5 Questões sobre a Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção

Data de publicação: Nov 23, 2012 9:39:34 AM

Ontem realizou-se mais uma tertúlia. Foi sobre a Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA). Estávamos poucos (para ser mais dinâmico e motivador somos necessários mais) mas a conversa foi muito proveitosa, especialmente porque nestas condições houve oportunidade para se falar de situações concretas colocadas pelos pais. E aí, julgamos que muitas dúvidas foram esclarecidas e que, em termos de práticas educativas, alguma coisa de diferente irá acontecer. Esperemos que para melhor.

Na preparação da tertúlia elaboramos uma lista com as questões a abordar com os participantes, que passamos a descrever.

A primeira questão é a pertinência de se pensar neste assunto, porque estamos a falar da razão principal pela qual as crianças em idade escolar são referenciadas para receber atendimento médico ou psicológico; porque estamos a falar da perturbação neurocomportamental mais frequentemente diagnosticada nas crianças (em Portugal atinge cerca de 9,2% dos rapazes e 2,1% das raparigas em idade escolar); e porque estamos a falar da crescente intervenção farmacológica nesta área, que vai a par com o crescente número de diagnósticos de PHDA.

É certo que muitas das crianças actualmente “rotuladas” e “medicadas” para este tipo de perturbação não o são. Mas, perante as dificuldades que alguns comportamentos manifestados pelas crianças colocam a pais e educadores, continua a ser muito mais fácil “rotular”a criança de “hiperactiva”, do que pensar no que esses comportamentos podem significar. E, depois do rótulo instalado, é muito difícil voltar atrás. E, às vezes, estes comportamentos são apenas sinal da nossa pouca disponibilidade, da nossa pouca paciência, da nossa impreparação ou da nossa recusa perante as exigências dum trabalho (educação) desgastante.

A segunda questão é uma pequena definição da Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção. A PHDA é caracterizada por dificuldades em manter a atenção na execução das tarefas, actividade motora excessiva e impulsividade, em níveis inadequados para a fase de desenvolvimento da criança. É considerada uma perturbação crónica, cujos sintomas se começam a notar na infância e se estendem até à idade adulta, influenciando a relação entre pais e filhos e entre educadores e educandos, bem como o desempenho escolar e as relações com os pares.

Como é uma perturbação que se faz sentir muito na relação com o meio, é habitual acarretar outro tipo de problemas que podem levar ao aparecimento e desenvolvimento, na criança, doutro tipo de perturbações, como a perturbação de oposição e comportamentos de agressividade, perturbações emocionais e desmotivação escolar; e, no adulto educador, maiores níveis de stress e a adopção de estilos educativos autoritários.

Uma terceira questão prende-se com as suas causas. Os dados actuais da investigação apontam para que factores de ordem biológica contribuam para a sua ocorrência. É por aí que se compreende que a criança hiperactiva apresenta os comportamentos típicos da perturbação em qualquer contexto e em qualquer actividade. Não é possível a criança “ser”hiperactiva na escola e não em casa; numas actividades sim e não noutras.

Uma quarta questão é que esta perturbação apresenta variabilidade na ocorrência de sintomas, dependendo dos contextos em que a criança está inserida. Isto é, existem factores que maximizam ou minimizam a manifestação desses comportamentos. Aqui, talvez o factor mais importante seja o nível de estruturação do meio ambiente e da tarefa. Quanto mais estruturado o ambiente e a tarefa menor a manifestação destes comportamentos. Parece também que os comportamentos característicos desta perturbação são mais passíveis de ser exacerbados quando as situações são altamente repetitivas, aborrecidas e familiares, quando comparadas com situações novas e estimulantes.

A quinta questão, e última questão, prende-se com a intervenção junto da criança portadora de PHDA. Primeiro é necessário ter consciência que não existe cura para a PHDA. Existe tratamento que ajuda a lidar melhor com este tipo de comportamentos, a diminuir a sua frequência e intensidade e, consequentemente, a melhorar a sua relação com o meio ambiente e os outros. As intervenções mais comuns são a farmacológica, a intervenção centrada na criança e na implementação de programas de ajuda aos pais e educadores.

Na nossa humilde opinião, uma intervenção junto destas crianças exige: primeiro, um correcto diagnóstico médico/psicológico (o que, temos de o admitir, nem sempre o vemos acontecer); uma intervenção que contemple o apoio do médico (terapêutica farmacológica), a intervenção junto da criança o apoio aos pais (terapêutica psicológica). Perante uma situação de PHDA uma intervenção que não inclua uma destas vertentes é, na nossa opinião, incompleta.