Pepetela

Carlos Pestana / ver, aqui, Uma Leitura Imagológica...

 

Este autor é, para mim, uma constante fonte de pesquisa. Por isso, irei registar muitas das minhas notas de leitura ao longo de mais de 20 anos. 

 

Fragmentos

1 - De uma entrevista conduzida por Maria Teresa Horta (Diário de Notícias, 7 de outubro de 1990)

- O que é o realismo animista?

- Começamos a brincar com as várias correntes do realismo existentes como, por exemplo, o realismo fantástico, o realismo socialista... e dissemos: nesse caso o nosso realismo é animista, porque põe em jogo essas forças da natureza e dos espíritos, que não sabemos verdadeiramente explicar.

- Mas o que é ou quem é Lueji?

- Uma rainha africana. Um mito. Eu queria exatamente escrever sobre o mito que ela é. Nem existem fontes históricas para alicerçar este mito angolano, que parte da velha tradição oral. E que tem várias facetas, porque há vários povos que estão implicados no nascimento do império lunda. E cada povo tem a sua versão do mito. Por vezes, versões contraditórias... Lueji fascina-me, sobretudo, porque me parece ser a primeira figura histórica mítica de Angola que declaradamente não vai contra aquilo a que se pode chamar de sentimento tribal ( ao casar-se com um príncipe estrangeiro do império lunda).

 

(...) A ideia que fascina: «o império lunda tenta uma conciliação, em que deixa que as culturas próprias continuem a funcionar, assim como as próprias chefias.»

(...) A força dos espíritos: «Em África, o poder está muito ligado à magia, porque eles dominavam a ligação com os espíritos. Neste romance (Lueji), há duas histórias cruzadas: a da rainha Lueji e a de uma bailarina, da atualidade.

(...) A guerra e a escrita: «À noite escrevia, de dia lutava. O facto de escrever ajudou-me a analisar as situações, punha interrogações a mim próprio, fazendo-me atuar, entre aspas, de forma mais correta no dia seguinte. Por outro lado, o facto de estar a combater dava-me experiência e maior riqueza para poder escrever melhor.» (...) «Não há contradição entre combater e escrever. Há sim entre o escritor e o ministro.»