4 - Quarto Dia

QUARTA FEIRA 30/11/16

Com as bikes lavadas no dia anterior, lubrificamos as correntes e partimos às 07:30 em direção à Paraisópolis com sol encoberto, vento frio e contra. A menos de 6 km de pedal passamos pela dupla de peregrinos, que havia iniciado a caminhada cedinho.

Pedal para cima, pedal para baixo, vento contra, estrada de barro e nós firmes no caminho. O par de tênis da Terezinha viajava amarrado sobre a minha bagagem para secar. Num dos poucos trechos planos, quando fui olhar para trás na intenção de verificar se o tênis e o resto da carga estavam OK, distraidamente me desgovernei. A bike foi em direção a cerca de arame farpado. Não deu outra, inevitável a queda. O pequeno barranco e as toiças de capim seguraram a bike, e Nossa Senhora me segurou.

Levantei, dei um tempinho, olhei para o joelho esquerdo, limpei o barro e não vi nada de vermelho escorrendo. Olhei para o cotovelo, também nada de vermelho escorrendo, então montei na bike e continuei na labuta até Paraisópolis. Continuamos no pedal e para nossa surpresa de repente demos de cara com um obelisco colorido onde a placa informava que estávamos de volta ao estado de São Paulo, no município de São Bento do Sapucaí. Desde Andradas estávamos pedalando no interior do estado de Minas Gerais.

Numa subida encontramos o Marcos, peregrino solitário de Campinas, que caminhava de chinelos devido aos pés estarem cheios de bolhas. Ele caminhando e nós empurrando bike morro acima, fomos conversando sobre o misticismo do caminho. Na primeira oportunidade voltamos ao pedal até o bairro Canta Galo, onde paramos para o lanche e carimbar a Credencial do Peregrino.

Tocamos em frente e passamos por Luminosa, que pertence ao município de Brazópolis novamente em Minas Gerais, desta vez paramos apenas para fotos e carimbar a credencial do peregrino na Pousada Nossa Senhora das Candeias, pois sabíamos que o pior trecho nos esperava, era a Serra da Luminosa, que dá acesso ao município de Campos do Jordão, no estado de São Paulo.

Não bastassem as estradas ruins, o vento soprava mais frio e ainda contra, mas a paisagem exuberante da Serra da Mantiqueira nos alentava, e nos obrigava a paradas para fotos e consequentemente pequenos descansos. Aproximadamente 4 km após Luminosa, ainda no pé da serra chegamos na Pousada da Dona Inês, onde fomos muito bem recebidos, por essa criatura humilde e bondosa, que nos ofereceu água e banana diretamente do cacho que estava pendurado na varanda. Ela nos alertou que ainda tinha um bom trecho de serra acima. Este trecho foi o pior do caminho, se anda por propriedades particulares, abre-se e fecha-se porteiras por estradas sem conservação, nem 4x4 consegue percorrer todo o caminho, principalmente a partir da placa que indica “Curva do Limim”. Ali só a pé, a cavalo ou empurrando bike.

Nesse dia em mais de 50 anos de pedal, pela primeira vez fui à exaustão. Achei que não chegaria a Campista. Numa das subidas larguei a bike na beira da estrada deitei-me de costas e de cabeça para baixo para recompor as energias. Para ajudar, a Terezinha providenciou uns tabletes de doce de leite com coco da “Portão do Cambuí” que havia comprado pelo caminho. Recuperado do cansaço, voltamos ao pedal. No topo desse morro, graças de Deus surgiu uma descida, e foi um alívio no esforço, mas em contrapartida veio um nevoeiro espesso e frio, limitando a visibilidade. Esfriou muito neste trecho que até ficamos com as mãos encarangadas e o corpo gelado.

Passava das 18:00 quando chegamos a Campista, mais precisamente na Pousada da Rose. Ao chegarmos fomos recepcionados pelo Áureo e o Lucas que entre fortes e emocionados abraços diziam que não acreditavam que nós chegaríamos até ali naquele dia. Tinham certeza que nós pernoitaríamos na Pousada da Dona Inês, que fica no pé da Serra da Luminosa.

Nesse dia percorremos 68 km, numa média de 9,3 km/h.