As ilusões do empreendedorismo que nos querem "vender"

Data de publicação: Oct 09, 2013 10:4:22 PM

É inevitável! Ouvimos uma e outra vez que também se aprende com os erros, com as experiências que correram mal, com os fracassos. E, contudo, quando é para se refletir sobre uma qualquer coisa, uma qualquer atividade, 99% das ilustrações são com casos de sucesso. Foi sempre assim: os sucessos têm sempre maior visibilidade do que os insucessos. E, de facto, olhe para onde olhar, o que se vê são casos de sucesso: estrelas de rock, artistas, escritores, empresários. Aparecem em todo o lado: rádio, televisão, capas de revista, congressos, internet. O que fazem não pode deixar de se ouvir.

Contudo, para quem está de fora, isto não deixa de criar uma ilusão porque, estatisticamente, a probabilidade de se ter “esse êxito”, numa qualquer atividade, é muito reduzida. Por detrás de um caso de sucesso quantos não terão ficado pelo caminho? Sabemos apenas que são muitos e, em concreto, de um ou outro caso que nos seja mais familiar.

E depois fazem-se estudos, retrospetivos, arqueológicos (chamem-lhe o que quiserem), com as pessoas bem-sucedidas para explicar esse êxito (por vezes, fruto do mero acaso, há que dizê-lo) e encontram-se os fatores de sucesso. Com tais credenciais, fica encontrada a “base científica” do caminho para o êxito, as características dessa estirpe de pessoas “especiais”, talhadas para o sucesso. O irónico é que se se estudar da mesma forma os que fracassaram (pessoas, empresas) verificamos que os mesmos “factos de sucesso” também lá estão presentes com frequência.

Como a comunicação social não tem qualquer interesse em conhecer o universo dos fracassos, compete a nós, numa atitude preventiva e educadora, visitarmos e estudarmos aqueles projetos e pessoas que muito prometiam mas que acabaram por não corresponder. É que esta ilusão cai que nem uma luva na tendência humana de sobrevalorizar sistematicamente a probabilidade de sermos bem-sucedidos. Mas isso também só acontece porque algures, na nossa história pessoal e coletiva, noa abstivemos de pensar e deixamo-nos levar pela corrente dominante, ao ponto de alterarmos, e muito, as nossas referências.

Mas para que fique claro, ansiamos por ser “bem-sucedidos”, mas mais desta forma:

"Rir frequentemente e muito; conquistar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; conseguir o apreço de críticos honestos e aguentar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja através de uma criança saudável, de um caminho de jardim ou de uma condição social redimida; saber que pelo menos uma vida foi mais fácil porque você viveu. Isto é ter sido bem- sucedido." Ralph Waldo Emerson