Estrutura e função da linguagem na aula

1. Bellack ( 1966 ) influenciado por Wittgenstein (1958 ) desenvolveu um sistema cognitivo de análise para descrever os acontecimentos linguísticos na aula:

As actividades verbais envolvidas no ensino são sem dúvida actividades recíprocas que abrangem tanto professores como alunos. Neste sentido (...) o papel desempenhado pelo professor apenas pode ser descrito adequadamente em relação ao papel desempenhado pelos alunos.

Na aula, distinguem-se, assim, quatro movimentos principais, referentes a acções verbais básicas:

- dois movimentos iniciadores ( estruturação e solicitação );

- dois movimentos reflexivos ( resposta e reacção ).

Constatações resultantes da observação:


- Cabe ao professor definir o contexto ( os movimentos de estruturação) para o comportamento subsequente;

- Os movimentos de solicitação podem tomar a forma de perguntas, ordens, imperativos e pedidos;

- Regra geral, o professor é o emissor e o aluno o receptor, observados os movimentos de resposta;

- As reacções dependem da origem social do aluno, do facto de já ter " voz ".

2. No sistema linguístico do adulto ( Halliday, 1973) existem três metafunções:


- uma função " ideacional "; 

- uma função " inter-pessoal ";

- uma função " textual ".

" Ideacional " porque podemos usar a linguagem para todos os fins específicos e tipos de contexto que envolvam comunicação de experiência.

" Inter-pessoal " porque podemos usá-la para todas as formas específicas de expressão pessoal e interacção social.

" Textual " porque sem este pré-requisito não há eficácia nos dois aspectos anteriores ... a linguagem torna-se texto e relaciona-se consigo própria e com o contexto em que é usada.

3. No sistema linguístico da criança ( Halliday, 1978 ) encontramos seis funções:

 

- instrumental (com o fito de satisfazer uma necessidade material) - EU QUERO

- reguladora ( linguagem usada para dar ordens) - FAZ COMO TE DIGO 

- interaccional ( linguagem usada para interagir com outrem ) - EU e TU

- pessoal ( linguagem usada como expressão da individualidade ) - AQUI ESTOU

- heurística ( linguagem usada como meio de exploração do que a rodeia ) - DIZ-ME PORQUÊ

- imaginativa ( linguagem para a criação de um ambiente próprio ) - VAMOS IMAGINAR.

4. Sistema de classificação dos modelos de linguagem com o fim de descrever o processo de ensino ( Lundgren e Lidén, 1977 - com base no trabalho de Halliday):

MODELO DO ALUNO

A) INSTRUMENTAL : 

- necessidade de ajuda;

- pedido de autorização;

- pedido de isenção;

- desejo de um objecto.


B) REGULADORA : 

- regra implícita ( fazer o que não é permitido );

- ameaça ou reprimenda;

- controlo emocional.

C) INTERACCIONAL : 


- comparação;

- desejo de cooperação;

D) PESSOAL:

- expressão de individualidade;

- expressão do estado de saúde.

E) HEURÍSTICA : 

- exploração ( como pode ser assim? )

- iniciação ( se eu fizer assim também está certo? )

F) IMAGINATIVA : 

- resposta aberta ( responder a uma pergunta do professor que não está no âmbito da matéria tratada. Pode conduzir a um diálogo aberto).

G) REPRESENTATIVA : 

- resposta evidente;

- transferência de mensagem ( refere-se a processos, abstracções, pessoas, objectos, qualidades, estados e relação com o mundo circundante. ).

MODELO DO PROFESSOR

A) REGULADORA : 

- o mesmo que o modelo do aluno.

B) INSTRUCIONAL: 

- transferência de mensagem ( refere-se a processos, abstracções, pessoas, objectos, qualidades, estados e relação com o mundo real circundante.);

- administrativa ( " peguem nos vossos livros "...).

C) AVALIATIVA :

- pergunta ligada ao tópico (requer uma resposta evidente);

- pergunta não ligada ao tópico (requer uma resposta aberta);

- confirmação (confirma se a resposta do aluno está certa...).

D) SOCIAL :

- aparece na comunicação desligada do tópico tratado.

5. Algumas conclusões ( Emília Pedro, O Discurso ns Aula, 1982):

5.1. " Os alunos não são estimulados para mudar mas para se adaptarem, não para descobrir mas para aceitar, não para contestar mas para serem controlados quando surgem tentativas de contestação. " ( p. 82 )

5.2. " Observar o ensino significa sistematizar a estrutura da comunicação - colher informação sobre a importância dos vários enunciados verbais para o processo de aprendizagem que os alunos experimentam. " ( Lundgren, 1972)

5.3. Conclusão implícita: a observação deve ser sempre feita por mais de um observador, havendo uma divisão do trabalho pré-estabelecida. A metodologia para a observação será discutida previamente de modo a que os observadores se concentrem sobre as mesmas características.