Violência das crianças e dos adolescentes: clarificar é preciso.

Data de publicação: Jan 18, 2013 11:34:2 AM

É relativamente comum ouvimos falar de crianças violentas, autênticos terrores por onde passam. Os alertas são levantados, sobretudo nas escolas, e maioritariamente pelos pais. Como sempre acontece, tais episódios, quando extravasam o espaço escolar, são apropriados pelos média que em pouco mais de uns minutos e umas quaisquer entrevistas, os transformam em casos gravíssimos de ameaça à ordem social. E assim se instala o medo e nada se contribui para a compreensão do fenómeno.

Mas de que falamos quando falamos de violência entre os jovens? Em agressividade, comportamento anti-social, transgressões, crimes? Esta amálgama revela, entre outras coisas, uma sensibilidade crescente aos comportamentos cuja explicação e compreensão permanecem enigmáticas.

A violência provoca uma dupla reacção: fascina e angustia. Talvez seja mesmo aqui que resida a sua ambiguidade e a dificuldade a pensá-la (uma nota de rodapé: a mediática “bronca” da entrevista de Tarantino a promover o seu último filme “Django” quando teve de pensar a violência que tão bem exibe). A dificuldade é ainda maior quando se trata de violência de crianças e adolescentes.

Mas quem são estes jovens qualificados de “violentos”? São pequenos criminosos em potência que nos ameaçam e ameaçam a ordem social? Existe um caminho inevitável que conduz certas crianças agitadas (bebés mesmo) à delinquência violenta; do berço à prisão? Hordas de selvagens irão atacar as populações adultas tranquilas e bem instaladas na vida? Serão os jovens de hoje mais violentos do que no passado? E se este fantasma da violência paira sobre as sociedades contemporâneas existem meios de as prever e prevenir? Sobre estas questões e outras que subentendem medos e fantasmas muitos se têm pronunciado, por vezes em debates que exibiam violência igual àquela que tentavam explicar.

Mas a questão que se coloca é: o que se entende por “violência das crianças e dos adolescentes”, “violência escolar”, “violências urbanas”? Que significam estas palavras que passaram para a linguagem comum e estão constantemente nos meios de comunicação social e nos discursos dos políticos? Falamos duma criança que mordeu colega ou daquele que manifesta uma agressividade incessante contra o seu meio ambiente? Falamos duma briga no recreio da escola ou de um estudante que puxou duma faca para agredir o seu colega ou o professor? Falamos de insultos ou de cuspidelas contra um adulto, do roubo dum telemóvel ou de actividades delinquentes organizadas ou guerras de grupos? Podem ser agrupadas na mesma categoria manifestações infantis de agressividade, de incivilidades e pequenas transgressões da adolescência, com actos mais graves que já muito parecidos com práticas criminosas? Mesmo se para alguns existem um “continuum” entre estas diversas manifestações, entre a violência verbal, sexual, criminal, da infância à idade adulta, o que parece existir é uma grande mistura de coisas diferentes sob uma mesma denominação genérica.

É por isso que sempre que nos falam de violência de crianças ou jovens temos o cuidado de começar a discussão colocando algumas questões simples: Quem? Como? Quando? Com quem? Normalmente quando o nosso interlocutor nos responde a elas ficamos muito mais esclarecidos e, sobretudo, tranquilos.