Estação Nove

Hoje 02/06/12, acordamos mais uma vez com a barulheira característica dos albergues públicos, numa manhã de frio, com sol encoberto, porque não céu de ciclista? Tomamos café no albergue e partimos para o pedal.

Estávamos 31 km atrasados em relação ao programado, mas sem nenhum estresse. O Willemann estava a fim de recuperar a programação, mas falei: “te quedas tranquilo”, vamos curtir o caminho, conhecer todos os povoados possíveis, conversar com os nativos, e com os peregrinos, pois um desafio desse não é sempre que se faz.

O primeiro lugar que passamos foi Ponferrada que de acordo com o cronograma seria o local de parada do dia anterior. Ponferrada é uma cidade grande quando comparada às dezenas de pueblos que cruzamos. Ali visitamos o Castelo dos Cavaleiros Templários A cidade encontrava-se toda enfeitada para a festa medieval que estava prestes a começar.

Castelo de Ponferrada

Encontramos um bicigrino português que levava no ombro um papagaio africano. É um papagaio de cor cinza, amigável, veio no meu ombro para uma foto sem complicação alguma. Continuando, passamos por outros sítios que não anotei o nome até encontrar Camponaraya, Cacabelos, aqui tinha crianças com espadas templarias na cintura. Toda a região estava se preparando para festas medievais. O povo espanhol levanta tarde, tem horário maluco para comércio e gosta de festa, mesmo na crise violenta que estão passando.

De volta ao pedal passamos por Pieros, um povoado que tem apenas uma rua, Villafranca del Bierzo, onde visitamos a igreja de Santiago que é do seculo XII. Ao passarmos por uma oficina de bike o Édio pediu para apertar um raio da roda traseira que vinha incomodando. Fomos para Pereje e seguimos pela carreteira as margens do rio Valcarces, serpenteando as montanhas, com a Alto Estrada cruzando sobre nossas cabeças a todo instante.

A ameaça de chuva era constante, as capas estavam em prontidão, passamos por Trabadelo, La Portela del Valcarce, Ambasmestas, Vega de Valcarce, onde tem o Albergue Brasileiro.

Willemann com o papagaio africano,

aos fundos o Castelo de Ponferrada

Albergue do Brasil

Sentado em frente ao albergue encontramos o Daniel, brasileiro de Foz do Iguaçu, informou que não tinha mais condições de caminhar naquele dia, estava com os tornozelos inchados. O albergue ainda estava fechado, eram aproximadamente 13:30, e a placa pendurada na porta informava que abriria as 14:00.

DANIEL, WILLEMANN, VÂNIO E ÉDIO EM VEGA DEL VALCARCE NA FRENTE DO ALBERGUE DO BRASIL

Como nesse dia tínhamos que encarar o temido O Cebreiro, não aguardamos e seguimos pela carreteira até Herrerías onde os nativos nos sugeriram que continuássemos pela carreteira tendo em vista que a trilha é muito dura inclusive para os que seguiam à pé.

Pedalamos 02:40 sempre morro acima, com pequenas paradas para fotos e hidratação, intercalando ultrapassagem com um grupo misto de Sul Africanos até chegar no místico e ao mesmo tempo mítico O Cebreiro. Nesse local entramos na região da Galícia, aqui as placas de transito são em espanhol e em galego. Foi um trecho de aproximadamente 30 km só de subida pela Serra del Caurel, estávamos suados devido ao pedal em aclive, mas não foi possível tirar a jaqueta em função do vento forte e frio que teimava em não parar.

O Cebreiro

Logo que chegamos no albergue da associação dos amigos de Santiago começou a chover. O Cebreiro é um lugar indescritível ali teve um milagre da eucaristia num dia chuvoso e frio quando o padre não estava afim de rezar a missa para apenas um camponês que subiu a montanha especialmente para participar da missa.

Loja de souvenir em O Cebreiro

Nesse lugar se respira um ar diferente, a paz de espírito lembra a cidade de Assis na Itália, a gente chega ali e não quer mais sair. Minha sapatilha estava numa situação precária, e ali mesmo me despojei dela.

Minha sapatilha pedindo aposento

RESUMO DO DESAFIO

Distância percorrida no dia : 65 km

Velocidade média no dia : 13 km/h

Inicio e final de pedal : 08h00 - 18H30

Distância acumulada desde o 1º dia : 682 km

MEDITAÇÃO DO DIAQuem espera que a vida, seja feita de ilusão, pode até ficar maluco, ou morrer na solidão, é preciso ter cuidado, pra mais tarde não sofrer, é preciso saber viver. Toda pedra do caminho, você pode retirar, numa flor que tem espinhos, você pode se arranhar, se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver.

Vânio (Mano)

O descanço da guerreira