O problema da identidade

O Problema da identidade no romance APARIÇÃO

 

Quem é que procura resposta para a pergunta : - Quem sou eu ? Eu o que é que sou?

- Alberto.[1]

Com que materiais é que cada um de nós constrói a sua identidade?

-          Rejeição do património genético e cultural

Tomás não partilha desta rejeição ao falar sobre os filhos:

 

§  Eles são seres independentes, sentem-se a si próprios sem ligações com nada, como nós nos sentimos em relação aos nossos pais. Ainda que se pareçam connosco, que tenham os nossos tiques, eles não o sabem, não o entendem. Mas eu vejo-os de mim para eles e sinto que alguma coisa de mim está neles, que alguma coisa me pertence. A minha vida é única, é um "milagre", como tu dizes. O nada absoluto da morte atordoa. Mas eu sei que para além de mim há a vida e que a vida não morre.[2]

 

Qual é o lugar do "outro" na concepção existencialista?

·         A minha presença de mim a mim próprio e a tudo o que me cerca é de dentro de mim que a sei - não do olhar dos outros.[3] A descoberta do eu-como-alguém é feita através do espelho: " Diante de mim estava uma pessoa que me fitava com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava (...olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobria qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo. Quantas vezes mais tarde eu repetiria a experiência no desejo de fixar essa aparição fulminante de mim a mim próprio, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me anunciava." [4] (Alberto)

·         Mas não me sinto sozinho. Outras partes de mim estão em outro lado e são os filhos que dormem, ou os trabalhadores com quem falei, ou a terra que ajudei a trabalhar. E é como se eu fosse só uma parte de qualquer coisa muito grande que vai para além das pessoas conhecidas e chega às pessoas conhecidas dessas e a outras e para o passado e para o futuro.[5] (Tomás)

 

-          Mas não é isso! É diferente! É muito diferente.[6] (Alberto)

-          Tu disseste que era diferente, que vermo-nos não era vermo-nos nos outros...[7]

-          Não é possível! Tu não viste nada! Tu não viste a pessoa do nosso pai, a realidade única que ele era, que o habitava. Tu não assististe ainda à aparição de ti a ti próprio. (...) Tu vives adormecido nesta quietude da terra e no fundo não sabes que és mortal.[8]

-          O meu problema - disse eu por fim - "criou-se-me", porque o senti meu. Que os outros mo iluminassem, pouco isso importa.[9]

§  Alberto impostor!!!: Mas só há impostura quando há público. E o que eu procuro é ser público de mim próprio.[10]

§  Só em face do meu dever (...) eu me salvo ou me condeno. (...) Uma vida não chega para nos reconhecermos irmãos.[11]

[1]  - Cap. II, p. 23

[2]  - Cap. XIII, p. 137

[3]  - p. 9.

[4]  - Cap. VI, p. 63-64

[5]  - Cap. XIII, p.134

[6]  - Cap. XIII, p. 135

[7] - Cap. XIII, p. 136

[8] - Cap. XIII, p. 136

[9]  - Cap. XIII, p. 139

[10]  - Cap. XVI, p. 170

[11]  - Epílogo, p. 251