Renascença Portuguesa

A Renascença Portuguesa: extractos do 1º Manifesto

A Águia (1910-1932)

Colaboração de Fernando Pessoa na revista Águia

Fernando Pessoa e o Saudosismo

A Renascença Portuguesa / MENSAGEM

Extractos do 1º Manifesto da Renascença Portuguesa, redigido por Teixeira de Pascoaes em 1911, embora só publicado em 1914, intitulado Ao Povo Português, A Renascença Lusitana:

O fim da Renascença Lusitana é combater as influências contrárias ao nosso carácter étnico, inimigas da nossa autonomia espiritual e provocar, por todos os meios de que se serve a inteligência humana, o aparecimento de novas forças morais orientadoras e educadoras do povo, que sejam essencialmente lusitanas, para que a alma desta bela Raça ressurja com as qualidades que lhe pertencem por nascimento, as quais, na Idade Média, lhe revelavam os segredos dos mares, de novas constelações e novas terras, e, de futuro, lhe deverão desvendar os mistérios dessa nova vida social mais bela, mais justa e mais perfeita.

Logo que a alma portuguesa se encontre a si própria, realizará as antigas energias e realizará a sua civilização.

Estas palavras (...) têm por fim mostrar ao povo português qual a ideia que inspira a Renascença Lusitana. (...) temos portanto em vista :

Dar ao povo uma educação lusitana e não estrangeira; uma arte e uma literatura que sejam lusitanas, e uma religião, no seu sentido mais elevado e filosófico, que seja também lusitana.

Com efeito, quem surpreender a alma portuguesa, nas suas manifestações sentimentais mais íntimas e delicadas, vê que existe nela, embora sob uma forma difusa e caótica, a matéria duma nova religião, tomando-se a palavra religião como querendo significar a ansiedade poética das almas para a perfeição moral, para a beleza eterna, para o mistério da Vida...

Ora a alma portuguesa sente esta ansiedade duma maneira própria e original, o que se nota facilmente analisando os cantos populares, as lendas, a linguagem do povo, a obra de alguns poetas e artistas e, sobretudo, a suprema criação sentimental da Raça - a Saudade.

A Águia será o órgão da sociedade.

        (Diremos, de passagem, que consideramos como grandes factores do nosso renascimento: a Higiene e a Arte.

Por aquela atingiremos a harmonia física, e por esta a harmonia espiritual.

A Ginástica encerra tanta virtude como a Arte Poética.

A guerra ao álcool, ao tabaco, à alimentação carnívora, por exemplo, é uma guerra santa e confunde-se com a glorificação da Beleza moral, com a apoteose dos sentimentos e das ideias mais puras e transcendentes.

A Ilíada e os Jogos Olímpicos!) 

A Águia (1910-1932)

Editada no Porto. Foram publicadas 5 séries. Foi sucessivamente dirigida por Álvaro Pinto, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, António Carneiro, Hernâni Cidade, Casais Monteiro, Delfim Santos...

Apresentou-se, a partir da 2ª série, como órgão da sociedade portuense Renascença Portuguesa.

Nas páginas de A Águia, com predomínio de autores ligados ao movimento saudosista, assume especial relevo a polémica entre António Sérgio, que põe limitações àquele movimento, e Pascoaes, e a publicação de um conjunto de artigos de Fernando Pessoa, A nova poesia portuguesa, 1912:

        Na 2ª parte, Pessoa começa por definir corrente literária - deve ser “representativa do estado social da época e do país em que aparece. Porque uma corrente literária não é senão o tom especial que de comum têm os escritores de determinado período, e que representa, postas de parte as inevitáveis peculiaridades individuais, um conceito geral do mundo e da vida, e um modo de exprimir esse conceito, que, por ser comum a esses escritores, deve forçosamente ter raiz no que de comum eles têm, e isso é a época e o país em que vivem ou em que se integram.” 

(...) Por vitalidade de uma nação não se pode entender nem a sua força militar, nem a sua prosperidade comercial, coisas secundárias e por assim dizer físicas nas nações; tem de se entender a sua exuberância de alma, isto é, a sua capacidade de criar, não já simples ciência, o que é restrito e mecânico, mas novos moldes, novas ideias gerais, para o movimento civilizacional a que pertence.

        Fernando Pessoa e a actual corrente literária/ O Saudosismo:

        É absolutamente nacional (...) com ideias especiais, sentimentos especiais, modos de expressão especiais e distintos de um movimento literário completamente português...

        Este movimento poético português contém individualidades de vincado valor...

        Este movimento poético dá-se coincidentemente com um período de pobre e deprimida vida social, de mesquinha política, de dificuldades e obstáculos de toda a espécie à mais quotidiana paz individual e social, e à mais rudimentar confiança ou segurança num, ou de um, futuro.

Referindo-se às intuições proféticas do poeta Teixeira de Pascoaes sobre a futura civilização lusitana e sobre o futuro glorioso que espera a Pátria Portuguesa:

“ E isto leva a crer que deve estar para muito breve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos, desta corrente, e da nossa terra, porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura, até agora primacial, de Camões (...) Mas é precisamente por isso que mais concluível se nos afigura o próximo aparecer de um supra-Camões na nossa terra.” 

Sobre a analogia do Saudosismo com outras correntes portuguesas:

“ O seu tom especial e distintivo, quando começa a aparecer? É fácil constatá-lo. É com o Só  de António Nobre, com aquela parte de Eugénio de Castro que toma aspectos quinhentistas, e com Os Simples de Guerra Junqueiro. Começa, portanto, pouco mais ou menos coincidentemente com o começo da última década do séc. XIX. Fixado o início do período, procuremos o precursor (...): É Antero de Quental.