrições ao uso na Copa FPF de jogadores que não pertencem ao seu próprio elenco – o tal time B. Está claro também que há uma pinimba entre Robin e o diretor de futebol do Bugre, José Hernandes. Este, com pouca habilidade para comunicar-se, sobretudo sob pressão da mídia, foi injustamente ridicularizado ao longo da disputa da série C do Brasileiro, quando o time A penava pesado para seguir em frente enquanto o time B de Robin nadava de braçadas na Copa FPP. Hernandes era, então, pintado como um fraco, freqüentemente comparado com Robin, tido pela mídia como uma espécie de Midas a transformar em ouro qualquer jogador sob seu comando e um general de quatro costados como articulador de equipe. Isso colou durante o período em que o time B ia de vento em popa, ganhando quase tudo. Não apenas a mídia jogou muito arroz nos cabelos de Robin, mas também bugrinos sinceros.
Agora, contudo, quando já se vê que o time B também tem limites e não é muito diferente do time A, Robin inventa uma desculpa preventiva para o fracasso: “Não me deixam usar certos jogadores do time A”. E por mais que Leonel diga que nunca houve restrições nesse sentido, a mídia prefere manter no ar o choramingo de Robin. Afinal, o diz-que-diz dá mais Ibope do que fatos bem apurados.
Ninguém com um mínimo de bom senso quer o fracasso do time B, mas cabe à torcida saber ouvir, ou melhor, saber a quem dar ouvidos. (10/10/2007)
O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso