2 - Segundo Dia

SEGUNDA FEIRA 28/11/16

Após o café fui observar o nascer do sol para conhecer melhor a região. Concluí que a comunidade de Barra, lado leste, pertence a Ouro Fino e oeste pertence a Andradas.

Reiniciamos o pedal de mais sobe que desce pela Serra da Mantiqueira e quando numa descida forte, ouvi um barulho de bike que vinha a toda velocidade, passou voando o Lucas, em seguida o Áureo, seu pai. Eles desapareceram no horizonte e nós mantivemos nosso ritmo, passamos pelas comunidades de Taguá, em seguida por Crisólia, chegando a Ouro Fino onde sacamos umas fotos do Menino da Porteira, e também do Boi sem Coração. Girando pela cidade a procura de uma pousada para carimbar a Credencial do Peregrino, encontramos a dupla que haviam parado numa oficina para uma pequena revisão nas bikes e trocar as pastilhas de freio.

Saindo de Ouro Fino, religiosamente seguindo as setas amarelas indicativas do CAMINHO DA FÉ, pegamos a Estrada dos Santos Negros em direção ao município de Inconfidentes onde paramos na frente da igreja para um registro e daí continuamos com sol forte em direção à cidade de Borda da Mata. Neste trajeto estávamos quase sem água, então pedimos em uma casa, onde uma jovem senhora, com muita satisfação, nos serviu água gelada.

Pouco adiante o sol desapareceu, escurecendo o céu, mas por sorte avistamos a Pousada Morada do Sol onde nos abrigamos do temporal repentino e a proprietária estava preparando almoço para quatro peregrinos que faziam o Caminho a pé. Sorte outra vez, pedimos para colocar mais água no feijão e almoçamos todos juntos. Nesse ínterim a chuva aliviou, acertamos as contas, e despedimo-nos do pessoal partindo para a cidade de Borda da Mata. Lá chegando decidimos que dava de continuar até Tocos do Moji.

Esse trecho foi penado, muito morro acima. No meio da serra que divide os municípios de Borda da Mata com Tocos do Moji, as caramanholas estavam quase vazias quando encontramos um trator atravessado no meio da estrada, próximo a uma bica d’agua.

Perguntei se aquela água era potável, o cara nos informou que a uns 500 metros subindo, tinha uma bica especial para os peregrinos. Da estrada vimos uma casa semi abandonada com uma plaqueta que informava: Água potável, gentileza da Família Xavier. Ao lado da casa, incrustado no barranco tinha um nicho de pedra em formato de gruta onde vertia água límpida e fresquinha. - Obrigado Família Xavier.

Com as caramanholas completas, seguimos ainda subindo. No topo da serra, na divisa de municípios, conforme a terceira Lei de Newton, a cada ação corresponde uma reação, inicia-se uma descida maluca.

A Terezinha disparou na frente e fiquei um tempo razoável sem vê-la. Quando encontrei um senhor que saía da roça perguntei-lhe se havia visto uma ciclista. Ele disse que não.

- E agora? Ela caiu e não a vi na sarjeta, ou está longe? Mais adiante numa pequena comunidade repeti a pergunta e me informaram que ela havia passado fazia pouco tempo. - Ufa! Que alívio! Pedalei forte por estradas esburacadas até avistá-la. Ao chegarmos ao Bairro Capinzal paramos no boteco que também é oficina e pedi um “Jota Efe”, o refrigerante típico da região. A moça me perguntou se queria uma caçulinha ou uma tubaína, em suma, queria saber se eu queria uma garrafa de 250 ml ou de 600 ml.

Dando continuidade ao pedal chegamos a Tocos do Moji e nos hospedamos na Pousada Zé Dito. Para nossa surpresa, lá estavam hospedados pai e filho que haviam passado por nós ainda no inicio da manhã. O nome dessa cidade é pronunciado por todos como “Tócos do Moji”. No jantar, eu com minha curiosidade perguntei ao dono do boteco o porquê dessa pronúncia. Ele prontamente deu uma aulinha, esclarecendo que “Tócos” na língua indígena significa “nascente”, e ali nasce o Rio Mogi Guaçú.

Nesse dia percorremos 69 km, numa média de 9,8 km/h.