Teste 6

    Era uma vez um pai que tinha um filho que desde muito pequenino costumava ir para o alto de um monte olhar para a Lua. Um dia o pai foi ter com ele e pergun­tou-lhe para que estava ele olhando para a Lua. O menino respondeu: «É que a Lua tem-me dito muitas vezes que meu pai ainda me há-de querer deitar água nas mãos e eu recusar. » Foi o pai para casa e contou à mulher o que o menino lhe tinha dito e ela respondeu-lhe: «Vejo que o nosso filho quer dizer que nós ainda havemos de ser criados dele; o melhor será deitá-lo ao mar.» Foi o pai buscar um caixão, meteu o menino dentro e deitou-o ao mar. O caixão andou três dias no mar até que foi ter a uma terra muito longe e os pescadores, julgando que nele houvesse algum tesouro, foram levá-lo ao rei. O rei mandou-o abrir para ver o que tinha e, vendo que era um menino muito formoso, disse que tomava conta dele e seria seu filho adoptivo.

Mandou o rei educar o menino como se ele fosse um príncipe e, quando chegou à idade de vinte anos, deu-lhe dinheiro para viajar com uma grande companhia de gente, como lhe era dado. Ora o pai e a mãe do menino tinham caído na pobreza e foram pôr uma estalagem em uma terra para ganhar para viver e tinham sempre grandes remorsos pelo que tinham feito ao filho.

Chegou o príncipe com a sua companhia àquela terra e foi hospedar-se em casa de seu pai, sem que o conhecesse. Apenas ali tinha chegado, veio logo o pai para deitar água nas mãos do príncipe para ele se lavar; mas o príncipe recusou e o pai estremeceu. Então o príncipe, notando isto, perguntou-lhe: «Porque é que estremeceste quando me deitaste água nas mãos?» O pai respondeu-lhe: «É que me lembrei agora de que tive um filho que, se agora fosse vivo, teria a vossa idade e que o deitei ao mar, porque ele me disse um dia que eu lhe havia ainda de deitar água nas mãos para ele as lavar e ele recusar. » «Mas que tenho eu com o teu filho?» respondeu o príncipe. «Não tendes nada; vós sois filho do rei e eu sou um pobre estalajadeiro.» Foi o príncipe contar tudo ao rei e, depois de muitas perguntas e respostas, veio-se ao conhecimento de que o príncipe era filho do estalajadeiro. Então este já queria que o seu filho fosse viver com ele e com sua mãe, mas o rei ordenou que fossem eles para o palácio, pois por sua morte o príncipe havia de ficar no lugar dele, como rei. (Coimbra)[1]

Depois de ler atentamente o conto:

1.      Enuncie a predição feita pela Lua, iniciando a frase do seguinte modo: " A lua disse- lhe muitas vezes que..."

2.      Quais foram as consequências dessa predição para o herói?

3.      Demonstre que, em termos de valores morais, a atitude dos pais é completamente oposta à do filho.

4.      Mais tarde, o Rei decidiu pôr o jovem príncipe à prova, mandando-o viajar. Com que objectivo?

5.      Explique por que motivo é que a paragem na estalagem pode ser considerada o nó da intriga?

6.      Porque é que neste conto os pais do "herói" não são castigados?

7.      Mostre como é que o espaço e o tempo contribuem para que este conto seja considerado tradicional.


II

 

Tendo o cuidado de não ultrapassar as 110 palavras, resuma o texto "Produção de Azeite".[2]

         A Oliveira é explorada há muitos séculos. Conhece-se o seu cultivo desde o século IV da civilização egípcia (séculos XXVI a XVIII a.C.). Para além de ser utilizado na alimentação, o precioso líquido servia para fazer perfumes, fazia parte de muitos remédios e, frequentemente, servia para unguentos e inumações (enterramentos). Em Portugal o nome tem origem latina, apesar da sua exploração se ter intensificado com os romanos, que usavam muito azeite na alimentação. Durante o período de ocupação romana a oliveira é equiparada a uma propriedade que engloba não apenas a árvore, mas também o terreno que está por baixo da copa. A sua manutenção, pouco dispendiosa e a vida longa destas árvores tornava a produção do azeite muito rendosa. A oliveira é uma árvore que se adapta aos terrenos mais adversos desde montes escarpados a vales férteis. Durante a Idade Média os maiores centros de produção em Portugal situavam-se em Coimbra e Santarém. Nas Beiras a sua produção era também importante. Nos finais do século XIX esta região conhece um grande aumento na produção de azeite. (…)

     A apanha da azeitona ainda hoje mobiliza muitos homens e mulheres. Na maioria dos casos, até às décadas de sessenta e setenta os ranchos de trabalhadores vinham de outras terras para a apanha da azeitona. Havia um homem que coordenava os trabalhos, o manajeiro e uma mulher, a chefa ou olheira, que vigiava o comportamento moral das raparigas solteiras. Depois de varejadas as oliveiras, as mulheres apanhavam a azeitona dos panos e ensacavam-na. Aos troncos cortados ripava-se o fruto com a ajuda de um pequeno instrumento de madeira, o ripo. Os homens iam varejar para cima das árvores, a apanhar no chão ficavam as mulheres. No final do dia, a azeitona era limpa. Enchiam-se pás de madeira e lançavam-se ao vento para que todas as folhas e lixos voassem. Depois era entulhada até chegar a sua vez de entrar nas prensas do lagar.

III

            Como acabou de ver, ao ler os textos " O Menino e a Lua" e " Produção de Azeite", a natureza pode ser encarada pelo homem, e em particular pelo escritor, de modo diverso.

            Numa exposição, que não ultrapasse as 25 linhas, refira-se ao papel da natureza em uma das seguintes hipóteses:

A - Na poesia portuguesa - do trovadorismo à lírica camoniana.

B - N' "Os Lusíadas".

1999 / 2000


[1]  - Adolfo Coelho - Contos Populares Portugueses, ed. D. Quixote, p. 252-253.

[2]  -  Tempo Livre, Dezembro 1999.