Didática da Língua
A modalidade dá conta das marcas de subjetividade do locutor no enunciado, e pode apresentar três grandes variantes:
Modalidade apreciativa: o locutor pretende exprimir uma opinião sobre um enunciado anteriormente produzido (implícito)
[Cheguei a horas.]
- Finalmente, chegaste a horas.
Modalidade deôntica: o locutor pretende agir sobre o seu interlocutor, através do enunciado que, em determinado momento, produz.
- Senta-te. (imposição)
- Não sais, não. (proibição)
- Podes sair. (autorização)
Modalidade epistémica: exprime a certeza, a probabilidade, a possibilidade… do locutor quanto à verdade do conteúdo do seu enunciado.
O Centro Cultural de Belém foi construído no séc. XX.
O Centro Cultural de Belém não foi construído no séc. XXI.
O Centro Cultural de Belém não deve ter sido construído no séc. XIX.
Não é possível que o Centro Cultural de Belém tenha sido construído no séc. XIX.
A modalidade pode ainda manifestar-se em advérbios disjuntos, em adjetivos com valor avaliativo ou afectivo, em verbos como querer, parecer, crer, admitir; em advérbios ou locuções adverbiais como talvez, Para ser sincero…
Em análise:
Matilde (com autoridade para o Principal Sousa)
Cale-se! Agora sou eu que lho ordeno! De tanto abrir a boca, taparam-se-lhe os ouvidos e de tantas vezes repetir a mesma coisa, esqueceu-se de que as palavras têm sentido e obrigam a quem as profere! A todos chega a hora de prestar contas.
(Pausa)
Ainda se lembra das palavras do seu Amo?
“Ninguém pode servir a dois senhores; porque há-de odiar a um e amar o outro, ou há-de afeiçoar-se a um e desprezar o outro.”
O vosso credor Gomes Freire d’Andrade deseja saber a quem servis!
(Pausa)
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça porque deles é o reino de Deus.”
O vosso credor Gomes Freire d’Andrade está numa masmorra por amor da justiça e quer saber o que fizestes, senhor, para reconhecer o seu direito a esse amor!
(Pausa)
“Porque eu vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e a dos fariseus, não entrareis no reino de Deus.”
Senhor: ainda os presos não tinham sido condenados e já nas igrejas se rezava o Te Deum!
O vosso credor Gomes Freire d’Andrade exige que a vossa justiça exceda a dos escribas e a dos fariseus!
“Ouviste o que foi dito aos antigos: não matarás e quem matar será condenado em juízo.”
O vosso credor Gomes Freire d’Andrade vai ser morto por ordem da regência de que fazeis parte – ou será que a vossa direita não sabe o que faz a esquerda?
(Avança para ele)
Estou aqui a pedir-vos contas!
Luís Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar!