O texto em ação
I - O ENUNCIADO[1]
A matéria linguística é apenas uma parte do enunciado. Existe uma outra parte, não verbal que corresponde ao contexto da enunciação.
O contexto de enunciação é composto:
a) pelo horizonte comum: coordenadas espácio-temporais; objecto ou tema do enunciado (referente);
b) a avaliação, isto é a relação dos locutores com o que se passa.
A diferença entre enunciado e proposição, unidade de língua, consiste em que o primeiro é necessariamente produzido num contexto particular, que é sempre social, enquanto que a segunda não tem necessidade de contexto.
O enunciado é dirigido a alguém.
O próprio locutor é um já um ser social.
Todo o enunciado pode ser considerado como fazendo parte de um diálogo.
II - Competência de Compreensão prática[2]
1. Acção: Aquilo que alguém faz.
2. Objectivo: As acções implicam objectivos cuja antecipação não se confunde com qualquer resultado previsto ou predito, mas compromete aquele de quem depende a acção.
3. Motivo: Por outro lado, as acções remetem para motivos que explicam porque é que alguém faz qualquer coisa.
4. agente: As acções têm ainda agentes que fazem e podem fazer quaisquer coisas que são tomadas como obras suas.
· Identificar um agente e reconhecer-lhe motivos são operações complementares
5. circunstâncias: Os agentes agem e sofrem em circunstâncias que eles não produziram e que, contudo, pertencem ao campo prático.
6. interacção: Agir é sempre agir “com” outros. A interacção pode tomar a forma da cooperação, da competição, ou da luta...
7. saída (epílogo) - O desfecho da acção pode ser uma mudança de sorte no sentido da felicidade ou do infortúnio...
· As perguntas sobre o quê, porquê, quem, como, com ou contra quem da acção supõem respostas em que os termos atrás referidos surgirão.
· Dominar a rede conceptual no seu conjunto, e cada termo a título de membro do conjunto, é ter a competência que podemos designar por compreensão prática.
III - Competência de compreensão narrativa[3]
Qualquer narrativa pressupõe da parte do narrador e do seu auditório uma familiaridade com as seguintes noções:
IV - Técnicas e métodos[4]
· Exprimir ideias e sentimentos implica procurar a clareza: de vocabulário, de pensamento; organizar o discurso em função de um objectivo a atingir, definir as diferentes etapas do discurso, caminhar de preferência do geral para o particular...
· Dialogar sob um modo familiar ... é preciso distinguir a conversação da “causerie”, do colóquio, da conferência, do diálogo, do “entretien”...
· Recontar: situar as bens personagens e as circunstâncias da acção; sugerir a atmosfera com notas bem precisas...; ordenar os diferentes elementos e episódios da narrativa...; adaptar o estilo da narrativa ao suporte (escrito ou oral), assim como à natureza do auditor...; encontrar o tom adequado à matéria da narrativa...
· Demonstrar
· Persuadir
· Polemicar
· Fazer um discurso
· Descrever
· Questionar
· Esquematizar
· Situar
· Debate
· Entrevista
V - Planificar é antes de mais reflectir sobre as funções intelectuais , finalidades, técnicas e processos de educação
Funções intelectuais
Finalidades, técnicas e processos de Educação
Valores e finalidades
Técnicas e processos correspondentes
· Conservação da aquisição
· Aceitação, respeito, obediência, disciplina
· Imitação, concorrência
· Formação do homem segundo um modelo, desenvolvimento de um tipo de homem pré-determinado
· Aquisição de conhecimentos de acordo com resultados testados
· Memorização
· Respeito pelo Mestre
· Reprodução de modelos propostos
· Trabalho individual
Valores e finalidades
Técnicas e processos correspondentes
· Pôr em questão
· Imaginação, disponibilidade, autonomia
· Dinamismo, adaptação
· Iniciativa inovadora
· Responsabilidade
· Originalidade
· Cooperação
· Desenvolvimento do maior número possível de capacidades
· Resolução de problemas
· Actividade dos alunos
· Criatividade
· Reflexão pessoal
· Mestre animador; cooperação com os alunos
· Trabalho de grupo
· Iniciação aos métodos de trabalho
· Autogestão; participação dos alunos na escolha dos domínios de estudo, dos métodos...
· Documentação
· Expressão
VI - Condições de realização, situação de comunicação e situação de enunciação
Condições de realização
Situação de comunicação
§ Os contactos entre o ou os locutores e aqueles a quem se dirigem são próximos ou afastados uns dos outros? O contacto entre eles é imediato ou diferido?
§ As características formais da troca:
- trata-se de uma comunicação isolada ou incluída num acto mais largo ( exemplo: entrevista ou conversação telefónica retransmitida pela rádio)
- o interlocutor é único ou múltiplo?
§ As trocas entre várias pessoas:
- qual é o número de participantes?
- será possível contar as vezes que cada um “tomou” a palavra?
- a comunicação assenta num ritual preciso?
§ O tema:
- é apresentado de forma explícita?
- é de referência concreta ou abstracta?
- reporta-se a um acontecimento?
§ As finalidades:
- trata-se de uma transmissão de um “saber” pedagógico ou outro?
- o locutor esforça-se ou não em convencer os seus interlocutores?
- fazem afirmações sem objecto definido?
Situação de enunciação
§ A um único locutor e a um único interlocutor podem responder, ao nível da elaboração do discurso, vários enunciadores e enunciatários.
§ A linguagem não é apenas representativa ou informacional; ela contém no seu seio elementos auto-referenciais que reenviam não para o conteúdo do discurso mas para a sua elaboração: “dès qu’on parle, on parle de sa parole” O.Ducrot, 1980
§ Esta concepção da linguagem implica uma reabilitação dos fenómenos tidos como falhados, como hesitações, ou certas formas de construções segmentadas... cujo papel é indispensável para a interpretação dos discursos orais.
§ A realização técnica do documento:
- duração
- qualidade
- utilização ou não de um suporte escrito prévio
- o papel do micro (escondido ou descoberto)
- carácter amador ou profissional da realização
§ Localização:
- nome da cidade ou da região
- lugar da realização (estúdio, interior, ar livre...)
§ Data
§ Contexto de realização
- acontecimento de ordem: familiar, profissional, política
§ Referentes socioculturais:
- locutores ( sexo, idade, profissão)
- relações ( familiares, profissionais e/ou amigáveis; presença ou não de relações hierárquicas)
[1] - Tzvetan Todorov, Mikhail Bakhtine le principe dialogique..., Théorie de l'Énoncé, page 67..., Seuil
[2] - Paul Ricoeur - Le temps et le récit 1
[3] - Paul Ricoeur - Le temps et le récit 1
[4] - Dominique Dauvois, L’expression et communication, Fernand Nathan