Educar para a vida: Autoridade e Liberdade

Data de publicação: Dec 17, 2013 2:44:13 PM

Na exigente tarefa de educar, é muito comum os pais confundirem felicidade com bem-estar. Reparamos nisso quando centram os seus esforços em procurar que os filhos tenham tudo, que tenham todas as comodidades e que não sofram nenhum contratempo, esquecendo-se de que o importante não é só amar muito os filhos – isso já costuma acontecer – mas amá-los bem. E, objetivamente, não é um bem para eles que encontrem tudo feito, que não tenham que lutar pelos seus desejos.

A luta e o esforço que a educação acarreta são imprescindíveis para crescer, para amadurecer, para se apropriar da existência pessoal e dirigi-la com liberdade, sem sucumbir acriticamente a qualquer influência externa.

Uma criança ou um jovem, abandonado aos gostos e inclinações da sua natureza, desce por um plano inclinado que termina por anquilosar as energias da sua liberdade. Se essa tendência não se contraria com uma exigência adequada a cada idade, que provoque luta, terão depois sérias dificuldades para realizar um projeto de vida que valha a pena.

Amar bem os filhos é pô-los em situação de alcançar domínio sobre si mesmos; fazer deles pessoas livres. Para isso, é inegável a necessidade de fixar limites e impor regras, que sejam não só cumpridas pelos filhos, mas também pelos pais.

Educar é também propor virtudes: abnegação, laboriosidade, lealdade, sinceridade, responsabilidade, solidariedade, partilha, limpeza..., apresentando-as de forma atrativa, mas ao mesmo tempo, sem baixar a sua exigência. Motivar os filhos para que façam as coisas bem, mas sem exagerar, sem dramatizar quando chegam os fracassos, ensinando-lhes a retirar deles experiência. Animá-los a ambicionar metas nobres, sem lhes retirar esforço. E, sobretudo, é necessário fomentar a auto-exigência, a luta; uma auto-exigência que não se deve apresentar como um fim em si própria, mas como um meio para aprender a atuar retamente com independência dos pais.

A criança, o jovem, não compreende ainda o sentido de muitas obrigações. Para suprir a sua natural falta de experiência necessita de apoios firmes: pessoas que, tendo ganho a sua confiança, o aconselhem com autoridade. Necessita, concretamente, de se apoiar na autoridade dos pais e dos professores, que não podem esquecer que parte do seu papel é ensinar os filhos a desenvolverem-se com liberdade e responsabilidade.

A autoridade dos pais diante dos filhos não provém de um carater rígido e autoritário; baseia-se antes no bom exemplo: no amor entre os pais, na unidade de critério que os filhos vêem neles, na sua generosidade, no tempo que lhes dedicam, no carinho – carinho exigente – que lhes mostram, no tom de vida que dão ao lar; e também, na clareza e confiança com que são tratados. Esta autoridade deve exercitar-se com fortaleza, valorizando o que é razoável exigir em cada idade e situação, com amor e com firmeza; sem se deixar vencer por um carinho mal entendido, que poderia conduzir a evitar desgostar os filhos acima de tudo e que, a longo prazo, provocaria uma atitude passiva e caprichosa.

Esconde-se um grande comodismo — e, por vezes uma grande falta de responsabilidade — naqueles que, constituídos em autoridade, fogem da dor de corrigir, com a desculpa de evitar o sofrimento a outros. São os pais quem deve guiar, conjugando autoridade e compreensão. Deixar que os caprichos dos filhos governem a casa revela, por vezes, o comodismo de evitar situações incómodas. Não resolve o conflito ou o problema, apenas os adiam e alimentam.

Com paciência, convém fazê-los ver quando agiram mal. Vai-se assim formando também a sua consciência, não deixando passar as oportunidades de ensinar a distinguir o bem do mal, o que se deve fazer e evitar. Com raciocínios adequados à sua idade, ir-se-ão dando conta do que é bom para si e para os outros, e os porquês.

Amadurecer exige sair de si próprio, e isto envolve sacrifícios. A criança, ao princípio, está centrada no seu mundo; cresce na medida em que compreende que não é ele o centro do universo, quando começa a abrir-se à realidade e aos outros.

Isto traz consigo aprender a sacrificar-se pelos seus irmãos, a servir, a cumprir as suas obrigações em casa, na escola e com os outros; implica também obedecer; renunciar aos caprichos; procurar não desgostar os pais... É um itinerário que ninguém pode percorrer sozinho. A missão dos pais é obter deles o melhor, ainda que por vezes doa um pouco.

Com carinho, com imaginação e fortaleza, deve-se ajudá-los a ganhar uma personalidade sólida e equilibrada. Com o tempo, também os filhos compreenderão com mais profundidade o sentido de muitos comportamentos, proibições ou ordens dos pais, que poderiam na altura parecer algo arbitrários; encher-se-ão de agradecimento, também por aquelas palavras claras ou momentos de maior severidade – não fruto da ira, mas do amor – que na altura os fizeram sofrer. Além disso, terão aprendido eles próprios a educar as gerações futuras.

P.S. Este texto é uma adaptação de um outro de A. Vilar.