Angola

Notas sobre Angola

Bibliografia

• Cornélio Caley –As sociedades pré-idade de Angola, revista Angolê, nº1, Março 1990

• Carlos Alberto Garcia – A acção dos portugueses no antigo reino do Congo (1482-1543)

• Anette Endruschat – língua falada como força motriz do desenvolvimento do português angolano

• Linguagem literária baseada na tradição oral (Óscar Ribas, Jofre Rocha, Uanhenga Xitu, Boaventura Cardoso e Luandino Vieira)

Factores que condicionam um desenvolvimento específico do Português em Angola

- A situação bilingual que se traduz por interferências entre o português e as línguas bantu.

- O desenvolvimento social, económico e cultural independente do país que se traduz por novas necessidades de comunicação e sobretudo pela renovação lexical.

- Ausência de uma influência normativa permanente, o que se traduz pelo surgimento de particularidades linguísticas no português angolano.

- No sistema fonológico-fonético do português angolano existem características particulares não conhecidas no português standard que nasceu indubitavelmente das línguas africanas – abertura das vogais finais, nasalação e aspiração de vogais.

- No inventário lexical do português angolano existem numerosas palavras de origem bantu, sobretudo designações de fauna, flora, religião e culturas tradicionais, mas também expressões emocionais...

- A influência das línguas bantu na sintaxe portuguesa é menos evidente...

A partir do séc. XIX até ao presente, formou-se uma linguagem coloquial urbana tipicamente angolana, sendo nomeada na literária às vezes como linguagem dos musseques.

Palavras de origem bantu integradas no Português

- Sob o aspecto ortográfico: há formas adaptadas à ortografia portuguesa (calema, musseque) e formas não adaptadas (kinda, kassula).

- Sob o aspecto morfossintáctico: os bantuísmos surgem na forma original (fuba, kitanda) ou constituem a base de derivações de acordo com as regras morfossintácticas do português (carienguista, mabanquista, ximbicar, xingar). 

- Sob o aspecto semântico: as palavras têm o seu significado original (sanzala, quimbo) ou um significado especializado (kuacha, kazucuta, maka) que elas só possuem no contexto de português.

- Bantus de 1ª classe – exercem função designativa – nomes de animais, de plantas...

- Bantus de 2ª classe – de função puramente estilística, por serem mais expressivos, mais angolanos que as suas substituições portuguesas.

Exemplos

• Em todos os banga-sumos  de Luanda se montava uma operação obrigando as quitandeiras a vender a preços de tabela.

Quitandeira – palavra derivada de kitanda que quer dizer em kibundu “cesto”, significando hoje no contexto português, um sítio onde se vendem legumes, frutos, etc. Daí vem o sentido de vendedora no mercado.

• Nos dias onde se registam grandes calemas, a ida ao mar é reduzida.

Calema refere-se a um fenómeno natural típico da costa angolana, tendo conservado o seu sentido original.

Micate – bolo

Fuba – farinha de milho

Quimbo – casa tradicional (aldeia)

• Não era mais tempo de andarmos a correr atrás dos fenelás ou dos kwachas.

Kwacha – termo cujo sentido original é “galo” foi utilizado para designar de maneira pejorativa um membro da UNITA. No entanto, este significado não existe na língua original. Encontramos esta expressão nos textos oficiais para exprimir uma atitude claramente dirigida contra a UNITA.

Kazucuta – de origem não esclarecida, significando originalmente uma dança muito movimentada. Utiliza-se para designar de maneira enfática as diversas formas de indisciplina social. Existe também uma derivação formada pelo sufixo – eiro: kazucuteiro. Este lexema tem um sentido muito complexo, serve melhor para designar certos fenómenos sociais do que as respectivas palavras portuguesas. 

Ex. Há kazucuta para desacreditar a linha política do nosso partido.

O bantuísmo kandengue significa “ pequeno”; criança (desempenha a função de substantivo ou de adjectivo).

Ex. Nesta província kandengue do nosso país vivemos uma situação difícil, marcada por insistentes acções de guerra não-declarada.

Sintaxe

Análise dos fenómenos morfossintácticos que ocorrem fora da norma do português.

Bibliografia

A.Jaruskin (1984)

Eberhard Gaîtner (1986)

Luísa Dolbeth e Costa (1981/82)

Em geral, a sintaxe é considerada o subsistema mais estável da língua.

Apontam-se três causas para que tais fenómenos se produzam:

• O domínio insuficiente das regras sintácticas do português-padrão, provocando faltas, mas também formas simplificadas e reduzidas (ex., na emprego das preposições e dos tempos verbais).

• O uso do português como língua veicular e não como língua materna, o que se traduz também por simplificação das formas e pela renúncia a formas redundantes.

• A interferência das línguas bantu nas estruturas sintácticas do português.

Influência das estruturas bantu

 

As preposições definem-se de maneira bem diferente entre o português e as línguas bantu. Por ex., em kimbundu, e outras línguas bantu, existem preposições locais, que exprimem simultaneamente o estado local... é movimento em direcção a um sítio qualquer. Em consequência dessa não-distinção encontramos a preposição portuguesa “em” muitas vezes no lugar da preposição “a” ou de outras preposições.

Ex. Os novos métodos colocados na prática permitem um maior afluxo de jovens nos centros de apresentação.

Na linguagem oral é frequente dizer: 

Dava aulas nos quadros.

Apresentava-se no MPLA.


Outro fenómeno: a colocação dos pronomes pessoais, reflexivos e de complemento.

Nas línguas bantu, os pronomes precedem sempre o verbo conjugado, facto que se traduz, no português falado em Angola, pela tendência à próclise dos pronomes.

Podemos falar de grande insegurança na colocação dos pronomes, resultado de diferenças profundas entre o português e as línguas bantu.

• Tendência para privilegiar o complemento indirecto.

Ex. De acordo com a composição da delegação gostaria informar-lhe o seguinte...

Pepetela, nome literário de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. Nasceu em Benguela a 29 de Outubro de 1941.

A partir de 1958, estudou em Portugal (4 anos). Exilou-se em Paris e depois na Argélia, onde estudou Sociologia e foi um dos fundadores do Centro de Estudos Angolanos.

A partir do final da década de 60, desempenhou funções na guerrilha; e no âmbito do Departamento da Educação.

Obra: 

As aventuras de Ngunga (1972;1976)

A Corda (peça de teatro, 1976;1978)

Muana Puó (escrito em 1969; 1978)

Mayombe (escrito em 1971; 1980)

A Revolta da Casa dos Ídolos (peça de teatro; 1980)

Luéji (1990)

Luéji, romance

Espaço: a Lunda; os lubas, senhores do Norte

2 Personagens femininas em tempos distintos: há 400 anos; no pós-independência.: Luéji e Lu

Temas:

• Reflexão sobre o exercício do poder

• Lu, vítima do realismo socialista

• Duas estórias imbrincadas uma na outra (pág.60)

• Reflexões sobre a arte, a escrita, o escritor e, em particular, sobre o Autor.

• Correntes literárias e géneros europeus e sua aceitação pelos africanos (pág.57).

• Língua português-padrão: desvios. Identificação e explicação da sua natureza (desconseguiu; sarrependeu (oralidade)

• Tradição africana: a grande serpente / o princípio – Tchyanza Ngombe, a grande serpente criadora da terra e do céu (pág. 71); a chuva; o lukano; o mujimbo (o boato); a obra “cahama...

• Os irmãos Tchinguri e Chinyama (Lueji)