Estação Um

DIÁRIO DE BICIGRINOS - 1ª ESTAÇÃO

Hoje 25/05/12, levantamos cedo, e após o café no próprio albergue, instalamos os alforjes nos bagageiros das bikes e iniciamos o tão esperado pedal.

Prevíamos que a viajem aérea Florianópolis – São Paulo - Madri - Pamplona seria cansativa e teríamos que encarar de taxi, o trecho Pamplona (na Espanha) - Saint-Jean-Pied-de-Port (na França).

No final da tarde de ontem o Édio, com auxilio do Willemann e meu, montou as bikes. Enchemos os pneus com bomba e depois fomos calibrar no posto de gasolina do Carrefour, fizemos os testes de câmbios e freios e concluímos que estávamos prontos para o desafio.

Rua da largada em Saint Jean Pied de Port

Na França puxei do subconsciente o pouco de francês que aprendi no ginásio com o Padre Thiveron, no Colégio Dom Orione em Siderópolis. Saiu uns: Je suis brésilienne, Je ne parle pas français, combien ça coûte, merci monsieur, une chambre pour trois personne, que deu para o gasto. Em pleno século XXI, optamos por um passeio mais analógico que digital, não que estamos com câmara de filme que faz clic quando a película engata no carretel, mas sem GPS, assim poderíamos conversar com o pessoal nativo e pegar informações dia a dia no percurso do caminho.

Eram 08h30 da matina quando iniciamos o pedal. A temperatura estava agradável, uma nevoa baixa, com um friozinho ate bom para o pedal.

Édio e Vanio, na foto da largada

Optamos pelo caminho da montanha tendo em vista que no escritório de peregrinos nos informaram que é muito mais bonito, porém mesmo caminhando é muito difícil. Já dizia o poeta: quanto mais alta a montanha, mais bela a vista. Nas pesquisas que fiz na internet muitos peregrinos abandonaram o caminho já nesta etapa devido a bolhas nos pés e ou tendinite.

O trecho escolhido, para se ter um ideia, é muito mais pesado que a Serra do Rio do Rastro, que liga o município de Lauro Muller no litoral à Bom Jardim na Serra no planalto Sul Catarinense.

No caminho, no meio da cordilheira passamos por um lugarejo chamado Honto, onde nos untamos de protetor solar, pois o sol já estava rachando, e passamos por Orisson onde só tem uma casa que é o próprio albergue.

Passamos por peregrinos de tudo quanto é país, os morros eram uma loucura, mas íamos mais rápidos que o pessoal a pé com mochila nas costas.

Próximo a divisa de países tinha um cara numa Van que vendia ovos cozido, sucos e lanches, ao mesmo tempo em que anotava o numero de peregrinos de todos os pais que por ali passavam.

A subida dos Pirineus foi com vento, como tinha muita curva, hora lufadas de bombordo, ora de estibordo, ora de proa, as vezes vinha de popa e ajudava nas subidas.

Interessante que na França, nessa região dos Pirineus Ocidentais a grama é repleta de flores, e o gado come isso. Tirando as flores, esse caminho lembra nossas pedaladas para Angelina, via Colônia Santana, Colônia Santa Tereza e São Pedro de Alcântara.

Esse trecho é só e unicamente de subidas, as canelas trabalhando os pedais se pareciam com pistões de um motor a combustão interna.

No meio dos Pirineus, nos aguardava Nossa Senhora, (Virgem de Biakorri) numa paisagem até então jamais apreciada por mim.

Juntinho de Nossa Senhora, nos Pirineus franceses

Entramos em território espanhol numa trilha de pedras e buracos, e só faltou carregar as bikes carregadas com alforje e saco de dormir nos ombros.

Mesmo chegando cedo e ainda ter perna para pedalar um pouco mais, mantivemos o cronograma e nos hospedamos no albergue da Real Colegiata em Roncesvalles, que é administrado por voluntários holandeses. Os beliches são dispostos em nichos de quatro camas, distribuídos por um corredor enorme, onde no final existem pias e banheiros comunitários. O pessoal não pode subir aos andares dormitórios de tênis ou botina, existe no térreo uma sala especial para deixar os calçados infestados de chulé. Nesse “pueblo medieval” todos os dias de segunda a sexta feira, as 20h00 tem a missa do peregrino com cantos gregorianos e benção final em viárias línguas, mas não teve em português.

Vista de Roncesvalles, Colegiata, primeiro albergue na Espanha

Agora abandonamos o francês e nossa comunicação mudou para o portunhol. Acho que dará para o gasto, até sei falar: “helado de frutillha”, ao invés de “sorviete de moriango” como já aconteceu com um amigo meu.

Estamos na província de Navarra, no Pais Basco, terra do grupo armado ETA e da fábrica da minha bicicleta, Orbea. Aqui também se fala o euskera, a língua ocidental mais antiga falada nos dias de hoje, e que não se sabe a origem.

As sinalizações são em euskera e espanhol.

Participamos da missa do peregrino e lembrei-me das muitas vezes que estive nos finais de tarde ouvindo os Monges no Mosteiro de São Bento em São Paulo, quando de minhas atividades externas pela Celesc.

Essa missa foi cheia de emoção, muita adrenalina.

RESUMO DO DESAFIO

  • Distância percorrida no dia : 28 km

  • Velocidade média no dia : 7,1 km/h (foi muita subida)

  • Inicio e final de pedal : 08h30 - 16h30 (com paradas para descanso, hidratação, fotos e bate papo).

Tenho o costume de pedalar cantando, portanto a cada dia digitarei parte da letra da musica que mais cantei em função da paisagem, do clima, dos encontros, ou outro detalhe que por ventura vier a me inspirar durante o pedal.

MEDITAÇÃO DO DIA:

Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração, assim falava à canção que na América Latina ouvi, mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir.......

Vânio J. Savi