1 - Primeiro Dia

DOMINGO 27/11/16

Amanheceu nublado, o que seria muito bom para a peregrinação de bicicleta carregada com os alforjes, nossa vontade e fé. Partimos da pousada às 7:30 e fomos em direção a Fonte Vilela, onde lá, uma placa informava que aquela água era a mais radioativa das Américas. Enchemos nossas caramanholas, fizemos a foto e, então começou aí a peregrinação no Caminho da Fé. De cara enfrentamos uma subida em piso asfaltado e lá pelas tantas o asfalto acabou, porém a subida continuava. Pedal vai, pedal vem, encontramos pessoas, conversamos, e nos desejavam um bom caminho. Muitas vezes paramos para fotografias, um registro, uma apreciação do local. Saímos num desvio para fotografar a Ponte de Pedra e ao retornarmos para o caminho, encontramos uma dupla de bicigrinos, pai e filho que vieram de Belo Horizonte, também para percorrer o Caminho da Fé. Como era subida e estávamos contornando o Pico do Gavião, onde tem uma rampa de voo livre, andamos juntos empurrando as bikes e conversando sobre os planos da peregrinação.

Na primeira oportunidade de voltar a pedalar, eles com apenas uma mochilinha nas costas se mandaram num ritmo mais acelerado que o nosso, uma vez que estávamos com bagageiro pesado, e em ritmo de peregrino cicloturistas, às vezes observando, outras rezando, cantando, meditando e fotografando.

Neste dia, ainda pela manhã cruzamos a divisa de Águas da Prata no estado de SP com Andradas no estado de MG. Foi pedalando sobre uma pinguela que nos exigiu muita destreza no domínio da bike, e assim evitamos cruzar o riacho que estava cheio devido às chuvas do dia anterior. Até aqui, o caminho foi por estradas vicinais, um trecho bastante ermo, apenas se observava as setas amarelas indicativas do CAMINHO DA FÉ, e placas informando a quilometragem faltante até Aparecida.

Quando de longe, lá em baixo se avistava a cidade de Andradas, surgiu uma trilha longa em declive, tal que exigia muita pericia do ciclista, pela inclinação, buracos e pedras.

Num pequeno e único aclive desse trecho, na retomada, num vale, arrebentou a corrente da minha bike. Pelo cronograma faltavam 5 km para chegar ao centro da cidade. Considerando que a predominância era morro abaixo seguimos, sem corrente, empurrando nos planos e nas subidas. Mesmo sendo domingo, ao chegar à loja Center Bike, entramos em contato pelo numero de telefone que estava fixado na porta, e o proprietário se prontificou a nos socorrer substituindo a corrente. Enquanto aguardávamos o mecânico, desabou um cacau. Poderíamos pernoitar aí, em Andradas, mesmo tendo pedalado apenas 30 km, mas, de comum acordo, decidimos continuar no pedal embora a chuva torrencial queria nos intimidar.

Tocamos em frente e encaramos a temida Serra dos Limas, e embora sendo asfalto não deixava de ser pesada. No meio da subida desta serra tem uma Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, e em frente uma mangueira carregada de frutas.

Foi ali, uma parada estratégica, é certo que não deixamos por menos, degustamos duas deliciosas mangas, agradecemos e continuamos no pedal, parando no topo da serra para apreciar e fotografar a paisagem. Mais uma parada, agora na Pousada da Dona Natalina para carimbar as credenciais e um dedo de prosa. Depois seguimos até a comunidade de Barra. Ao chegarmos ao centrinho do vilarejo paramos sobre a ponte para uma foto, e então perguntei a uma senhora que ali passava, a qual município pertencia Barra.

Ela respondeu que do lado de lá é Andradas, e do lado de cá, é Ouro Fino. Achei estranho, duas comunidades contíguas, separadas por um riacho pertencer a municípios diferentes e ter o mesmo nome. Após essa ponte, pedalamos mais uns 300 metros, cruzamos outra ponte improvisada de madeira e voltamos a Andradas onde nos hospedamos na pousada João e Joelma. Lá já estavam o Áureo e Lucas bicigrinos de Belo Horizonte.

Nesse primeiro dia de peregrinação percorremos 53 km, numa média de 9,1 km/h.