Noémia de Sousa
Se me quiseres conhecer
Se me quiseres conhecer,
estuda com olhos de ver
esse pedaço de pau-preto
que um desconhecido irmão maconde
de mãos inspiradas
talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.
Ah! Essa sou eu:
órbitas vazias no desespero
de possuir a vida
boca rasgada em ferida de angústia,
mãos enorme, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado, feridas visíveis e invisíveis
pelos duros chicotes da escravatura...
torturada e magnífica
altiva e mística,
Africa da cabeça aos pés.
Ah! Essa sou eu
Se quiseres compreender-me
Vem debruçar-te sobre a minha alma de áfrica,
Nos gemidos dos negros no cais
Nos batuques frenéticos do muchopes
Na rebeldia dos maxanganas
Na estranha melodia se evolando
Duma canção nativa noite dentro.
E nada mais me perguntes
se é que me queres conhecer…
que não sou mais que um búzio de carne
onde a revolta d´África congelou
seu grito inchado de esperança.