Bem-Aventurados os Pobres de Espírito

“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” (São Mateus, V: 3).

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Os Pobres de Espírito. 4. Simplicidade de Coração. 5. Mistérios Ocultos aos Sábios. 5. Missão do Homem Inteligente. 6. A Lei do Trabalho. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 

1. INTRODUÇÃO 

O objetivo deste estudo é analisar, segundo a ótica espírita,  os "pobres de espírito", a primeira bem-aventurança do Sermão do Monte, no sentido de captar a real mensagem que Jesus dirigiu aos seus seguidores. 

2. CONCEITO 

Sermão do Monte - Também chamado Sermão da Montanha ou Sermão das Bem-Aventuranças, foi pronunciado por Jesus na fralda de um de um monte, em Cafarnaum, dirigindo-se a todas as pessoas que o seguiam. Nele Jesus faz uma síntese das leis morais que regem a humanidade (Vários Autores, 2000). 

Bem-Aventurança - Termo técnico para indicar uma forma literária que se encontra quer no Antigo quer no Novo Testamento. A Bem-Aventurança é uma declaração de bênção com base em uma virtude ou na boa sorte. A fórmula se inicia com "bem-aventurado aquele..." Com Jesus toma a forma de um paradoxo: a bem-aventurança não é proclamada em virtude de uma boa sorte, mas exatamente em virtude de uma má sorte: pobreza, fome, dor, perseguição (Mackenzie, 1984). 

Pobreza  -  Do lat. paupertas - significa falta do  necessário  à vida. Confunde-se,  em geral, com miséria, em que há falta até  do essencial.  Na pobreza, há carência do  relativamente  supérfluo. Diz-se  relativamente  porque  a pobreza em um  estado  pode  ser miséria  em  outro,  e  o que é supérfluo a uns  pode  ser  já  o necessário para outro (Santos, 1965). 

Pobres de Espírito - O sentido de "pobres de espírito" ou  "pobres  em espírito" é muito discutido. Não significa desapego, mas  refere-se às classes humildes, cujo espírito é oprimido pela necessidade e pelo abatimento. Ela substitui à maldição da pobreza e a bem-aventurança consiste no reino do céu, que excede toda riqueza. O termo não significa que somente os pobres entram no reino dos céus, mas também os pobres (Mackenzie, 1984). 

3. OS POBRES DE ESPÍRITO 

Por pobres de espírito Jesus não entende os homens desprovidos de inteligência, mas os humildes: ele disse que o reino dos céus é deles e não dos orgulhosos. Os homens de ciência, compenetrados de si mesmos, elevam-se de tal maneira que acabam por negar a divindade; e os que admit.-na, contestam-lhe a ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que só eles bastam para governá-lo. A negação divindade é muito mais fruto do orgulho do que da convicção: isto poderia fazê-los descer do pedestal em que se encontram.

"Em dizendo que o reino dos céus é para os simples, Jesus quer dizer que ninguém é nele admitido sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que crê mais em si do que em Deus" (Kardec, 1984, cap. 7, it. 2, p. 101 e 102) 

 4. SIMPLICIDADE DE CORAÇÃO 

"Nesse mesmo tempo, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe disseram: Quem é o maior no reino dos céus? Jesus, tendo chamado uma criança, colocou-a no meio deles e lhes disse: eu vos digo em verdade que se não vos converterdes, e se não vos tornardes crianças, não entrareis no reinos dos céus. Todo aquele, pois, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus, e todo aquele que recebem em meu nome uma criança, tal como acabo de dizer é a mim que recebe". (Mateus, 18, 1 a 5)

O símbolo da criança diz respeito àquele que não tem nenhuma pretensão de superioridade e de infalibilidade. Quando se compara a simplicidade de coração à criança,  é porque esta, sem defesas pessoais, não age com segundas intenções. Esse mesmo pensamento fundamental encontra-se nessa outra máxima: "Todo aquele que se rebaixa será elevado, e todo aquele que se eleva será rebaixado".  É uma dura lição para os orgulhosos, que pensam ser os donos da verdade e do mundo, fazendo e desfazendo ao seu belo prazer. (Kardec, 1984, cap. 7, it. 3 a 6, p. 102 a 104) 

5. MISTÉRIOS OCULTOS AOS SÁBIOS 

"Então Jesus disse essas palavras: Eu vos rendo glória, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haverdes ocultado essas coisas aos sábios e aos prudentes, e por as haver revelado aos simples e aos pequenos" (Mateus, 11, 25).

Nessa passagem Jesus está querendo realçar a importância da humildade. Quer dizer, aquele que se humilha diante do Deus descobre as coisas da alma; quem se orgulha, dificulta esse conhecimento superior.

"O poder de Deus brilha nas pequenas como nas grandes coisas; ele não coloca a luz sob o alqueire, uma vez que a derrama com abundância por toda parte; cegos, pois, aqueles que não a vêem. Deus não quer lhes abrir os olhos à força, uma vez que lhes apraz tê-los fechados. Sua vez virá, mas é preciso primeiro que sintam as angústias das trevas e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que atinge o seu orgulho" (Kardec, 1984, cap. 7, it. 9, p. 105). 

6. MISSÃO DO HOMEM INTELIGENTE 

Não nos orgulhemos do que sabemos. Se Deus, nos seus desígnios, nos fez nascer num meio onde pudéssemos desenvolver a inteligência, é porque Ele quer ajudemos as inteligências retardatárias.

"A inteligência é rica de méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada; se todos os homens dotados, se servissem dela segundo os desígnios de Deus, a tarefa dos Espíritos seria fácil para fazer a Humanidade avançar; infelizmente, muitos fazem dela um instrumento de orgulho e perdição para si mesmos. O homem abusa da inteligência como de todas as outras faculdades e, entretanto, não lhe faltam lições para adverti-lo de que uma poderosa mão pode lhe retirar aquilo que ela mesma lhe deu" (Kardec, 1984, cap. 7, it. 13, p. 111 e 112). 

7. A LEI DO TRABALHO 

Na Antigüidade o trabalho era considerado uma punição. O pobre deveria trabalhar enquanto as classes políticas e religiosas usufruíam da sua produção. Era contra esse falso conceito de trabalho que Jesus pregava, ou seja, contra essa idéia que o apresenta como castigo, punição, exaltando a contemplação.

"Bem-Aventurados os pobres de espírito, os deserdados da sorte, porque compelidos ao trabalho. Enquanto vós, aproveitadores de toda a espécie, estais a regalar-vos com os produtos dos humildes, estes estão a desenvolver em si a inteligência, a capacidade de subsistir; estão aprendendo a dominar a natureza e a própria inferioridade; a conhecer os meios de obter riquezas, de dominar a arte, a ciência, as forças que têm dentro de si e que os fará crescer na eternidade" (Curti, 1982, p. 26). 

8. CONCLUSÃO 

Humilhemo-nos diante de Deus. Por pior que seja a nossa situação, mantenhamos acesa a luz da esperança, a fim de que possamos trilhar o verdadeiro caminho de nossa evolução espiritual.  

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

CURTI, R. Bem-Aventuranças e Parábolas. São Paulo, FEESP, 1982.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São Paulo, IDE, 1984.

MACKENZIE,  J. L. (S. J.) Dicionário  Bíblico.  São  Paulo, Edições Paulinas, 1984.

SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.