Pirulito ou mobilização?
Duas maneiras de se enxergar a participação dos torcedores nos esforços para a superação da crise.
Foi realmente muito boa a entrevista de José Carlos Sicoli à Rádio Bandeirantes, em 20 ou 21 de setembro de 2007. Sereno e objetivo, ele não fugiu das questões mais delicadas, não fez "terrorismo" com as dificuldades, não foi falsamente otimista, mas ao mesmo tempo demonstrou ânimo para continuar em posição de luta e, principalmente, não se colocou como mais um "salvador da pátria". Ao contrário, mostrou saber a importância de se usar a "cabeça coletiva" de todas as pessoas sinceramente interessadas no futuro do Bugre. Acho que temos aí um bom ponto de referência para a escolha dos que vão liderar o reerguimento do clube nos próximos anos.
Dias depois, o Departamento de Marketing do Bugre divulgava a promoção de abrir as portas das dependências sociais do clube aos sócios-torcedores. Eu a vi com ressalvas.
Nada contra a iniciativa em si, que é muito simpática. Eu mesmo farei uma visita um dia destes para satisfazer a curiosidade. O problema é que não acho ser esse o melhor caminho para fazer crescer de modo significativo e rápido o conjunto dos sócios-torcedores.
Eu preferiria que o clube também abrisse suas portas para os bugrinos que não estão desanimados e que poderiam ajudar o clube com trabalho pra valer – trabalho voluntário, mas organizado e produtivo.
A concepção de campanha que imagino ser capaz de trazer mais resultados em curto prazo é a que se baseia na mobilização dos torcedores mais dispostos e em condições oferecer algumas horas de trabalho por semana. A partir de um mecanismo de controle bolado pelo Marketing e avalizado pela direção, seriam criados Grupos de Apoio, Divulgação e Vendas (GADV) nos bairros, empresas etc. As chamadas torcidas organizadas teriam papel importante nessa mobilização, fazendo de cada um dos seus membros um pólo de aglutinação para a formação de GADVs em toda a cidade, atraindo mais bugrinos para o trabalho e multiplicando as áreas de atuação. Bugrinos não pertencentes às torcidas organizadas também poderiam formar GADVs, assim como aqueles que não moram em Campinas – como eu – que poderiam se oferecer (o que faço desde já) para constituir esses pólos em suas cidades.
Cada GADV (ou seja, qual for o nome que venham a ter) começaria o trabalho fazendo um inventário de bugrinos em sua área, seguido por uma avaliação da proporção daqueles que potencialmente poderiam comprar o título de sócio-torcedor e, por fim, estabelecendo uma meta. E, depois, é ir para a rua com o gogó afiado e muita disposição de suar a camisa com animação. GADVs que cumprirem suas metas receberiam medalhas de honra ou mesmo prêmios modestos oferecidos pelo clube.
Evidentemente, o que exposto acima não é uma fórmula pronta e fechada para a campanha, mas uma proposta de estilo de trabalho que tem como principal mérito aglutinar forças e promover o encontro produtivo de bugrinos que – como muitos de nós – estão desolados e com um sentimento de impotência do tamanho da nossa crise.
O Marketing não deve, de antemão, temer ou subestimar a capacidade de mobilização da torcida. Deve, isso sim, ter a coragem de colocar em cheque a existência e a capacidade de a própria torcida gerar saídas para a crise bugrina.
Eu não acredito em salvadores da pátria e, mesmo na hipótese improvável de aparecer alguém com o bolso cheio de dinheiro disposto a colocar tudo nos cofres do Bugre, eu o recusaria. Esse seria o primeiro passo para a “privatização” definitiva e irreversível do Guarani F. C.
A bola está no pé do Marketing, mas outros bugrinos poderiam enviar para esse departamento mais sugestões de como organizar a campanha. Um encontro entre este departamento e bugrinos dispostos a começar a epopéia poderia ser marcado com o objetivo de esboçar melhor a idéia.
Mas tenham certeza de uma coisa: é trabalho pesado. Quem deseja apenas torcer por um time de futebol chamado Guarani não vai gostar da idéia ou pode começar a procurar outro time com o mesmo nome. Há diversos no Brasil, embora nenhum com a grandeza do bugre campineiro. (24/09/2007)
O futuro do Guarani – Álvaro Caropreso