Ensinar a honestidade às crianças

Data de publicação: Jan 15, 2013 5:31:10 PM

Ensinar a honestidade, ou melhor, transmitir o valor da honestidade, às crianças, aos seus filhos, exige muito de nós, de si. Não é a mesma coisa que ensinar a apertar os botões das calças ou do casaco ou atar os cordões dos sapatos, em que lhes dizemos como é, exemplificamos algumas vezes, supervisionamos as primeiras vezes que o fazem e eles, depois de entenderem o processo, avançam ao ritmo dos seus exercícios até se tornarem exímios.

Ensinar honestidade exige uma quantidade enorme de paciência e muito tempo, pois elas terão de ter aulas diárias durante muitos anos até formarem a sua identidade. Para além disso não é fácil transmitir valores que na sociedade actual assumem relatividades e sentidos que os encerra em muitas contradições e, por vezes, perversidades. Quanto aos exemplos do topo da sociedade é melhor não falar, pois arriscamos a ficar já sem qualquer vontade de falar da honestidade aos mais pequenos.

Então a pergunta é: Podemos ser honestos? Podemos ensinar a honestidade? A resposta é um duplo sim, tanto mais que só podemos responder sim à segunda questão se tivermos respondido sim à primeira.

Ensinar a honestidade passa por incentivar as crianças a falarem a verdade e a deixarem-nos conhecer o que se passa nas suas mentes. Se a primeira das acções é relativamente fácil, a segunda não o é. Por vezes assustamo-nos com o que eles possam pensar ou sentir; às vezes não entendemos, às vezes são coisas tão diferentes das nossa ideias que nos deixam incomodados e sem saber o que pensar. Mas atenção! Não nos devemos assustar com aquilo que as crianças, os seus filhos, dizem, por muito esquisito que possa parecer. Não esqueçamos que é a sua forma de conceber o mundo e que quando falam connosco, quando falam consigo, é um óptimo momento de as conhecer melhor e, dessa forma, também as ajudar a pensar, a colocar um pouco mais de ordem no seu mundo. E, também muitas das vezes, ajuda-las a lidar com sentimentos negativos.

Imaginemos um pequeno, felicíssimo a bater com o novo brinquedo no chão e este a dar sinais de que vai partir. A nossa reacção é tirar o brinquedo. Qual será a reacção do pequenote? Vai ficar fulo, pois aquilo estava a dar-lhe tanto prazer. Talvez nesse momento possamos perguntar-lhe o que sente em relação ao que lhe fizemos mas devemos aguentar com a resposta sem ficar ainda mais fulos. É importante aí dizer-lhe que não há problema nela falar do que sente, mesmo que isso seja dizer que é um “louco”, e que isso não o vai deixar zangado. A seguir pergunte-lhe porque pensa isso. Dessa forma estamos a ensinar-lhes que podem falar abertamente, com honestidade, do que sentem sem que nós fiquemos zangados e que retaliemos, porque somos mais fortes. Estamos a dar oportunidade de expressarem os seus sentimentos sem os julgarmos ou castigarmos por isso.

Uma segunda forma de incentivar a honestidade é evitar confrontos que, de alguma forma, possibilitem a mentira. Ninguém, mesmo os adultos, gosta de ser confrontado, mesmo quando sabe que errou. A confrontação deixa-nos com a sensação de desconforto. Por isso, se já sabemos a resposta, porque perguntar? Querem um exemplo. Ainda na semana passada, na conversa com uma criança (12 anos) que tinha acabado de ser excluído pelo professor duma actividade (e com muita razão), a certa altura (mesmo sabendo a resposta) perguntamos se ela gostava daquilo que os colegas iam fazer. Imediatamente nos disse que “Não, que não gostava”, mas depois passou boa parte do tempo a tentar encontrar forma de alterar a decisão do docente. A criança mentiu mas porque criamos condições para ela o fazer. E que conclusões podemos tirar daí?

Como naquele anúncio em que o personagem come o último bombom e é confrontado com isso. O bom seria que ele, no lugar de ficar embaraçado, enchesse o peito de ar e dissesse: "Sim, eu comi o último bombom, e devo ser honesto, ele foi o melhor de todos."

A terceira, e mais importante, forma de ensinar a honestidade, é dando o exemplo, mostrando coerência, exibindo integridade. A educação de valores não é possível doutra forma. Somos honestos connosco mesmo e com os outros? Praticamos a honestidade? Mentimos para as crianças, para os nossos filhos? Se lhes mentimos, porque ficamos furiosos ou muito preocupados quando eles nos mentem?

E depois já repararam como usamos, por vezes e sem pensar, a mentira “boa”, não intencional, no quotidiano? Querem exemplos?

- “Toma, isto é um remédio e sabe tão bem” (quando sabe mal).

- “Vá, isto não dói nada” (mas causa dor e não é agradável).

- “Não me demoro nada na loja… é entrar e sair” (na maioria das vezes sabemos quando entramos não sabemos quando saímos).

Atenção que com estas e muitas outras mentiras “insignificantes” podem transmitir a ideia às crianças que elas não podem confiar em si.

Adaptado de: Teaching Honesty and Responsibility to Your Children (Sandra Hardin Gookin and Dan Gookin)