Um caso de insucesso escolar: quando a responsabilidade do mesmo pende para a família

Data de publicação: Nov 13, 2012 10:59:31 PM

Sendo que o sucesso / insucesso escolar depende das inter-relações estabelecidas entre Escola / Família / Aluno, é justo apresentar casos que mostrem mais manifestamente a influência de cada um destes vértices e não apenas dum. Vamos apresentar um 2º caso de insucesso escolar, desta feita em que a responsabilidade do mesmo pende para a família.

Aqui vamo-nos socorrer de outras fontes.

O Rafael tem 12 anos. Frequenta o 7º ano pela 1ª vez. Neste início de ano teve níveis negativos a todas as disciplinas. A mãe (sempre as mães) diz que já não sabe o que fazer e lança-nos, uma vez mais, um pedido de ajuda.

A esta mãe lembramos o percurso do filho até ao momento e o que foi feito, ou não para evitar esta situação.

O Rafael entrou cedo para a escola, ainda com 5 anos. Dos mais novos na turma desde cedo se notaram algumas dificuldades em manter a atenção e concentração, mostrava-se agitado na sala de aula, os seus interesses ainda eram muito dirigidos para as brincadeira próprias da idade. Em consequência, as aprendizagens académicas começaram cedo se começaram a manifestar. A mãe é alertada para a necessidade de colaborar mais com a escola e reforçar o trabalho que é feito em contexto escolar. Nada acontece de novo em casa.

Fica retido no 2º ano e a mãe muda-o de escola. As características do comportamento mantêm-se. A elas acrescenta pouco estudo e ausência de métodos de trabalho. A professora nota que a família adopta atitudes e comportamentos contrários a uma boa prestação escolar: a criança nem sempre faz os trabalhos de casa; é solicitado à família uma maior e harmoniosa colaboração com a professora que não chega a concretizar-se; faz o que quer em casa (vê tv ou joga consola quando quer e até quando quer) menos estudar; o Rafael obtém tudo o que quer da mãe (pode demorar mais semana menos semana, mas consolas, jogos e todo o tipo de brinquedos acabam no seu quarto) sem qualquer educação do sentido de esforço e mérito; pior ainda, o comportamento do aluno com a professora é normal mas quando na presença da mãe torna-se um provocador e desrespeita a mãe que não se impõe em caso algum; o pai é figura ausente na educação do filho e quando confrontado com a situação do filho, justifica com um “eu também era assim”.

A professora acaba por solicitar a ajuda dos serviços de apoio da escola que após avaliação da situação procura envolver mais a família na educação do filho, nomeadamente na adoção de práticas educativas mais assertivas e firmas que possam ajudar o Rafael descobrir o seu papel na família e na escola. Os esforços dos técnicos não dão resultado. As dificuldades acentuam-se e o comportamento agrava-se.

O Rafael termina o 1º ciclo. Leva consigo algumas lacunas pedagógicas para anova escola. Aqui faz o 5º ano com 3 negativas e o 6º com igual número de níveis negativos (transitou com positiva na disciplina de Português). As lacunas agravam-se e o desinteresse é cada vez maior.

Em síntese, desde o primeiro momento que a mensagem dos professores é: “O Rafael tem capacidades mas não as aplica, não se interessa por aprender e não trabalha”. Mas também desde o início que esta família não ouviu aquilo que os docentes lhe foram dizendo e não ajudou a ação dos professores como estes lhe solicitaram.

Atualmente às questões relacionadas com a aprendizagem começam a associar-se questões relacionadas com o comportamento. Habituado a fazer o que quer começa a chocar em casa com os pais e com os pares. A mãe, o pai continua noutra dimensão, começa a tomar consciência de que tem de ser mais firme com o filho. Nunca é tarde mas muitos problemas poderiam ser evitados.

Com este historial não é difícil perspetivar o que será o futuro próximo do Rafael na escola. Habituado a obter tudo sem esforço vai continuar à espera que assim continue e não vai aceitar sem contestação a tentativa de mudança da mãe.