Um caso de sucesso: um jovem ao re-encontro de si próprio

Data de publicação: Feb 17, 2014 2:54:47 PM

Deixem que falemos um pouco de Z.. Z. é um jovem de 16 anos, inteligente, sociável e criativo, mas também inseguro, por vezes sem orientações internas claras, e facilmente influenciável pelos colegas. A instabilidade sócio-familiar não permitiu uma infância muito feliz e fácil. Antes pelo contrário, penalizou-o bastante. Talvez fruto dessa carga Z. nunca gostou muito da escola, no que ela tem a ver com as aprendizagens, com as actividades académicas. Mas, como qualquer criança gostava da escola porque era lá que estavam os seus pares e onde a brincadeira era possível. Daí não ser estranho que o insucesso começasse cedo a pautar o seu percurso escolar.

Há cerca de ano e meio iniciamos um processo de intervenção psicológica com o Z. Desde cedo ficou claro que, para além das dificuldades de aprendizagem e das lacunas pedagógicas, que manifestava, o Z, apresentava, sobretudo, um problema de atitude e expectativa em relação à escola (a escola não vale a pena… não se aprende nada). A um outro nível o jovem mostrou-se sempre receptivo à relação com o outro, apesar de, por vezes, sobretudo nos períodos de maior instabilidade emocional, apresentar algumas oscilações em que parecia não estar connosco.

Perante este quadro, começamos por tentar estancar os efeitos nefastos dum historial de insucesso e, em colaboração com os agentes educativos, encontramos forma da escola se adaptar às características do jovem, respondendo melhor às suas dificuldades e proporcionando outras possibilidades de sucesso. Isto conseguido, procuramos intervir onde estava o verdadeiro problema: na motivação face à escola.

Não é fácil motivar-se alguém como o Z. para a escola, para uma realidade que não valoriza a individualidade, a criatividade e a iniciativa mas, pelo contrário, exige a conformidade e a submissão. Mas não há outra via e a nossa única esperança foi acreditar na mente saudável de Z., naquela parte que sabe que o seu desenvolvimento harmonioso depende de si e da relação que consegue estabelecer consigo e com os outros, e da relação com a comunidade.

Ao longo dos meses e muitas horas de psicoterapia, tentamos muitos métodos de abordagem (intervenções mais directivas, quando se justificava; intervenções de apoio; actividades de reeducação pedagógica quando necessário; actividades lúdicas; técnicas de relaxamento; actividades de grupo; etc.) e fizemos avanços, recuos e desvios. Não raras vezes nos sentimos, ambos, frustrados, porque se não conseguia manter os resultados alcançados. Não raras vezes, também, tivemos de lidar com a incompreensão de alguns outros, sempre muito preocupados com as mudanças imediatas no comportamento. Contudo, nunca desistimos e sempre falávamos como se mudança desejada estivesse já ali, ao alcance dum simples toque. Sempre tentamos re-significar o que acontecia procurando cunhar um carácter de aprendizagem no que acontecia.

E eis que há 3/4 meses notamos que o Z. está diferente: tranquilizou; definiu objectivos para si; está a trabalhar para os atingir; mostra estabilidade na sua vontade; está capaz de dizer “não”; começa a acreditar mais em si, naquilo que é capaz de conseguir; começa a gostar de aprender; começa a ajustar a sua postura na escola; começa a receber dos outros uma imagem positiva e consistente. Mas o melhor ainda é que o Z. nota que está diferente. Reparou que está a mudar (em casa, na escola, na relação com os pares) e que, mais importante, isso que lhe está a acontecer tem a ver com ele e depende dele. Nesse processo o Z. começa a acreditar que é capaz de fazer diferente, de fazer melhor para se aproximar daquela pessoa que ele deseja para si próprio.

O interessante e gratificante nisto é observar o Z. envolvido no seu próprio processo de crescimento, que ele, finalmente, despertou e cresce. Muito trabalho ainda há pela frente, pelo que não sabemos o final da história, mas sabemos que para o Z. nada será como dantes, mas julgamos que será para melhor.

E isto merece uma pequena história. O Vale da Morte é uma zona dos Estados Unidos, quente, árida, onde não chove e onde nada vive. Acontece que, julgamos que no Inverno de 2004, choveu por breves instantes uma daquelas chuvas intensas. O curioso é que passado pouco tempo o Vale da Morte cobriu-se de flores. A vida é algo que está sempre pronta a irromper, assim existam condições para o fazer.

Todos trazem em si sementes de vida que apenas esperam possibilidades para se manifestarem.

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foto de josequetambemcorre.blogspot.com