Testes

GRUPO I

 

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

 

PARTE A

Leia o poema.

 

A tua voz fala amorosa...

Tão meiga fala que me esquece

Que é falsa a sua branda prosa.

Meu coração desentristece.

 

Sim, como a música sugere

O que na música não está,

Meu coração nada mais quer

Que a melodia que em ti há...

 

Amar-me? Quem o crera? Fala

Na mesma voz que nada diz

Se és uma música que embala.

Eu ouço, ignoro, e sou feliz.

 

Nem há felicidade falsa,

Enquanto dura é verdadeira.

Que importa o que a verdade exalça

Se sou feliz desta maneira?

Fernando Pessoa, 22.1.1929

 

1.      Determine o tema e exponha o modo como o Poeta o desenvolve.

2.      Identifique os termos utilizados para designar os interlocutores, explicitando a intencionalidade do discurso poético.

3.      Considerando a relação coração – razão desenvolvida ao longo do poema, comente o recurso à interrogação retórica.

 

PARTE B

Leia o soneto. Se necessário consulte as notas.

EVOLUÇÃO

Fui rocha, em tempo, e fui, no mundo antigo,

Tronco ou ramo na incógnita floresta…

Onda, espumei, quebrando-me na aresta

Do granito, antiquíssimo inimigo…

 

Rugi, fera talvez, buscando abrigo

Na caverna que ensombra urze e giesta;

Ou, monstro primitivo, ergui a testa

No limoso paul, glauco pascigo…

 

Hoje sou homem – e na sombra enorme

Vejo, a meus pés, a escada multiforme,

Que desce, em espirais, na imensidade…

 

Interrogo o infinito e às vezes choro…

Mas, estendendo as mãos no vácuo, adoro

E aspiro unicamente à liberdade.

Antero de Quental

 

NOTAS


incógnita: desconhecida; que não se dá a conhecer.

limoso: em que há limo; género de planta da família das algas.

paul: terreno alagado com água estagnada; pântano.

glauco: de tom verde claro ou verde-azulado.

pascigo: lugar onde o gado pasta; pastagem; pasto

 

4.      Identifique e analise a oposição passado / presente, especificando o tipo de evolução em cada um dos tempos.

5.       Comente o 1º terceto, baseando-se no valor conotativo das seguintes expressões: sombra enorme e escada multiforme.

6.      Refira a intencionalidade do Poeta ao escrever este poema.

 

PARTE C

7.       Fernando Pessoa, ao longo da sua obra, aborda frequentemente o tema da felicidade.

Redija uma breve exposição sobre a importância desse tema na poesia de Fernando Pessoa ortónimo.

 

 

GRUPO II

 

(…) Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa. Pensou que havia sido mais uma ilusão de óptica, das que sempre estão a acontecer sem que lhes prestemos atenção, ou que o último copo de aguardente lhe assentara mal no fígado e na cabeça, mas, à cautela, deu um passo atrás para confirmar se, como é voz corrente, os espelhos não se enganam quando mostram. Pelo menos este tinha-se enganado: havia um homem a olhar de dentro do espelho, e esse homem não era Fernando Pessoa. Era até um pouco mais baixo, tinha a cara a puxar para o moreno, toda ela rapada. Num movimento inconsciente, Fernando levou a mão ao lábio superior, depois respirou com infantil alívio, o bigode estava lá. Muita coisa se pode esperar de figuras que apareçam nos espelhos, menos que falem. E como estes, Fernando e a imagem que não era sua, não iriam ficar ali eternamente a olhar-se, Fernando Pessoa disse: “Chamo-me Ricardo Reis.” O outro sorriu, assentiu com a cabeça e desapareceu. Durante um momento, o espelho ficou vazio, nu, mas logo outra imagem surgiu, a de um homem magro, pálido, com aspeto de quem não vai ter muita vida para gozar. A Fernando Pessoa pareceu-lhe que este deveria ter sido o primeiro, porém não fez qualquer comentário, só disse: “Chamo-me Alberto Caeiro.” O outro não sorriu, acenou apenas, frouxamente, concordando, e foi-se embora. Fernando Pessoa deixou-se ficar à espera, sempre tinha ouvido dizer que não havia dois sem três. A terceira figura tardou uns segundos, era um homem do tipo daqueles que exibem saúde para dar e vender, com o ar inconfundível de engenheiro diplomado em Inglaterra. Fernando disse: “Chamo-me Álvaro de Campos”, mas desta vez não esperou que a imagem desaparecesse do espelho, afastou-se ele, provavelmente cansou-se de ter sido tantos em tão pouco tempo.

                      (José Saramago, Fernando Pessoas (excerto), Público, 10 dezembro 1995)

 

1.       Na perspetiva de José Saramago, a descoberta dos heterónimos resultou

 

(A)    de uma ilusão de óptica.

(B)    de um encontro na rua dos Douradores.

(C)    do consumo excessivo de álcool.

(D)   da imaginação criativa do poeta.

2.       Na frase «dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem», o Autor quer dizer que

(A)    os dias são enfadonhos.

(B)    os dias são iguais em qualquer lugar.

(C)    os dias só para o homem se tornam diferentes.

(D)   os dias dos poetas são diferentes dos restantes homens.

3.       Em «Pensou que havia sido mais uma ilusão de óptica», o Poeta terá pensado que fora traído 

(A)    pelo espelho.

(B)    pelo coração.

(C)    pela imaginação.

(D)   pelo sentido visual.

4.       Na frase «Fernando Pessoa deixou-se ficar à espera, sempre tinha ouvido…», as formas verbais têm, respetivamente, um valor aspetual

 

(A)    perfetivo e iterativo.

(B)    habitual e perfetivo.

(C)    Imperfetivo e perfetivo.

(D)   Perfetivo e genérico.

 

5.       Classifique quanto à modalidade e ao valor os seguintes enunciados:

a)      «…. provavelmente cansou-se de ter sido tantos em tão pouco tempo.»

b)      «A Fernando Pessoa pareceu-lhe que este deveria ter sido o primeiro…»

6.       Divida e classifique as orações em «A terceira figura tardou uns segundos, era um homem do tipo daqueles que exibem saúde para dar e vender.»

 

7.       Indique o tempo e o modo da expressão «este tinha-se enganado» e reescreva-a no tempo equivalente, mas simples.

GRUPO III

 

Num texto devidamente estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, exponha o seu ponto de vista sobre a seguinte ideia: 

A cada dia que passa, a liberdade perde terreno, deixando de ser a única aspiração humana.

 

 

Questionário

Um criado veio à vila para compras, e lá os viu, ou alguém lhe falou neles. Imediatamente mandou recado ao Seminário e se pôs em contacto com o chefe da estação. Os fugitivos foram recapturados e trazidos para trás numa carroça. Sei que toda a manhã os submeteram a interrogatórios e, que o P.e Tomás, que sofria do fígado, malhou neles paternalmente. Dois dias ficaram presos até virem as famílias que malharam também o que a decência exigia. (…) Por uma inconfidência de não sei quem, eu soube em que quartos eles estavam prisioneiros. Era justamente à entrada da minha camarata e eu suava de emoção quando lhes passava em frente. (…) Foi no dia seguinte que chegou a família com a sua fome lograda, essa pobre fome de queijos de presbitério, para sempre retirados de uma boca já aberta. E a indignação daqueles santos Padres e o ódio infeliz de uma fome que não se cumpriu, multiplicaram-se sobre os moços em berros e bofetões. Sei que um deles, precisamente aquele de que eu não me lembrava, acutilado pelo pai, se atirou aos joelhos do Reitor suplicando perdão.

- Nunca! – clamou a ira do homem toda de pé. – Seria um exemplo escandaloso. Nunca! Agora siga esse caminho que escolheu.

E ainda bem, meu amigo que não lembro. Ainda bem. Segue o teu caminho de liberdade a prumo. Que dá que sofras, que roas as pedras do teu destino ruim? É teu, amigo. Pertence-te como os ossos e as tripas. É aguentar de peito aberto. Porque, enfim, não valeu bem a pena?

 

- Comenta o excerto transcrito de Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira, tendo em conta os seguintes tópicos:

·         lugar do episódio na narrativa;

·         forças em presença;

·         modos de visão do narrador e das personagens;

·         características do narrador;

·         categorias sociais e respectivos valores;

·         processos retóricos;

·         estilo e destinatário.