Teste 8

 

Teste de Literatura Portuguesa

 

Texto

 

Arima, que assim se chamava a menina senhora criada da Ama, neste meio tempo fez-se a mais formosa cousa do mundo.

Sobretudo o que ela tinha extremadamente sobre todas, era-lhe natural uma honestidade que em muitas, feita ainda à mão, parece muito bem. A sua mansidão nos seus ditos e nos seus feitos não eram de cousa mortal. A sua fala, e o to dela, soava doutra maneira que voz humana. Que vos hei-de dizer? Não parece senão que se ajuntavam ali todas as perfeições, como que se não haviam d’ajuntar mais nunca.

E ela era um só amor a seu pai, que grandes haveres tinha para ela guardados, se a ventura a não tivera guardada para outros!

Dentro deste nosso mar Oceano, em que aqui perto entra este rio, contam que havia naquele tempo uma ilha tão avondosa, tamanha de terras ricas e cavaleiros, que dali quase todo o mundo senhoreavam. Falavam delas maravilhas grandes, mas o nosso conto não é agora este.

Nela dizem que havia um rei naquela sazão que sustinha a corte no mais alto estado que podia ser. Mantinha-se ali usança que todalas donzelas filhas d’algo, como eram em idade para isso, se levavam à corte da Rainha e daí saíam honradamente casadas.

Tinha-se ali em grande preço naquela terra, e em todalas que derredor sogigavam. Lamentor, que por fama era já del-Rei conhecido e aceito a ele pela sua maneira diferente de todas as outras, e pela sua nobreza de sangue e feitos d’armas, de que era sabedor por muitos cavaleiros andantes de sua corte que o bem conheciam. Pelo que lhe foi pedido da parte del-Rei que quisesse honrar sua corte com a Arima, sua filha, porque tendo lá a ela lhe parecia que tinha a ele, e porventura se ordenariam cousas por onde nalgum tempo o visso cousa que ele tanto desejava. Cuidava el-Rei que o casamento de sua filha lhe poderia mudar o propósito.

Lamentor, que bem sabia que os pedidos dos reis mandados eram, não lha pôde negar.

Concertado tudo o que era necessário para aquela ida, vindos muitos parentes seus já por parte do casamento de Aónia, vestida Arima porém à maneira ainda de dó porque, dado que muito houvesse que era falecida sua mãe, na casa de seu pai não no parecia, e também porque já, por costume, naquela casa nenhum outro vestido parecia melhor.

E Arima, já que se queria partir, apartando-se da outra gente, foi-se só àquela câmara  onde seu pai soía sempre de estar depois da morte de Belisa, porque ali também para sempre estava ela, a qual era feita também em maneira para uma contemplação triste.

 

Bernardim Ribeiro, Menina e Moça (excerto)

 

 

 

 

GRUPO I

 

1.       Depois de leres o excerto, explica, de forma detalhada, o seguinte enunciado: «Lamentor, que bem sabia que os pedidos dos reis mandados eram, não lha pôde negar.»

2.       Elabora o retrato de Arima e explica como é que ele evoca o tratamento dado à mulher na poesia trovadoresca.

3.       Indica o tema deste excerto, referindo o modo como ele se articula com os capítulos iniciais da novela “Menina e Moça”.

4.       De forma fundamentada e baseando-te apenas no excerto, integra-o num dos seguintes géneros: novela bucólica, romance de cavalaria, novela sentimental.  

 

GRUPO II

 

 

1.      De forma fundamentada, redige um texto, de 80 a 130 palavras, subordinado ao tema: “ O destino” na poesia de Camões.

 

GRUPO III

 

 

1.       Analisa o significado da “viagem” em geral e, em particular, na obra de Fernão Mendes Pinto.

Redige um texto bem estruturado, de 150 a 250 palavras.

 

FIM