Romantismo

        VASLAV NIJINSKI ( 1889 - 1950)

No dia 8 de Abril de 1950, Nijinski e Romola encontravam-se em Londres. Foi então que o seu estado piorou e o transportaram de urgência para uma clínica. No delírio, voltou a fazer os famosos movimentos dos pulsos de " O Espectro da Rosa" - tal como Ana Pavlova esboçou os  "ports de bras" de " A Morte do Cisne", mesmo antes de morrer. E ele deitou a Rómola um último olhar. Era sexta-feira santa. Dia 8 de Abril.

Ouvimos ainda a voz, ouvimos o coração bater, o tempo a passar, a aberração e as dores e as memórias, e o coração puro, uma intacta obscuridade. Apesar de ter introduzido a coreografia moderna, Nijinski tinha a estrutura psicológica dos criadores do Romantismo: optando pelo afectivo contra o racional, caracterizavam-se por aquilo a que talvez se possa chamar "imaturidade". Ao mesmo tempo, eram habitados por forças tempestuosas, eram hiper-sensíveis e incapazes de suportar o embate com o quotidiano.

Tal como defende o psicanalista Jean Louis Voudoyer, na biografia " Nijinski ou la Grâce", de Françoise Stanciu-Reiss (Éditions Plon): " Esse solitário, este isolado, este exilado misterioso deixou-se tentar e seduzir por condições de existência que implicavam deveres, obrigações, responsabilidades, cadeias às quais não seria possível submeter-se durante muito tempo nem impunemente. Este "fora da lei" teve a imprudência e a fraqueza de se achar igual aos outros e de aceitar leis que não eram feitas para ele.

(...) Nesse 8 de Abril, o homem de coração puro morreu. O marido de Romola morreu. Romola, que falava nele dizendo: " O meu pobre Vaslav, tão bom marido, tão bom pai, e um tão maravilhoso artista..." Exactamente nesta ordem.

Não sãos os coveiros que nos matam. Simplesmente estão lá quando morremos.

Mafalda Ivo Cruz, Mil Folhas, 26 de Janeiro de 2001, PÚBLICO 

O ROMANTISMO

Desta vez, Alberto Knox também estava sentado na soleira da porta quando Sofia chegou.

- Senta-te aqui - disse - e foi directo ao assunto. - Até agora falámos sobre o Renascimento, o Barroco e o Iluminismo. Hoje vamos falar sobre o Romantismo, ao qual podemos chamar a última grande época cultural da Europa. Estamos a aproximarmo-nos do fim de uma longa história, minha filha.

- O Romantismo durou tanto tempo?

- Começou em finais do séc. XVIII e durou até meados do século passado. Mas a partir de 1850 já não faz sentido falar de épocas completas que abranjam do mesmo modo poesia e filosofia, arte, ciência e música.

- Mas o Romantismo foi ainda uma dessas épocas?

- Sim, e como disse, a última na Europa. Teve início na Alemanha, como reacção ao culto da razão no Iluminismo. Após Kant e a sua fria filosofia racional, os jovens na Alemanha pareciam respirar fundo.

- E o que é que colocaram no lugar da razão?

- Os novos slogans eram "sentimento", "fantasia", "vivência" e "nostalgia". Alguns pensadores do Iluminismo também tinham apontado para a importância dos sentimentos - por exemplo, Rousseau - e criticado a insistência exclusiva na razão. Esta corrente secundária tornou-se a corrente principal da vida cultural alemã. 

- Então Kant não foi popular por muito tempo?

- Sim e não. Muitos românticos viam-se como herdeiros de Kant. Kant afirmara que havia limites para aquilo que podemos conhecer. Por outro lado, mostrara como era importante o contributo do eu para o conhecimento. E agora, no Romantismo, o indivíduo tinha, por assim dizer, livre curso para a sua interpretação pessoal da existência. Os românticos professavam um culto quase desenfreado do eu. Por isso, a essência da personalidade romântica é também o génio artístico.

- Havia muitos génios naquela época?

- Alguns. Beethoven, por exemplo. Na sua música, encontramos uma pessoa que exprime os seus próprios sentimentos e nostalgias. Deste modo, Beethoven era um artista "livre" - ao contrário dos mestres do Barroco como Bach e Haendel que compunham assuas obras para glória de Deus e geralmente segundo regras rigorosas.      

    Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, p. 306, Editorial Estampa.

 

        O BARÃO 

A palavra barão, no seu sentido nobiliárquico, provém do francês baron que, por seu turno, teve origem no frâncico baro que significava homem livre. (...)

Será no séc. XIX, após a instauração do regime liberal entre nós (1834), que o barão virá a assumir papel de relevo na vida económica , política e social do país. Com efeito, a extinção das ordens religiosas e a venda em hasta pública dos bens nacionais, que provinham em grande parte das desaparecidas agremiações, condicionou e acelerou o enriquecimento de burgueses que, uma vez promovidos a terratenentes, diligenciaram por nobilitar-se, tendo-o conseguido.

Durante o governo de Costa Cabral (1842-1846), que se apoiou em grande parte nessa burguesia enriquecida e enobrecida, o setembrista Almeida Garrett, que a vitória cartista e "ordeira" lançou na oposição política, ridicularizou nas Viagens na minha Terra (cap. XIII) a profusão de tais enobrecimentos... Os sarcasmos de Garrett, imitados e parafraseados posteriormente por escritores e jornalistas, desacreditaram no consenso público esse grupo social de parvenus, acerca do qual se mofava:

         Foge cão que te fazem barão.

        Para onde se me fazem visconde?

        Joaquim António de Aguiar (1792-1871)

Natural de Coimbra e descendente de gente de condição modesta, quando se preparava para matricular-se na Universidade sobrevieram as Invasões Francesas, o que o levou a alistar-se nos batalhões académicos. (...) 

Integrado na expedição liberal organizada por D. Pedro, desembarca em Pampelido ( Julho de 1832). Com a vitória dos constitucionais, é nomeado conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, e, sucessivamente ministro...

Enquanto ministro, destacam-se os decretos que organizaram as câmaras municipais e a Guarda Nacional, e, especialmente o que extinguiu as ordens religiosas. Este último decreto, de amplas repercussões nacionais, é datado de 28 de Maio de 1834 e nele se determina a total e imediata extinção das ordens regulares do sexo masculino - " conventos, mosteiros, colégios, hospícios e quaisquer casas de religiosos de todas as ordens regulares, seja qual for a sua denominação, instituto ou regra".

António Bernardo da Costa Cabral (1803-1889)

(...) Após a entrada em vigor da Constituição de 1838, foi deputado e ministro da Justiça (1839). Entretanto evoluia do Setembrismo para o cartismo, ou seja da extrema esquerda de então para posições mais moderadas... Em Fevereiro de 1842 foi chamado ao governo, como ministro do Reino, tendo permanecido no Poder até 1846, ano em que foi obrigado a exilar-se, devido à eclosão do movimento revolucionário da Maria da Fonte, dirigido contra a política cabralista...

        ANTICLERICALISMO

        O princípio de S. Paulo «todo o poder, qualquer que seja, vem de Deus», legitimando as aspirações da igreja à supremacia do poder universal, serviu de estímulo a quantos lhe atribuem a condição de supranacionalidade e procuram submeter-lhe todos os restantes poderes da sociedade. Mas é também de sempre a oposição a tais propósitos de hegemonia. A este movimento de opinião, que luta pela permanência do poder civil, deu-se no séc. XIX o nome de anticlericalismo.