Estação Três

27/05/12, após uma noite bem dormida no albergue em Puente La Reina, tal qual ontem e antes de ontem, mais uma vez acordamos cedo, tomamos café no albergue e partimos para o pedal.

Nosso planejamento previa o trecho:

  • PUENTE LA REINA – ESTELLA – LOS ARCOS – LOGROÑO, correspondente a três dias caminhando, totalizando 72 km.

Observa-se que a quilometragem começou aumentar.

Saímos de Puente La Reina após uma visita rápida, a essa cidade medieval, com sua Ponte da Rainha, do século XI e passamos por Mañeru, Cirauqui, onde passamos por uma ponte e calçada romana carregando a bike e respectivo alforje no ombro, Lorca, onde paramos numa fonte para abastecer as caramanholas, sacar fotos juntamente com uma trupe de peregrinos que ali estavam descansando e, aproveitar para se untar de protetor solar, pois o sol já havia despontado.

Na cabeceira da Puente La Reina

Enchendo a caramanhola com agua da fonte em Lorca

Continuamos e passamos por Cruz de Maurien, Estella, onde várias equipes vestidas a caráter, portando armas antigas que se pareciam com os arcabuz dos livros de história do meu tempo de ginásio, competiam na beira de um rio, pelo que vi, brincando de espantar pombos e marrecos.

Em Estella, pessoal em trajes da festa típica

Irache, onde tem uma fonte de vinho e água potável de propriedade da Vinícola Irache, na qual os peregrinos podem desfrutar gratuitamente da sagrada bebida, fartando-se, porém não podem encher o cantil e levar pelo caminho.

Basta abrir as torneiras e fazer aquela homenagem ao deus Baco, com o cuidado de não se entregar aos braços de Morfeu, e acabar a pedalada em Irache ao invés de Santiago de Compostela.

Se servindo de vinho na fonte de Irache

Passamos por Azqueta, Castillo de Monjardin, Urbiola, Villamayor, Los Arcos, que estava comemorando a Festa de San Gregorio.

Em Los Arcos tivemos uma cena emocionante, quando conversamos com um senhor que repousava um cajado nas mãos, o mesmo se identificou como Pedro, o Pastor. No cajado que carregava estava escrito espiralmente na descendente toda a historia do Caminho de Santiago de Compostela. Nas últimas espirais ele lixava a inscrição e atualizava conforme o passar dos anos. Ele nem identificou a Bandeira do Brasil que desfraldava no bagageiro da minha bike, mas sabia tudo do caminho, descrevendo todos os povoados referente ao caminho francês. Também declamou poesias sobre o caminho, inclusive uma na qual o peregrino interagia com ele. Simplesmente emocionante. O Édio sacou fotos e o Willemann fez um vídeo da poesia em que interagi com Pedro o Pastor, me lembro uma parte que diz:

Peregrino de onde vens?

Peregrino onde vais?

Peregrino qual teu nome?.....

Em Los Arcos, com Pedro o pastor

Continuamos e passamos por Sansol que fica no alto de um monte, mais um local com nome sugestivo, cruzamos o vilarejo após o meio dia com o sol a pino ardendo na pele ressequida, juntamente com dois bicigrinos de Barcelona. Descemos a montanha e paramos para o merecido repouso em Torres del Rio.

Neste dia o sol de Navarra não perdoou. A altimetria da região é muito acidentada, seguidas de sobe e desce. Numa das subidas entre Torres de Rio e Viana, encontramos um bicigrino de aproximadamente 70 anos, rodopiando a bike, sangrando na cabeça, nariz, braços e pernas, e com um lanho tirado nas costas. Imagino que deve ter tido hipoglicemia numa descida em alta velocidade, se acordou e voltou a cair na subida. Era muito ferimento para uma queda em subida. Socorremos esse senhor que se identificou como Joaquim de Leon, gastamos quase o vidro de mertiolate que o Willemann tinha levado. Falei que iríamos até Viana e pediríamos um táxi para socorre-lo, mas ele não quis. Dissemos então que iríamos pedir socorro a policia ai ele concordou. Levamos-o até a sombra de uma árvore e fomos informar a policia de Viana para socorrê-lo. Não apresentava condições de continuar, imagino que ele abandonou o caminho por ai mesmo.

Em Viana deixamos para trás a província de Navarra e entramos em La Rioja, região de bons vinhos.

Continuamos no pedal e chegamos a Logroño as 17:30, fomos direto ao albergue. A cidade estava em festa com bonecos gigantes desfilando na praça, lembrando o carnaval de Olinda e também o pré carnaval de Floripa no dia do desfile do Berbigão do Boca.

Logroño é uma capital de província, jantamos no centro da cidade e retornamos ao albergue onde ficamos de papo com um bombeiro espanhol, disse que estava fazendo o caminho pela quarta vez, e desta vez tinha saído de sua cidade natal e já computava 1.800 km pedalados. Eram 22:00 quando soou a sirene avisando que as luzes se apagariam, chegava a hora de se recolher no saco de dormir.

RESUMO DO DESAFIO

Distância percorrida no dia : 77 km

Velocidade média no dia : 14,3 km/h

Inicio e final do pedal : 08:00 - 17:30.

Distância acumulada desde o 1º dia : 190 km

MEDITAÇÃO DO DIA

Santa Mãe Maria, nessa travessia cubra-nos teu manto cor de anil, guarda nossa vida, Mãe Aparecida, Santa padroeira do Brasil....

Vânio Savi (Mano)