Do não verbal ao oral
Quadro da linguagem não verbal
A reflexão sobre O quadro da linguagem não verbal permite, por um lado, analisar o comportamento do professor na sala de aula; por outro, permite uma visão mais correcta sobre o desenvolvimento da competência de comunicação oral.
Reconceptualização teórica do comportamento comunicativo intencional do docente: nova perspectiva de análise (artigo):
a) O processo de comunicação deve ser entendido segundo um duplo aspecto ou função: o aspecto informativo (verbal) e o aspecto relacional (não - verbal).
De acordo com Argyle (1987), o aspecto não - verbal cumpre no processo comunicativo três funções:
Comunica atitudes e emoções interpessoais
Apoia a comunicação verbal: completando o significado das emissões proposicionais; controlando a sincronização; obtendo feed-back; sinalando a atenção.
Substitui a linguagem.
b) O tipo de comunicação que se estabelece na aula tem uma notável influência no êxito e eficácia do ensino.
c) A partir dos anos 50, começa a reconhecer-se a importância da comunicação não- verbal.
d) Razões fundamentais para a necessidade dos professores serem conscientes da comunicação não - verbal na aula:
Para receber melhor as mensagens dos alunos (descodificação)
Para adquirir habilidades em enviar aos alunos sinais positivos que reforcem a aprendizagem e, ao mesmo tempo, evitar sinais negativos que dificultem a mesma (codificação).
e) As grandes áreas de comportamento não - verbal:
· Área das expressões faciais
· Área ocular
· Área proxémica (proximidade física)
· Área táctil
· Área cinésica ( a comunicação por meio de movimentos e gestos corporais recebe o nome de cinesis)
f) Onde integrar a entoação (o tom de voz)?
g) A utilização estratégica dos comportamentos não - verbais pelo professor é um dos meios de obter a atenção e conquistar a cooperação dos alunos nas actividades de classe e a forma mais directa de modificar e criar novos contextos na aula...
h) Que conhecimentos têm os professores dos seus comportamentos não verbais? Qual o grau de consciência dos mesmos?
1. Doc. Reconceptualização teórica do comportamento comunicativo intencional do docente: nova perspectiva de análise[1]
2. A linguagem[2]
§ A linguagem pressupõe a utilização de um código comum e a capacidade pessoal de simbolizar, isto é, de representar o real através de signos e de compreender a significação desses signos. A linguagem tem essa função de representação que permite apreender a realidade. E tem a função de comunicação, de relação, que permite apreender o outro.
§ Representação e simbolização são anteriores à linguagem - “a representação das coisas”.
§ Uma representação corresponde a uma “entidade” de natureza cognitiva reflectindo, no sistema mental do indivíduo, uma fracção do universo exterior a esse sistema.
§ O diálogo não-verbal. A “orquestra” como metáfora do contexto interactivo.
§ Do significante ao significado: a criança acede primeiramente ao significante do signo linguístico ( entoação, timbre, ritmo da voz), a uma imagem acústica... Progressivamente, um sentido é atribuído ao traço sensorial, um conceito é associado à imagem acústica.
§ A aprendizagem da linguagem inscreve-se num contexto interactivo, afectivo, indispensável para o acesso da criança à capacidade de representar, de simbolizar, de se pensar e de pensar o outro.
§ A imagem mental corresponde a uma imagem interiorizada. Essa interiorização testemunha o acesso à permanência do objecto: o objecto que desaparece do campo perceptivo, é concebido como continuando a existir.
§ A evocação verbal, na linguagem, corresponde à capacidade de nomear o objecto ausente...
§ Não é a linguagem que permite ao indivíduo entrar no mundo dos símbolos. É a função simbólica que permite ao indivíduo aceder à linguagem. A linguagem favorece apenas a interiorização.
§ Não é a palavra que cria o objecto; ela acompanha-o, representa-o sem qualquer dúvida, mas o objecto pre-existe. Antes da linguagem, há necessariamente reconhecimento da existência do objecto como exterior a si, diferente de si, fonte de prazer ou de desprazer.
§ A aprendizagem da linguagem não faz da criança um sujeito; é preciso que ele esteja em interacção afectiva com os seus pares, que possa pensar-se através deles, representá-los para si.
Dimensões do oral[3]
1.
“La parole n’a pas été donnée à l’homme, il l’a prise.” Aragon
O que é a expressão oral?
Dimensões da expressão oral:
§ fisiológica
§ linguística
§ mental ou intelectual
§ terapêutica
§ comunicativa
§ pragmática
A palavra tornou-se num meio de acção, um modo de expressão, uma força persuasiva, um verdadeiro poder. Em consequência do desenvolvimento do audiovisual e do trabalho em grupo, cada vez mais pluridisciplinar, a expressão oral adquiriu, nesta época, um lugar que o professor de português não pode descurar.
Por outro lado, a socio-linguística demonstrou, entretanto, que há múltiplas línguas orais ( das crianças, dos professores, da rádio, da televisão ...), o que aconselha uma atitude menos monolítica e mais consciente do papel condicionante da expressão oral, em termos de sucesso individual, e certamente que colectivo.
A especificidade da linguagem oral resulta da sua simultaneidade com o pensamento. O oral constrói-se em situação, enquanto que o escrito é um acto premeditado, reflexivo.
Saber falar é também saber pensar e dominar o desenvolvimento do pensamento. Encontramo-nos na dimensão verdadeiramente mental ou intelectual da expressão oral. Falar significa confrontar-se com as suas ideias, fazê-las sair de si próprio. As palavras tornam-se deste modo objecto de análise, de crítica, de enriquecimento. Elas objectivam o nosso pensamento.
A expressão oral é o nosso meio de comunicação privilegiado.
Falar é, portanto, gerir um diálogo no sentido lato, isto é, prepará-lo, prevê-lo, estruturá-lo em função de um objectivo, conduzi-lo, fazê-lo evoluir, relançá-lo, apaziguá-lo (há palavras que curam), conclui-lo.
Falar é viver a dois ou em grupo (interacção) em frente de uma câmera, de um público, de um micro ...
Falar é escutar (ouvir)...
[1] - Isabel Cuadrado Gordillo, in Revista de Comunicação e Linguagens, nº 17 / 18.
[2] - Michèle Paulin, Entre cri et silence. "La parole autiste"
[3] - Lionel Bellenger, L'Expression orale, P.U.F.