Estação Doze

Hoje 05/06/12, acordei cedo quando um grupo de bicigrinos espanhóis começou a levantar e consequentemente fazer barulho. A ansiedade de chegar para abraçar Santiago era grande, pulei na mesma hora, joguei-me debaixo do chuveiro e em seguida chamei pelos colegas. Tomamos café, e partimos para o pedal na intenção de chegar a Santiago de Compostela antes do meio dia para participar da missa do peregrino.

Monumento em homenagem ao Papa João Paulo Segundo

Tínhamos reservado tempo para todo e qualquer imprevisto, inclusive empurrar a bike caso tivesse problemas mecânicos que não fosse possível reparar no caminho. Ficou acertado que se não chegássemos a Santiago de Compostela antes do meio dia, pernoitaríamos no albergue do Monte do Gozo, de onde se avista a cidade.

Fizemos o trecho todo por trilha, passamos entre outros lugares por Salceda, Santa Irene, Rúa, Pedrouzo, Labacolla, San Marcos e Monte do Gozo. O numero de peregrinos era incrível, nós no pedal íamos passando um a um e alternando ultrapassagens com bicigrinos que também era em grande numero.

Em Pedrouzo, também conhecido como Arca, quando passamos diante de um albergue apliquei meu ultimo carimbo na Credencial de Peregrino antes de chegar a Santiago. Quando chegamos ao Alto do Monte do Gozo, já estava lá uma quantidade enorme de peregrinos preparando se para a derradeira descida. Os cumprimentos já não eram mais “buen camino”, agora passou a ser bom abraço.

Após um esforço olímpico, sacamos umas fotos e partimos para a última etapa, que resultou numa chegada triunfante na Plaza do Obradoiro, em frente à majestosa e magnífica catedral de Santiago de Compostela, eram 10:45. Chegamos incólumes para a histórica foto da chegada tendo ao fundo a catedral e um mundo de peregrinos que chegavam seguidamente.

Chegada triunfante na Catedral de Santiago de Compostela

Após o registro fotográfico que vai ficar na história, e por muito tempo na memória, deu vontade de subir de joelhos a escadaria da catedral, com a bike nas costas. Nesse momento iniciou uma chuva fina, característica da cidade devido sua proximidade ao encontro das correntes do Atlântico com o Mar Cantábrico. Agora a chuva não mais atrapalharia, nossa etapa estava ganha.

Majestosa catedral de Santiago de Compostela

Fomos ao escritório do peregrino onde fomos agraciados com a COMPOSTELANA, um certificado nominal, escrito em latim que imita um papiro, o qual é entregue a todo peregrino que comprove através dos carimbos na Credencial, que fez no mínimo 100 km a pé, e 200 km de bike ou a cavalo. Na saída do escritório encontramos dois bicigrinos que não lembro a nacionalidade, mas pedalamos juntos uns trechos no meio do caminho, e eles nos indicaram um albergue. Deixamos nossas tralhas no albergue e fomos a catedral para a missa do peregrino às 12:00. Com 14 padres do oriente e do ocidente, a majestosa catedral quase não comportou o número de peregrinos, tinha mais gente molhada e exausta da caminhada sentada no chão que nos bancos que estavam repletos.

Botafumeiro, um turibulo gigantge cuja fumaça simbólica abafa a inhaca de asa dos peregrinos

Uma trupe grande de alemães estava na cidade comemorando o dia de São Bonifácio padroeiro da Alemanha. Um pequeno grupo de senhores estava comemorando 65 anos de formados na Universidade de Santiago de Compostela. O pessoal informou o número de baixas, da turma restavam apenas oito. Como teve informações em muitas línguas, principalmente em alemão que era a maioria dos presentes, inclusive o evangelho foi lido duas vezes, primeiro em alemão e depois em espanhol, além do que parte da missa foi em latim, somado a emoção, ficou difícil de gravar os detalhes daquela uma hora de oração, emoção, lágrimas, encontros e abraços.

Após a missa, como comemoração da odisseia fomos almoçar no Restaurante Manolo seguindo o costume da maioria dos brasileiros.

Odômetro da bike registrando a km total

À tarde recuperados da enorme carga de adrenalina voltamos a catedral para literalmente abraçarmos Santiago, sem esquecer-se dos amigos que pediram para lembrá-los quando do abraço. Visitando a cidade encontramos uma turma de bicigrinos brasileiros, que havíamos encontrado em Leon, e chegaram a Santiago um dia antes de nós, estavam hospedados no Parador dos Reis Católicos, pagando um pouco mais que 200 Euro a diária, cumprindo a promessa que fizeram caso conseguissem fechar o caminho. Nós estávamos num albergue de 15 euro, que disponibilizava cozinha coletiva com fogão, geladeira, pratos e talheres, além de local para guardar as bikes.

RESUMO DO DESAFIO

Distância percorrida no dia : 40 km

Velocidade média no dia : 15 km/h

Inicio e final de pedal : 07:30 - 10:45

Distância acumulada desde o 1º dia : 854 km

MEDITAÇÃO DO DIA:

Eu vim e longe pra encontrar o meu caminho, tinha um sorriso, e o sorriso ainda valia, achei difícil a viagem até aqui, mas eu cheguei... mas eu cheguei. Eu vim depressa, eu não vim de caminhão, Eu vim “de bike” neste asfalto e neste chão, achei difícil a viagem até aqui, mas eu cheguei... mas nós chegamos!

Vânio Savi