Parágrafo-padrão

O parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.

Em geral, o parágrafo-padrão consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária a ideia-núcleo - o tópico frasal -; o desenvolvimento, isto é, a explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta grande complexidade. 

       Othon M. Garcia - Comunicação em Prosa Moderna, p. 203 


Análise do discurso - funcionamento / comparação

Corpus:

• Conto - 3º parágrafo de “Arroz do Céu”, de José Rodrigues Miguéis

• Extracto de uma “notícia” - Público, 1/12/00

• 1 parágrafo do “Sermão de Santo António”

• 1 parágrafo de “ Os Maias”

“Não”. FOI desta forma, curta e clara, que o vice-primeiro-ministro iraquiano, Tareq Aziz, respondeu quando os seus anfitriões russos lhe perguntaram se Bagdad aceitaria o regresso dos inspectores encarregues de supervisionar o desarmamento do país. Esta posição firme compromete qualquer hipótese de um levantamento rápido das sanções impostas ao Iraque na sequência da Guerra do Golfo.

“Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas mãos, que tomá-lo tão indignamente! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o meu alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade. Vós fostes criados por Deus, para servir ao homem, e conseguis o fim para que fostes criados; a mim criou-me para o servir a ele, e eu não consigo o fim para que me criou. Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante dele muito confiadamente, porque o não ofendestes; eu espero que o hei-de ver; mas com que rosto hei-de aparecer diante do seu divino acatamento, se não cesso de o ofender? Ah que quase estou por dizer que me fora melhor ser como vós, pois de um homem que tinha as minhas obrigações, disse a Suma Verdade, que “ melhor lhe fora não nascer ou não nascer homem”: Si natus non fuisset homo ille. E pois os que nascemos homens, respondemos tão mal às obrigações de nosso nascimento, contentai-vos, peixes, e dai muitas graças a Deus pelo vosso.”

P.e António Vieira - Sermão de Santo António


“Os cavalos tinham descansado, Cruges pagou a conta, partiram. Daí a pouco entravam na charneca, que lhes pareceu infindável. De ambos os lados, a perder de vista, era um chão escuro e triste; e por cima um azul sem fim, que naquela solidão parecia triste também. O trote compassado dos cavalos batia monotonamente a estrada. Não havia um rumor: por vezes um pássaro cortava o ar, num voo brusco, fugindo do ermo agreste. Dentro do break um dos criados dormia; Cruges, pesado dos ovos com chouriço, olhava, vaga e melancolicamente, as ancas lustrosas dos cavalos.”

Eça de Queirós - Os Maias


“Sete bispos a baptizaram, que eram como sete sóis de ouro e prata nos degraus do altar-mor, e ficou a chamar-se Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara, logo ali com o título de Dona adiante, apesar de tão pequena ainda, está ao colo, baba-se e já é dona, que fará em crescendo, e leva, por começo, uma cruz de brilhantes que lhe deu seu padrinho e tio, o infante D. Francisco, cuja custou cinco mil cruzados, e o mesmo D. Francisco mandou à rainha sua comadre, de presente, uma pluma de toucar, estou que por galanteria e uns brincos de diamantes, esses sim, de superlativo valor, perto de vinte e cinco mil cruzados, é obra, mas francesa.”

José Saramago - Memorial do Convento