Vasco Cabral

África! Ergue-te e caminha!

 

Mãe áfrica!

Vexada,

Pisada,

Calcada até às lágrimas!

Confia e luta

E um dia a África será nossa!

 

Quando à floresta chegar o meu grito

e o tantã ritmado do batuque chamar os irmãos à luta,

Quando, como um só homem, nos decidirmos a não vergar a fronte

E fizermos o branco tratar-nos como igual.

Quando, a cada violência, responder o brado da nossa imaginação

E o nosso apelo chegar ao coração e à consciência das massas

E como um fluido eletrizante reunir no mesmo "meeting"

O negro estivador e o negro camponês.

Quando cada palavra de ordem

como um brado de combate e esperança.

 

Quando ao chicote agressor

quiser responder a justiça das nossas mãos

E as nossas filhas e as nossas irmãs

Deixarem de ser escravas do senhor

que é dono das terras e das vidas.

Quando cada amigo seja branco ou amarelo,

for tratado como irmão

e lhe estendermos a mão como se fora um negro

e o aceitarmos lado a lado no combate.

Oh! Quando nos nossos olhos brilhar o fulgor do orgulho

E for inabalável a vontade duma condição humana,

como um rio que inunda sem cessar.

É porque à floresta chegou o meu grito

e acordou os irmãos ao som ritmado do tantã.

 

Desperta-me Mãe-África!

E serás minha mãe.

 

Desperta irmão negro!

E serás mais meu irmão

porque encontramos o caminho da vitória final!

 

Mãe África

Vexada,

Pisada,

Calcada até às lágrimas!

Confia e luta

E um dia a África será nossa!