Estação Oito

Hoje 01/06/12, acordamos dentro das características dos albergues públicos, tomamos café e partimos para o pedal numa manhã de temperatura agradável.

BIKE TANDEM DOS FRANCESES QUE LEVAVAM DUAS CRIANÇAS

Continuamos na nossa atividade cardiovascular e exercícios aeróbicos sem pagar academia e por tabela torneando a panturrilha saindo de Hospital de Órbigo, com o sol surgindo envergonhado entre as nuvens e passamos entre outros, pelos vilarejos de Villares de Órbigo, Santibañez de Valdeiglesias, San Justo de La Veja e chegamos a Astorga, que se parece a um museu ao ar livre com ruínas romanas, e suas construções em estilo. Ali ficamos por quase uma hora visitando a cidade.

Vista da cidade Astorga, (um museu ao ar livre)

CASTELO DO GAUDI- EM LEON

Continuamos no pedal optando por Murias de Rechivaldo, Castrillo de Polvazares e Santa Catalina de Somoza, onde tivemos a felicidade de conversar na entrada do povoado, com um senhor chamado Benvindo. No bate papo ele nos contou que o Paulo Coelho hospedou se em sua casa e encaminhou uma copia do livro especialmente para a família Contou com muito orgulho tudo o que sabe sobre o caminho e nos informou onde era sua casa na saída do povoado. É uma casa rústica, tal qual a grande maioria das casas do caminho, porém um tanto o quanto mística, com uns cajados e outras lembranças à venda.

Casa do Sr Benvindo em Santa Catalina de Somoza

Ainda em Santa Catalina de Somoza, encontramos uns 30 ciclistas de Barcelona, todos uniformizados que faziam o caminho, mas não carregavam alforjes pois tinham um carro de apoio. Um deles é corretor imobiliário tem uma especie de ”join venture” com uma imobiliária de Floripa e é proprietário de um apartamento na Avenida Beira Mar.

Tocamos em frente e passamos por Rabanal del Camino, Foncebadón, um pueblo em ruínas semi abandonado mas tem albergue e bares, pois é um ponto estratégico devido ao cansaço das subidas, está a pouca distancia da misteriosa Cruz de Hierro. Muita gente hospeda se ali Estávamos descansando deitados na grama sob umas árvores quando passou um jovem padre alemão com trajes clericais, com o terço nas mãos juntamente com seus seguidores, rezando em voz alta sob um sol escaldante.

Foncebadon, pueblo semi abandonado, mas possui dois albergues

Continuamos a subida até a Cruz de Hierro, local que costumeiramente os peregrinos deixam uma pedra de seu país de origem Deixei uma pedra de carvão mineral, que trouxe da minha terra, Siderópolis, a qual havia pego na mina que tem na estrada de Treviso, num belo dia que fui visitar minha mãe. Ali estavam novamente o grupo de alemães que se dirigiam ao ônibus que os aguardava um pouco mais adiante. Quando retornei ao pedal uma senhora falou algo que não entendi, mas pelo gesto percebi que estava sem luva, ela havia caído. Voltei peguei-a e vesti-a, pois havia tirado para fotografar a Cruz de Hierro. Ao passar pelo pessoal cumprimentei-os com um “alles gute”.

Deixando o carvão mineral na Cruz de Hierro (ferro)

Na Cruz de Hierro o tempo fechou. Minha intenção não era voltar para Foncebadom porque o local não era aprazível e, se desabasse as nuvens que repentinamente vieram trazidas pelo vento ao pico da montanha, tive a sensação que ficaríamos ilhados naquele povoado fantasma. Decidimos por continuar no pedal. Deixamos as capas de chuva em condição de fácil acesso e mondamos-nos morro abaixo. Foram 17 km freando devido a descida íngreme. O ônibus dos alemães não passava dos 30 km/h, tanto que o ultrapassamos na retomada de uma curva. Fomos muito afoitos nesse trecho, quando paramos me dei conta do risco que passamos, pensei num eventual furo de pneu naquela velocidade com montanha de um lado e precipício do outro. Foi um rompante devido as condições do tempo.

Passamos por Manjarin, El Acebo, Riego de Ambrós e Molinaseca. Nesse povoado que por ironia do destino tem o nome de Molinaseca, começou a chover. Então paramos no primeiro albergue, conscientes que a programação não seria mais cumprida a risca. Ali encontramos um casal de brasileiros que coincidentemente eu já havia falado com eles via e-mail, pois vi na programação dos Amigos do Caminho de Santiago do Rio de Janeiro que eles fariam o caminho uns dias antes da gente, era o Gabriel e a Marília.

Nos falaram que quando chegaram em Saint Jean Pied de Port perceberam que tinha esquecido no Brasil o parafuso de fixação da gancheira, portanto não daria de montar o câmbio de uma bike. Tiveram que esperar o outro dia para comprar o parafuso.

Falaram também que no dia da largada em Saint Jean Pied de Port, no meio dos Pirineus a temperatura baixou muito, choveu bastante com vento forte, então os carros de apoio públicos foram recolher os peregrinos no meio da montanha. A Marília foi para Roncesvalhes e ele ficou em Valcarlos. Dia seguinte ele pedalou até Roncesvalles pela carreteira, onde encontrou a esposa para continuarem o pedal. Escapamos dessas condições climáticas adversas por dois dias.

A fúria mor de Zeus deu uma trégua então fomos dar um giro pelo povoado, tomar um chopp, e voltamos para jantar no albergue onde ficamos de papo com o pessoal até a hora de se recolher no saco de dormir.

RESUMO DO DESAFIO

Distância percorrida no dia : 67 km

Velocidade média no dia : 14,1 km/h

Inicio e final do pedal : 08:00 - 17:00

Distância acumulada desde o 1º dia : 617 km

MEDITAÇÃO DO DIA

Maria, Minha Mãe, Maria, queria te falar de amor, mostrar que em meu peito aberto, cultivo um jardim em flor, cultivo um jardim de rosas, que não têm espinhos pra Te machucar, cultivo um jardim tão lindo, rosas perfumadas, pra Te ofertar....

Vânio Savi (Mano)

Cruz de Hierro